Programa da chapa de Lula divide opiniões de empresários e economistas
De olho nos partidos e eleitores mais ao centro, chapa ameniza o tom sobre a reforma trabalhista
Falar do programa de diretrizes da chapa Lula/Alckmin para a disputa da Presidência, está todo mundo falando. Mas pouca gente em público. O lançamento das propostas aconteceu nesta 3ª feira (21.jun), em São Paulo, e teve pitadas de puro suco da política nacional. Presenças dos dois principais nomes da chapa, de caciques dos sete partidos que formam a aliança Juntos Pelo Brasil e até de "penetras". O vereador Eduardo Suplicy, que interrompeu o discurso de Aloizio Mercadante, coordenador do programa de Lula, revelou em alto e bom som que não foi convidado para a apresentação. Mesmo assim, ele, que é petista histórico, não deixou de reclamar que o programa de renda mínima, de autoria dele, não foi incluído entre as 121 propostas reunidas no documento.
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Mas a invasão pra valer ficou por conta de um apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL), que entrou no salão do hotel onde acontecia o lançamento para chamar Lula de "corrupto". Ele foi retirado do local pelos seguranças do PT.
Propostas
Ao comentar o conteúdo das propostas para a economia, embate de ideias. E de posturas. Os críticos das diretrizes reúnem empresários, economistas e analistas financeiros. Eles concordam em apresentar suas observações sem terem seus nomes revelados. Um dirigente de importante entidade empresarial aponta, de saída, o que chama de "arrogância" da chapa, por divulgar propostas como se "tivesse a certeza de que vai ganhar a eleição". Um dos formuladores das propostas, o economista Antonio Correa de Lacerda, argumenta que é exatamente o contrário: "Esse empresário deve estar acostumado a delegar a economia para um posto de combustíveis. É tudo transparente, aberto ao debate. É democracia e programa de governo que, se for vencedor, será implementado", diz ele.
Entre os empresários, outra observação em tom ácido diz respeito aos impostos. "Vão acabar aumentando a carga tributária. Não queremos mais impostos nem comissão de fábrica na porta das empresas", alfineta um representante da indústria. Na mira, a mexida na reforma trabalhista que a aliança de partidos chegou a falar em revogar. E que agora reaparece sob o termo "revisão". Ainda assim, o industrial reclama : "Isto não é mais o Brasil real. Estão propondo uma regressão para os anos 1940", completa ele, relembrando que a Legislação Trabalhista Brasileira, anteriormente em vigor, teve origem em 1943. "Quanto à reforma trabalhista, propomos uma revisão. A reforma que foi feita não gerou emprego e deixou descobertos milhões de trabalhadores. Tem que ser tripartite, com governo, empresários e trabalhadores discutindo", avalia Lacerda.
Teto de gastos
Outro ponto questionado é a proposta de revogação do teto de gastos. Aloizio Mercadante avalia que o teto "praticamente não foi cumprido ao longo de sua existência, e está desacreditado, não tem credibilidade". São necessárias, nas palavras de Mercadante, "regras que tenham credibilidade, que deem sustentabilidade fiscal e deem previsibilidade". "Nós vamos apresentar uma proposta alternativa [ao teto] com essa preocupação. Agora, nós temos que ter espaço para políticas anticíclicas. Em um quadro de recessão, se você não tiver um investimento público para retomar o investimento privado, para alavancar o investimento privado, você não retoma o crescimento".
Tamanho do Estado
"O governo, o Estado, têm que ficar mais baratos", reclama um dirigente empresarial, também sob sigilo. Neste ponto, há um acordo entre as visões. O economista Antonio Lacerda é quem percebe a convergência: "Em algumas áreas o Estado está realmente inchado, mas em outras é carente. Sim, é necessária profunda reforma do Estado. Mas, ao mesmo tempo, para nós, tem que ser mais pró-ativo na política social, na regulação, nas políticas públicas", diz ele. Ainda assim, a visão dos políticos não escapa da crítica dos economistas e empresários. "A política ali é um ideário que não evoluiu", comenta o presidente de uma entidade industrial. E mais. Ele diz não acreditar que Lula, se eleito presidente, vá levar adiante literalmente algumas das propostas relacionadas entre as diretrizes. "Ele não vai ficar seguindo isso, eu duvido. Ele vai vir com alguma coisa diferente. Ele sabe o que é o governo. Tem proposta ali que cheira a naftalina. Que cheira a Venezuela", sentencia.
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