"Ações deliberadas para gerar pânico", diz ministra sobre fake news na saúde
Ao SBT, Nísia Trindade aponta que notícias falsas dificultam retomada de alta cobertura vacinal no País
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, afirmou que o avanço da imunização da população brasileira está fortemente relacionado ao combate às fake news. Em entrevista ao SBT News, Nísia pontuou que as informações inverídicas disseminadas por meio das redes sociais sobre a vacinação "não se tratam de desinformação. Trata-se muitas vezes de ações deliberadas para propagar informações falsas que geram um pânico, desconfiança da população".
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A ministra ainda destaca que as fake news não estão voltadas somente às vacinas contra a covid-19. Imunizantes utilizados há anos pelo Governo Federal na prevenção de doenças como sarampo, poliomielite e gripe também têm se tornado alvo da disseminação de informações falsas e alarmantes. Mensagens em redes sociais falam sobre supostos casos de pessoas que perderam movimentos de pernas, tiveram doenças graves ou até mesmo morreram após tomarem determinada vacina.
"Todas as vacinas autorizadas para uso pela Anvisa - que é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária no Brasil - são vacinas que foram testadas quanto à eficácia, ou seja, quanto a terem efeito, e também na segurança, de não provocarem problemas de saúde. Essas vacinas são seguras e elas salvaram muitas vidas ao longo da história", reforça Trindade.
A ministra explica que reações à vacina como desconfortos, febres leves e outros sintomas podem ser esperados no caso de alguns imunizantes. Porém, as chamadas "reações adversas" não colocam em risco a vida dos pacientes. A quebra de confiança nas ações governamentais de saúde, gerada pelas fake news, por outro lado tem ameaçado a segurança da população.
"Algumas doenças que já haviam sido eliminadas, do ponto de vista da circulação do vírus voltam a ocorrer no Brasil e nas Américas, como é o caso do sarampo e também há uma grande preocupação com a poliomielite. Nós já tivemos 90% de cobertura pra essas vacinas e hoje não alcançamos a marca de 70%", alerta Nísia Trindade.
A ministra da Saúde orienta que a população acesse os sites oficiais do governo para se informar sobre as vacinas disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS), assim como as orientações para imunização e reações esperadas após a aplicação. Informações recebidas por amigos, familiares e conhecidos não devem ser repassadas e serem vistas como verdadeiras sem a devida verificação.
Trindade cita ainda a iniciativa lançada pelo Governo Federal no final de fevereiro, a campanha "Brasil contra fake". O site criado dentro da plataforma gov.br traz informações sobre políticas públicas e ações governamentais. O objetivo é desmentir fake news mais populares nas redes sociais. Entre elas, as que tratam de vacinas. Confira o endereço: https://www.gov.br/secom/pt-br/fatos/brasil-contra-fake
"Você pode ter informações de saúde também nas universidades brasileiras e nos institutos de pesquisa. A ciência não trabalha com verdades absolutas, mas ela trabalha com o método, com a verificação", completa.
Cientista e pesquisadora, a ministra da Saúde, Nísia Trindade fez história em 2017 ao se tornar a primeira mulher a assumir a presidência da Fiocruz nos 120 anos da existência da prestigiada instituição.
Crise Yanomami
Ainda na entrevista ao SBT News, a ministra falou sobre como o Executivo vem atuando para evitar que a crise social e de saúde constatada no povo Yanomami em Roraima se repita no local e em outros territórios indígenas no país.
"Primeiro trabalhamos na emergência, cuidando da população, cuidando da nutrição das crianças, que era um dos grupos mais atingidos pela crise, que tem uma origem no garimpo ilegal. Então não repetir essas ações significa evitar que se repita esse processo de intrusão, como é definido, por atividade do garimpo ilegal, que contamina os rios e alteram o modo de vida das populações, com impacto gravíssimo na sua saúde", ressaltou.
"Ao mesmo tempo, estamos trabalhando com as secretarias estadual e municipal no estado de Roraima e vamos também fazer o mesmo no estado do Amazonas para garantir uma saúde de melhor qualidade, fortalecer o sistema de saúde que acolhe essa população".
Ainda de acordo com Nísia, o governo tem atuado "no caso Yanomami para a criação de uma unidade de atenção hospitalar em Surucucu, que é um dos polos da região". "Mas teremos a saúde como eixo fundamental e também toda a discussão ambiental e das condições de vida e do respeito aos povos indígenas como define a nossa Constituição, em todas as ações do governo".
Segundo a ministra, começou sua gestão na pasta alertando toda esta sobre a existência de deficiências na saúde indígena no país e dialongando com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o que tinha visto sobre o tema na transição governamental, no ano passado, e mesmo antes.
"Não posso dizer que a gravidade da saúde indígena fosse desconhecida. Mas realmente o que aconteceu no território Yanomami foi um agravamento intenso dessas condições", pontuou.
"E o que mais surpreendeu a mim, ao presidente Lula e aos ministros que nos acompanharam na viagem que fizemos em 20 de janeiro quando foi definida a emergência sanitária, foi o fato de a própria unidade de acolhimento ao indígena, Casai, que é uma realidade do Ministério da Saúde, estar em condições muito precárias e, além disso, com uma dificuldade muito grande de mobilidade, porque se depende do transporte aéreo, e havia pessoas que estavam mais sem nenhum problema de saúde, mas há seis meses aguardando o retorno da sua casa".
Mais Médicos
Em relação ao novo Mais Médicos, Nísia Trindade disse que o primeiro edital sairá até o dia 17 de abril. "Ainda são necessários alguns ajustes para que ele possa se tornar público, mas essa iniciativa de retomada é fundamental porque há muitos municípios e áreas periféricas de alguns municípios que não são tão distantes do ponto de vista daqueles centros com mais médicos e mais unidades de saúde, e o que nós fizemos foi uma retomada do programa, mas já com aperfeiçoamentos", complementou.
Geceis
Na última 2ª feira (3.abr), o Governo Federal anunciou a criação do Grupo Executivo do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (Geceis). Na entrevista ao SBT News, Nísia Trindade discorreu sobre a importância da iniciativa.
"Nós há muito falamos da necessidade do fortalecimento da indústria de medicamentos, da indústria de equipamentos de saúde, da indústria de vacinas, e sobretudo da inovação do Brasil fortalecer a ciência, tecnologia e inovação, então essa é a abrangência do Geceis. E claro que o impacto da pandemia, como eu digo, é como aquela fala da roupa nova do rei", afirmou a ministra.
"Mostra que o rei está nu, ou seja, a grande dependência nossa em relação a poucos centros produtores desses insumos de saúde. A nossa meta não vai ser algo a curto prazo, mas que possamos contribuir, criar as condições para que em dez anos o país possa ter 70% da produção desses insumos de saúde aqui no país".
*Com colaboração de Guilherme Resck