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Eleitor não vê Carta como critério principal para definir voto, dizem especialistas

Manifestos vieram após ataques do presidente Bolsonaro ao sistema eleitoral e foram criticados por ele

Eleitor não vê Carta como critério principal para definir voto, dizem especialistas
Urna eletrônica ao lado da bandeira do Brasil (Reprodução/Agência Brasil)
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O manifesto Em Defesa da Democracia e da Justiça, da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), e a Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito, da Faculdade de Direito da Uinversdade de São Paulo (USP), que foram lidos na 5ª feira (11.ago) em atos no Salão Nobre e no Pátio das Arcadas, respectivamente, impactam nas eleições deste ano, porque configuram sinalizações por parte de vários setores da sociedade, incluindo grupos com divergências entre si, de que concordam em se opor a qualquer tipo de eventual tentativa de ruptura da ordem democrática no processo eleitoral, mas para o eleitor, em geral, não representam critério dos mais relevantes para decidir em quem votar, segundo especialistas.

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Os manifestos vieram após ataques do presidente Jair Bolsonaro (PL) ao sistema eleitoral e foram criticados por ele. O da USP tem mais de 1.070.000 adesões até o momento e foi assinado por oito candidatos a presidente da República nas eleições deste ano: Lula (PT), Ciro Gomes (PDT), a senadora Simone Tebet (MDB-MS), Felipe d'Avila (Novo), a senadora Soraya Thronicke (União-MS), Sofia Manzano (PCB), Leonardo Péricles (UP) e José Maria Eymael (DC). O da Fiesp foi assinado por 100 entidades da sociedade civil, como Febraban, OAB-SP e CUT.

Para o doutor em ciência política Paulo Roberto Leal, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), o que as forças que assinam os documentos "querem indicar é a possibilidade de que mesmo que não se produza aliança de curto prazo, há uma perspectiva de longo prazo, talvez num segundo turno, eventualmente numa antecipação de lógica de segundo turno para primeiro, de demarcação de grandes diferenças em relação ao que representa o campo da extrema-direita e o presidente Bolsonaro".

"Ou seja, parece que todos que assinam essa carta sinalizam um projeto de apoiar candidaturas que não estejam no campo do bolsonarismo, que é de onde surgem todas essas ameaças em que efetivamente há força política que volta e meia produz narrativas que podem perfeitamente ser compreendidas como incitações à quebra da ordem institucional e ordem democrática".

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) não assinou o documento da Fiesp, ao contrário de sua seccional paulista, e lançou um manifesto próprio em defesa da democracia, no qual diz que continuará defendendo os direitos e garantias individuais e a divisão e a harmonia entre os três Poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário), entre outras coisas, e afirma ter "orgulho e confiança no modelo do sistema eleitoral" brasileiro.

A Coalizão em Defesa do Sistema Eleitoral também divulgou uma carta própria, denominada Em Defesa da Democracia e da Soberania Popular. Nos atos da última 5ª feira, o Salão Nobre, a frente da Faculdade de Direito da USP e o Pátio das Arcadas ficaram lotados.

A faculdade estima que cerca de 8 mil pessoas estiveram nos atos no local. Os movimentos estudantis que apoiaram estimam 20 mil pessoas, contando quem estava dentro, os manifestantes em frente (no Largo São Francisco) e os manifestantes que fizeram passeata da Avenida Paulista até o Largo.

Na data, de acordo com a União Nacional dos Estudantes (UNE), pelo menos 24 estados e o Distrito Federal tiveram atos em defesa da democracia, parte focada na leitura da carta da USP e outra em manifestações nas ruas.

Segundo Leal, o manifesto da Fiesp e a carta da Universidade de São Paulo são "indispensáveis", porque existe uma necessidade no Brasil de "defender o óbvio": o respeito à Constituição e o princípio da alternância de poder.

Dessa forma, pontua, "é fundamental que segmentos ideológicos os mais diversos, que têm divergências profundas entre si, sinalizem que há uma convergência, que é a convergência do respeito ao resultado eleitoral. Que é a convergência da defesa da continuidade do experimento democrático brasileiro". Entretanto, de acordo com ele, outras variáveis -- como a economia -- têm peso maior que os manifestos, neste momento, "com os movimentos de intenção de voto". 

Na avaliação do doutor em ciência política, "fatias do eleitorado estão pouco preocupados com isso [os manifestos], o que não quer dizer que eles sejam todas as fatias".

Refletindo sobre se a maior parte da sociedade brasileira compreende a importância da democracia, Leal diz que ao contrário de países vizinhos, como Uruguai e Argentina, o Brasil "não fez uma rememoração devida do que foi a experiência da ditadura militar". 

"Essa inconclusão da discussão pública sobre aquele terrível período ajuda também a fazer com que algumas pessoas nem sequer associem aquele momento ao que de fato ele representou: perda de direitos, mortes, tortura. Isso, talvez, ajude a entender por que haja entre nós alguns saudosistas da ditadura e por que haja também entre nós uma possibilidade de que uma fatia não desprezível do eleitorado não tenha o fervor democrático ou a percepção da necessidade da defesa do regime democrático", completa.

Rafael Sampaio, professor de ciência política da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e pesquisador em comunicação política, por sua vez, avalia que a maioria dos brasileiros tem dificuldade em entender os conceitos de democracia e de Estado, além da diferença de Estado para governo.

"E aí tende às vezes a subestimar a importância da democracia, democracia pela qual inclusive chegamos a ter que lutar para que ela existisse, porque vivíamos sobre a ditadura militar. Então é uma coisa que realmente a gente tem que tentar melhorar na cabeça das pessoas especialmente sobre a importância de viver num regime democrático", pontuou. 

Essa melhoria, afirma, é um processo de longo prazo e depende de campanhas educativas, de enfatizar os temas no Ensino Fundamental e no Ensino Médio e de "melhor conexão entre a universidade pública e a população".

Segundo Sampaio, por causa dessa dificuldade da maior parte da sociedade brasileira em entender o que é democracia, o manifesto da Fiesp e a carta da USP não são e não serão "fator preponderante" para os eleitores indecisos neste ano. O mesmo vale para os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ressalta.

Isso porque os integrantes do primeiro grupo "tendem a ter uma narrativa muito diferente, de que são simplesmente ataques ao presidente, que o presidente nunca ameaçou, como ele mesmo diz, jogar fora das quatro linhas".

E, no caso dos integrantes do segundo, "já tem esse outro discurso de que há esses ataques constantes da Presidência às instituições democráticas e, especialmente, ao sistema eleitoral".

Dessa forma, Sampaio afirma que os documentos da Fiesp e da USP não terá impacto "não vai ter um impacto na eleição em si". Entretanto, acrescenta, são "muito necessários", porque a democracia do Brasil "é bem recente, e o que a gente tem visto nesses últimos três, quatro anos, são constantes ataques a diferentes instituições democráticas". "Ataques ao STF, ataques ao sistema eleitoral. E de certa forma até a certos setores do Legislativo.

Então todos eles têm sido deslegitimados por fake news, por desinformação e até mesmo por falas e atos do presidente da República. Então é muito importante que a gente reafirme, neste momento, que estamos aqui pela democracia e que não vamos aceitar nenhuma manipulação do resultado das urnas".

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