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Prisão de Ribeiro é obstáculo para Bolsonaro na corrida presidencial

Cientistas políticos avaliam que episódio impacta significativamente a imagem do governo

Prisão de Ribeiro é obstáculo para Bolsonaro na corrida presidencial
Jair Bolsonaro aponta para Milton Ribeiro (Cláudio Reis/Estadão Conteúdo)
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A prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro por suspeita de crimes de tráfico de influência e corrupção, na liberação -- intermediada por um "gabinete paralelo" -- de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), não tem efeito relevante na imagem do governo para a parcela do eleitorado mais bolsonarista, estimada em cerca de 20% do total, mas a impacta significativamente para o grupo de eleitores de perfil antipetista (fora do núcleo duro de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro), dificultando, assim, a trajetória do chefe do Executivo federal na corrida presidencial. É o que avaliam especialistas consultados pelo SBT News.

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De acordo com a doutora em ciência política e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Mayra Goulart, a prisão possui "impacto muito significativo na capacidade que o bolsonarismo tem de conquistar maioria". Isso porque, explica, o principal destinatário dos discursos de Bolsonaro é um grupo "muito aguerrido" de apoiadores, que possuem uma "orientação ideológica radical" e bastante afetados por seus discursos sexistas e/ou contra as instituições, por exemplo, mas, "como todo extremismo, têm um perfil minoritário".

Nas palavras de Mayra, "o Bolsonaro ganhou [o pleito de 2018] e pode ganhar a eleição, assim como outros populistas de direita no mundo, porque ele tem um elemento aglutinador de segmentos não radicalizados que é o medo da esquerda". "No caso do Brasil, é o antipetismo. O antipetismo funciona como preditor do voto, ou seja, como elemento que ajuda a dar sentido para os votos e o comportamento político do eleitorado desde 1989, ficando mais forte a partir de 2003 e, sobretudo, depois dos escândalos do Mensalão em 2006, escândalos de corrupção. Isso foi utilizado por aqueles que são detratores da esquerda para tentar associar a imagem da esquerda à ideia de corrupção. A imagem do PT à ideia. Desde o mensalão esse trabalho vem sendo feito".

Dessa forma, segundo a especialista, quando Milton Ribeiro, um ministro escolhido por Bolsonaro e que possui relação com a sua base nas lideranças evangélicas, é atingido por um escândalo de corrupção, há um enfraquecimento da ideia desta que "servia como um elemento aglutinador de pessoas" de fora do destinatário central dos discursos do presidente, que poderiam votar nele "pelo medo da esquerda, pelo medo do PT, pelo antipetismo e, agora, quando vê a corrupção estando dos dois lados, perde o sentido fazer esse voto negativo, anticorrupção, optando pelo Jair Bolsonaro".

O doutor em ciência política Julian Borba, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), faz uma análise similar à de Mayra. Conforme o especialista, a prisão de Milton Ribeiro "tem, para uma parcela do eleitorado, um efeito importante, particularmente aquele eleitorado não fortemente identificado com o bolsonarismo, aquele eleitor que de alguma maneira avaliava o governo de maneira razoável, tem um perfil de ser antipetista, e aí nessa avaliação razoável entra a questão de uma forte carga da construção do discurso de ser um governo que não foi afetado por escândalos de corrupção".

Para Julian, no caso desse eleitor, a prisão pode influenciar as escolhas e a avaliação do Governo Federal. Os eleitores mais bolsonaristas, por outro lado, explica o professor da UFSC, podem ser pouco afetados pelo ocorrido. Mayra se refere a estes como os "bolsonaristas raiz". Essas pessoas, afirma ela, mesmo com Bolsonaro reconhecendo haver "fundo de verdade" no caso, o classificarão como fake news ou encontrarão outra maneira de enquadrá-lo "numa moldura racional ou de explicações justificáveis para que isso não afete o presidente". Mais cedo, nesta 4ª feira, o chefe do Executivo federal disse que a prisão mostra não haver interferência por parte do governo na Polícia Federal e que, se o ex-ministro for culpado, ele vai pagar.

Segundo o doutor em ciência política e professor do departamento de ciência política da UFMG Lucas Rezende, "é evidente" que o ocorrido com Milton Ribeiro nesta 4ª configura um "impacto negativo" na imagem do governo, "porque o Bolsonaro disse e reafirmou que colocava a cara no fogo pelo Ribeiro e agora está jogando ele sozinho aos leões". A fala do presidente à qual se refere foi proferida em 24 de março, em sua live semanal. 

A prisão, nas palavras de Rezende, é "sinal de que o governo Bolsonaro é um governo desestruturado e que é um governo onde existe, sim, a corrupção e ela está muito aprofundada". "E inclusive com proximidade muito forte ao próprio presidente da República. Lembremos que a crise que levou à queda do Ribeiro foi justamente em uma gravação em que ele implicava, sim, diretamente o presidente da República nas solicitações indevidas que estavam sendo conduzidas no Ministério da Educação".

Em áudio divulgado em março deste ano, Ribeiro dizia que uma de suas prioridades era atender municípios amigos do pastor Gilmar Santos, por causa de pedido especial feito a ele por Bolsonaro. Para Rezende, no passado, o caso geraria "uma crise bastante forte". "Agora, no atual contexto que a gente vive, eu acho que dificilmente isso vai abalar os seguidores mais ideológicos, que acompanham o presidente. Pode fazer algum impacto na visão do mercado com relação ao presidente, mas isso tudo vai depender do tipo de articulação que Lula e Alckmin farão em seu lugar", completa. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o primeiro colocado nas pesquisas de intenção de voto para presidente da República.

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