Publicidade

"O Brasil está de volta": entenda significado e contexto da fala de Lula na ONU

Com agenda de reuniões intensa, presidente já viajou para mais de 20 países em nove meses de mandato

"O Brasil está de volta": entenda significado e contexto da fala de Lula na ONU
| Ricardo Stuckert/PR
Publicidade

Na última 3ª feira (19.set), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) esteve em Nova York (EUA) para participar da 78ª Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas). Ao abrir o evento, o petista discursou sobre fome, desigualdade, crises mundiais e desenvolvimento sustentável. Lula ainda criticou o neoliberalismo, os conflitos armados e o embargo econômico a Cuba.

+ Leia as últimas notícias no portal SBT News

Lula falou durante 21 minutos para uma plateia composta por presidentes, primeiros-ministros, ministros de Estado, diplomatas, parlamentares e outros integrantes das delegações das nações presentes. Muitas frases do discurso de Lula chamaram atenção dos espectadores. Não à toa, o brasileiro foi aplaudido sete vezes. 

Em uma declaração voltada tanto para o público interno quanto externo, uma afirmação serviu para ambas as audiências: "o Brasil está de volta". Mas, o que Lula quis dizer com isso? 

Presidente brasileiro foi aplaudido sete vezes durante discurso na ONU, em Nova York (EUA) | Ricardo Stucker/PR

Contexto

Antônio Jorge Ramalho, professor de Relações Internacionais da UnB (Universidade de Brasília), explica que nos últimos anos "a imagem do Brasil nunca esteve tão negativa". Isso porque a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) agiu de "maneira inconsequente, desprovida de claro sentido de direção". 

Rodrigo Amaral, professor de Relações Internacionais da PUC-SP, acrescenta que antes de Bolsonaro o Brasil era visto no sistema internacional como um "ator equilibrado". Como exemplificação, Amaral cita as declarações de Bolsonaro que confrontava "as indicações da Organização Mundial da Saúde (OMS) em um cenário de pandemia da Covid-19".

Temas como socialismo e religião já foram assuntos de discursos de Bolsonaro na ONU | Alan Santos/PR

Como o Brasil era visto antes

Apesar da imagem negativa do Brasil nos últimos anos, nem sempre o país foi visto como pária. Na verdade, o Brasil trabalhava na consolidação de sua relevância internacional. Amaral afirma que a fundação do BRICS em 2014 é resultado disso. Além das ações de diplomacia presidencial exercidas pelos primeiros governos de Lula.

O termo utilizado por Amaral, refere-se a uma política em que o presidente tem uma participação ativa e efetiva na execução da política externa. Foi a partir desse posicionamento que "as gestões anteriores de Lula deixaram saldo positivo", declara Ramalho. "Sua política externa foi pragmática e deu continuidade a boas diretrizes que vinham do passado, especialmente no que concerne a promover o desenvolvimento socioeconômico do país", finaliza.

Ramalho acrescenta que o ceticismo com que parte da comunidade internacional trata o Brasil, decorre, inclusive, de expectativas frustradas, visto que o país foi tratado com muito entusiasmo devido as recentes ações externas. "A maior parte, contudo, credite-se às omissões dos governos Dilma e Temer e aos despropósitos da gestão Bolsonaro", explica.

Dilma Rousseff, em 2015, afirmou durante discurso na ONU que o Brasil passava por um momento de transição | Roberto Stuckert Filho/PR

Recuperação de imagem

A atual gestão tenta primeiro trabalhar na recuperação da imagem brasileira, argumentam os especialistas, mesmo que isso leve tempo. "O Brasil precisará de décadas para reconquistar credibilidade e votos de confiança de seus interlocutores", acredita o professor da UnB.

Por isso, é tão importante que os dirigentes do Brasil tenha planos bem traçados de ações e declarações ao cenário internacional. Uma vez que "cada deslize é imediatamente explorado por atores que enxergam nisso alguma oportunidade de promover seus interesses", afirma Ramalho.

O governo brasileiro, inclusive, já cometeu descuidos. Como quando Lula igualou as responsabilidades de Rússia e Ucrânia na guerra entre os países, relativizou o conceito de democracia ao falar da Venezuela e questionou o porquê do Brasil ser signatário do Tribunal Penal Internacional (TPI).

