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Empresas e pessoas físicas buscam alternativas aos juros altos: cuidado

Do cheque especial até um prazo maior para pagar as compras das empresas, tudo é o "negócio dos juros altos"

Empresas e pessoas físicas buscam alternativas aos juros altos: cuidado
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Enquanto os juros altos não cedem de patamar, o velho ditado empresarial que diz "alguns choram, outros vendem lenços", mais do que nunca se justifica.  Após dez meses de taxa Selic em 13,75% ao ano - e diante da argumentação do Banco Central a favor da continuidade dos juros em nível elevado por mais tempo -- consumidores pessoas físicas e jurídicas começam a se virar por "conta própria", pode-se dizer. O sistema financeiro tradicional está cada vez mais restritivo na hora de conceder crédito, observam empresários e economistas. E as instituições bancárias justificam com o alto endividamento da população - e da Pessoa Jurídica também -, entre outros motivos. Pesquisa da Confederação Nacional do Comércio mostra que, em abril, 78,3% das famílias apresentaram contas em atraso. 17% do total consideram-se muito endividadas devido aos juros elevados. O cenário foi registrado tanto nas famílias com renda entre três e cinco salários mínimos, bem como naquelas com ganho superior a 10 salários mínimos.

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A saída, em muitos casos, escapa completamente à tomada de recursos de bancos e casas de crédito. É quando entra em cena um daqueles elementos tipicamente nacionais. O "jeitinho brasileiro" conversa fácil com as situações de dificuldade. Mas é raro tornar-se bom conselheiro. Soluções do tipo vender o segundo carro da casa - quando houver -, emprestar de familiares ou amigos próximos, são opções para momentos em que parece não haver opções. E no cenário atual não tem sido poucas as pessoas que recorrem a este "desespero de causa".

Ainda assim, há uma alternativa que, embora frequente, com insistência se revela a mais perigosa de todas. Sem acesso a recursos de financiamento bancário, por exemplo, que têm custo do dinheiro minimamente mais respeitoso com o cliente, muita gente lança mão do prático e rápido cheque especial. Tá ali, à disposição, não requer maiores burocracias e nem trâmites que exponham o tomador a constrangimentos ou situações desfavoráveis. Aí é que mora o perigo. O preço caro que os bancos "cobram pelo dinheiro". " Primeiro é preciso alertar que 13,75% é Selic, a taxa referencial. Quando vai parar no mercado, em busca de recursos, quem precisa do dinheiro paga muito mais caro. 50%, 70% ao ano num empréstimo". O alerta é do presidente do Sindicato das Micro e Pequenas Indústrias de São Paulo (SIMPI), Joseph Couri. E quando trata do cheque especial então......

"Quem toma R$ 1 no cheque especial em janeiro, no final do ano vai estar devendo R$ 5,00. São 400% ao ano. É suicídio. Mesmo assim, tem muita gente lançando mão deste tipo de socorro. É preciso muito cuidado, evitar ao máximo. E se optar pelo recurso, pagar o mais rápido possível o valor total sacado" - Joseph Couri, Simpi

A CNC apurou este endividamento. Em abril, 11,6% do total de famílias brasileiras tinham dívidas atrasadas com cartão de crédito e cheque especial. Na comparação com a média trimestral, esse é o maior nível desde novembro de 2020. Ainda segundo a CNC, a proporção de endividados deve voltar a crescer no segundo semestre e encerrar o ano em nova máxima histórica. Vale lembrar que, do outro lado do balcão, de quem cede os financiamentos e empréstimos, o "negócio dos juros altos" é altamente lucrativo, com representação poderosa inclusive nos círculos políticos que buscam exercer influência sobre as decisões da economia. 

