Chefe do tráfico ordenou morte de Mãe Bernadete, diz polícia baiana
Líder quilombola teria sido morta após morador do local, envolvido em exploração ilegal de madeira, instigar traficantes
A líder quilombola e ialorixá Maria Bernadete Pacífico, a Mãe Bernadete, foi morta após ordem de um chefe do tráfico de drogas de Simões Filho, cidade na região metropolitana de Salvador onde está localizado o quilombo que era comandado por ela, o Pitanga dos Palmares. A conclusão é da Polícia Civil da Bahia, que divulgou informações sobre o crime durante uma entrevista coletiva, realizada nesta 5ª feira (16.nov). Mãe Bernadete foi assassinada há quase três meses, em 17 de agosto, dentro de seu terreiro.
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Exploração de madeira: Segundo os policiais, a ialorixá foi assassinada após reprimir um morador do quilombo envolvido com a exploração ilegal de madeira. Sérgio Ferreira de Jesus, de 45 anos, resolveu então instigar traficantes da região, dizendo que Mãe Bernadete tinha avisado que iria chamar policiais para barrar a venda de drogas na região.
Tráfico de drogas: Traficantes de Simões Filho estavam prestes a abrir um bar dentro do quilombo, que seria usado para a venda de drogas e realização de festas. Após receber as informações de Sérgio, Marílio dos Santos, o 'Maquinista', e Ydney Carlos dos Santos de Jesus, o 'Café', chefes do tráfico local, ordenaram a morte da líder quilombola.
A noite do crime: No dia do crime, Arielson da Conceição Santos e Josevan Dionísio dos Santos, o 'Buzui', foram a pé até o terreiro de Mãe Bernadete. Eles levavam duas pistolas. Foi Sérgio, o madeireiro ilegal, quem indicou o melhor momento para o assassinato acontecer. A líder quilombola foi morta com 25 tiros.
Armas usadas: As armas utilizadas no crime foram entregues a um sexto homem, Carlos Gyodai, que também ajudou os criminosos na fuga.
O Ministério Público baiano pediu a prisão preventiva de Ydney, Marílio e Josevan, que seguem foragidos. Arielson, Sérgio e Carlos já estão presos.
Os cinco primeiros foram indiciados por homicídio qualificado por motivo torpe, de forma cruel, com uso de arma de fogo e sem chance de defesa da vítima, enquanto Carlos Gyodai responderá por posse ilegal de arma de fogo, em outro inquérito policial.
Quem era Mãe Bernadete
A líder quilombola Mãe Bernadete foi assassinada a tiros, no interior do seu terreiro, em 17 de agosto de 2023. Criminosos invadiram o local e também fizeram familiares da vítima de reféns.
Bernadete foi secretária de Promoção da Igualdade Racial de Simões Filho e dirigentes da Coordenação Nacional das Comunidades Negras Quilombolas (Conaq). Além disso, era ialorixá, líder de religiões de matriz africana como a Umbanda, o Candomblé e a Quimbanda - chamada popularmente de "mãe de santo".
Seu filho, Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, o "Binho do Quilombo", foi assassinado há seis anos, no dia 19 de setembro de 2017, ano em que o Quilombo Pitanga dos Palmares foi reconhecido pelo Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). No território, com cerca de 854,2 hectares, moram 289 famílias.
De acordo com levantamento da Rede de Observatórios de Segurança, a Bahia é o segundo estado com mais ocorrências de violência contra povos e comunidades tradicionais, com 428 ocorrências entre 2017 e 2022, atrás apenas do Pará.
