Bolsonaro deve ser pressionado na Cúpula do Clima apesar de novo tom
Presidente adotou postura conciliadora em carta a Biden, mas ambiente no evento tende a ser duro
Bolsonaro já deu indicativos de que deve recuar em sua retórica e propor a cooperação internacional em prol do meio ambiente, sobretudo da Amazônia. Na última 5ª feira (15.abr), o presidente enviou uma carta a Biden para agradecer o convite à Cúpula e confirmar sua participação no evento. No documento, o brasileiro se compromete a eliminar o desmatamento ilegal no país até 2030.
"Alcançar essa meta, entretanto, exigirá recursos vultuosos e políticas públicas abrangentes, cuja magnitude obriga-nos a querer contar com todo o apoio possível, tanto da comunidade internacional, quanto de governos, setor privado, da sociedade civil e de todos os que comungam desse nobre objetivo", afirma. Sem citar nomes, Bolsonaro diz na carta que o desmatamento na Amazônia começou a se intensificar em 2012, ano em que Dilma Rousseff presidia o Brasil. "Reconheço, por exemplo, que temos diante de nós um desafio de monta, com o aumento das taxas de desmatamento na Amazônia, que se vem verificando desde 2012."
No entanto, dados do Projeto Monitoramento do Desmatamento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram um cenário diferente do exposto na carta. Entre 2011 e 2012, o desmatamento da Amazônia Legal caiu de 6.418 kilômetros quadrados para 4.571 kilômetros quadrados. De lá para cá, o índice teve oscilações e alcançou 11.088 kilomêtros quadrados, maior patamar registrado nos últimos 12 anos.
Confira a íntegra da carta:
Carta Biden 14abr21 by MArcela Gracie on Scribd
Pressão
Apesar do recuo e do tom apaziguador de Bolsonaro, o ambiente na Cúpula não deve ser amigável ao líder brasileiro. Na 6ª feira (16.abr), o enviado especial dos Estados Unidos para questões climáticas, John Kerry, disse esperar que o presidente tenha ações imediatas no combate ao desmatamento ilegal no Brasil.
"Presidente @jairbolsonaro, o compromisso com a eliminação do desmatamento ilegal é importante. Nós esperamos ações imediatas e engajamento com as populações indígenas e a sociedade civil para que este anúncio possa gerar resultados tangíveis", escreveu.
President @jairbolsonaro?s recommitment to eliminating illegal deforestation is important. We look forward to immediate actions and engagement with indigenous populations and civil society so this announcement can deliver tangible results.
? Special Presidential Envoy John Kerry (@ClimateEnvoy) April 16, 2021
Em outra ação, 15 senadores norte-americanos enviaram uma carta a Joe Biden pedindo que o presidente dos EUA condicione apoio ao Brasil a resultados concretos na preservação ambiental. O documento foi divulgado pela ONG Human Rights Watch, cujas pesquisas são citadas pelos senadores.
Importante: 15 senadores influentes dos EUA pediram ao Presidente Biden @POTUS que condicione apoio ao Brasil para proteção ambiental a resultados concretos. Citam pesquisas da @hrw_brasil que mostram as consequências desastrosas das políticas de @jairbolsonaro na Amazônia. Veja: pic.twitter.com/uBmOnvJ0LR
? HRW Brasil (@hrw_brasil) April 16, 2021
Salles
Em meio à pressão internacional, Bolsonaro ainda viu, na semana passada, seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, ser alvo de uma notícia-crime da Polícia Federal por atrapalhar medidas de fiscalização ambientais durante a Operação Handroanthus, que resultou na apreensão de aproximadamente 200 mil metros cúbicos de madeira extraída ilegalmente por organizações criminosas.
O documento foi encaminhado ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, pelo então superintendente da PF no Amazonas, Alexandre Saraiva. Na epígrafe, Saraiva usou trechos da música Bola de meia, bola de gude, de Milton Nascimento e Fernando Brant, que dizem: "Não posso aceitar sossegado qualquer sacanagem ser coisa normal". Um dia após apresentar a notícia-crime, o superintendente foi afastado do cargo.