Pessoas Jurídicas

As empresas também não escapam de um cenário pouco generoso do ponto de vista dos financiamentos e concessão de recursos. A situação é semelhante a dos consumidores gente-como-a-gente. " Os bancos e financeiras estão cada vez mais restritivos pra emprestar. Não querem emprestar para os pequenos porque não há garantias. E os grandes estão na fila da recuperação judicial. Aí já viu..", comenta Couri, ele próprio à frente de uma associação que representa uma grossa fatia das 800 mil micro e pequenas indústrias espalhadas por todo o Brasil. Não é à toa que os efeitos do cenário restritivo esteja impactando diretamente essas companhias. Pesquisa encomendada pelo Simpi ao Datafolha, mostra que entre fevereiro e março deste ano, a alta dos juros bateu de frente e de forma negativa com o setor industrial. Por conta das elevadas taxas, 88% avaliam que estão sendo prejudicados e elevando seus custos junto a fornecedores. Confira na ilustração abaixo um dos resultados do Indicador Nacional de Atividade da Micro e Pequena Indústria, realizada pelo SIMPI/Datafolha. 

Consequências dos juros para empresas | Reprodução/SBT

Tomar dinheiro emprestado pra financiar o dia-a-dia das empresas faz parte do negócio, até porque outro dado apontado na pesquia Simpi mostra que 50% das companhias disseram ter capital de giro insuficiente, e somente 9% estão em situação confortável, com mais capital de giro do que o suficiente pra honrar os compromissos.

E se engana quem acha que na vida das empresas não há espaço para o velho conhecido cheque especial. Um empresário que prefere não se identificar, contou à nossa reportagem que, às vezes, o industrial chega no banco pra viabilizar algum dinheiro. Em situação difícil, ouve do gerente frases como 'Olha, na situação em que está sua empresa não posso lhe conseguir mais nada. Mas, como pessoa física....seu cheque especial está aí, à sua disposição; tô aqui pra lhe ajudar: então vc tem quanto, vinte mil no especial? Vou aumentar para 100 mil. E vc ganha um fôlego pra se recuperar'.

PF ou PJ....quem nunca, né?  É por isso que 11% das micro e pequenas indústrias do país usaram cheque especial como capital de giro recentemente. Advinha no que deu: a taxa de empresas que deixaram de pagar as contas gira hoje ao redor de 29% junto a fornecedores, bancos ou financeiras e até Impostos ou taxas de energia, água, telefonia. É por isso que o empresário sai da agência do banco exercitando um "ato de fé", acreditando em dias mais positivos. 36% dos empresários ouvidos na pesquisa esperam por uma melhora na economia do país para os próximos três meses. " Eu chego a pensar que só pode mesmo ser um ato de fé, pra dizer o melhor possível: com grande frequência, hoje em dia, quem empresta sabe que não vai receber. Quem toma sabe que não vai pagar. E ainda assim as pessoas seguem acreditando", alfineta Joseph Couri. 

Vender lenços

Em meio a este cenário, o administrador Francisco Pereira olhou e viu na pressão da Selic mais alta a oportunidade para turbinar os negócios. Ele pilota a fintech Trademaster, que faz uma espécie de interface entre dois segmentos importantes da economia: a indústria, que quer vender, e o varejo, que quer comprar das fábricas para revender aos consumidores e ganhar no preço e na margem de lucro.  A pegada da startup financeira é entrar no meio do jogo, oferecendo ao varejistas mais prazo para quitar os compromissos. A Trademaster paga à indústria - que se satisfaz com o dinheiro em caixa - e cobra uma taxa ao redor de "50% das tabelas de bancos e financeiras pra alongar o tempo que o varejista vai ter para zerar o compromisso", garante Francisco. 

Fluxo
Fluxo de caixa com atuação da fintech | Reprodução/SBT

Pra ele, os juros mais altos se tornaram uma oportunidade que veio pra ficar. " As empresas que contam com a nossa intermediação tem revelado disposição para permanecer em parceria constante com a gente. Virou negócio para os dois lados do balcão", classifica Francisco Pereira, CEO da Trademaster. Confira a seguir a íntegra da entrevista do empreendedor abaixo. 

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