Rodrigo Amaral, no entanto, abre o debate para outro caminho: essas ações vistas como "deslizes", são deslizes para quem? Para o professor, as falas tidas como polêmicas sobre a Venezuela e Cuba, por exemplo, estão relacionadas ao que se espera por parte de "uma mídia tradicional liberal". "Acho que quando o Lula coloca esses países num patamar de importância, ele está, na verdade, valorizando um princípio que é liberal das relações internacionais que é o da soberania e da autodeterminação", explica.

Amaral instiga o porquê de se falar da violência civil e política desses países, mas não cobrar na mesma medida as questões acerca da Arábia Saudita e de Israel que, na visão do professor, são "protegidos dos Estados Unidos".

Afinal de contas, "o Brasil está de volta?"

Para ambos os professores a resposta é: sim, ou pelo menos está se encaminhando para tal posição. Mas, qual é a vantagem disso?

Rodrigo Amaral explica que essa notoriedade traz respeito internacional e o poder de potencializar novos acordos bilaterais. Além de estruturar uma redefinição do poder internacional, como outros países, como a China, têm feito.

E as desvantagens?

Na perspectiva do professor da PUC-SP, poucas são as desvantagens. Na verdade, o que há é uma maior pressão, cobrança e olhar sob o Brasil. "Acho que a desvantagem é essa: quando você é muito participativo, você também é cobrado por essa participação e pelas suas falas".

+ Brasil já tentou limitar juros e preços da economia sem sucesso

Publicidade
Publicidade

Assuntos relacionados

mundo
governo
portalnews
sbtnews
politica
relações internacionais
lula
onu
discurso
contexto
significado
politica externa
maria-ferreira-dos-santos
noticias
sbt news
portal news

Últimas notícias

+Milionária sorteia prêmio de R$ 185 milhões nesta quarta-feira (15)

+Milionária sorteia prêmio de R$ 185 milhões nesta quarta-feira (15)

Apostas podem ser feitas até as 19h em casas lotéricas ou pela internet
TSE multa Zema por publicidade institucional nas eleições de 2022

TSE multa Zema por publicidade institucional nas eleições de 2022

Corte rejeitou acusação de abuso de poder político e estipulou punição no valor de R$ 5 mil
Bancos liberam quarto lote do PIS/Pasep; veja quem recebe

Bancos liberam quarto lote do PIS/Pasep; veja quem recebe

Mais de R$ 4,4 bilhões serão distribuídos para trabalhadores de iniciativa privada e servidores públicos este mês
Saiba quem é Magda Chambriard, nova presidente da Petrobras

Saiba quem é Magda Chambriard, nova presidente da Petrobras

Engenheira civil substituirá Jean Paul Prates no comando da petroleira
Após impasse, Biden estudar enviar US$ 1 bilhão em armas para Israel

Após impasse, Biden estudar enviar US$ 1 bilhão em armas para Israel

Países vêm se desentendendo devido à ofensiva israelense em Rafah, na Faixa de Gaza
SBT News na TV: risco de desabamento de usina força evacuação de moradores no RS

SBT News na TV: risco de desabamento de usina força evacuação de moradores no RS

Confira o que foi notícia ao longo do dia e os assuntos que serão destaque nesta quarta-feira (15); assista!
Anac determina suspensão da venda de passagens aéreas para Porto Alegre

Anac determina suspensão da venda de passagens aéreas para Porto Alegre

Aeroporto Salgado Filho está inoperante desde o início de maio devido às enchentes
PRF apreende mais de meia tonelada de maconha a 80km das enchentes no RS

PRF apreende mais de meia tonelada de maconha a 80km das enchentes no RS

Apreensão realizada no município de Osório contou com policiais que trabalham no resgate de vítimas das inundações
Toffoli encerra ação que pedia a prisão de Alexandre de Moraes

Toffoli encerra ação que pedia a prisão de Alexandre de Moraes

Queixa-crime atribuía ao ministro responsabilidade pela morte, dentro de um presídio em Brasília, de um dos manifestantes do 8 de janeiro
Agiotas ligados ao PCC ofereceram propina para corromper policiais, aponta investigação

Agiotas ligados ao PCC ofereceram propina para corromper policiais, aponta investigação

Após prisão de conhecido, integrantes do núcleo se mobilizaram para pagar propina. MP investiga quem são policiais envolvidos
Publicidade
Publicidade