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Até que ponto as Forças Armadas foram capturadas por Bolsonaro?

"Militares que tinham uma índole mais golpista encontraram espaço para exercer as suas convicções", diz a pesquisadora Adriana Marques

Até que ponto as Forças Armadas foram capturadas por Bolsonaro?
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A presença de um general e de um almirante da ativa nas tratativas de um golpe político revelou que a ação foi mais do que uma pataquada de militares reformados. Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, do Exército, e Almir Garnier Santos, da Marinha, a partir de decisão do Supremo Tribunal Federal, foram alvos de busca e apreensão e estão proibidos de deixar o país e falar com outros investigados. No caso de Theophilo, ele ainda está suspenso do exercício de função pública.

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Como militares na ativa eles tinham comando sobre a tropa. Mas até que ponto eles poderiam colocar em ação a tentativa de golpe? Qual a extensão da captura dos militares feita por Bolsonaro? As investigações da Polícia Federal reveladas na última quinta-feira (8) impendem novos avanços golpistas dentro das Forças Militares? Essas e outras perguntas são respondidas por Adriana Marques, doutora em Ciência Política e professora do curso de Defesa e Gestão Estratégica Internacional da Universidade do Rio de Janeiro (UFRJ).

“Durante o governo Bolsonaro, os militares que tinham uma índole mais golpista encontraram espaço para exercer as suas convicções. Eu acho que o governo Bolsonaro deu oportunidade para esse grupo de militares. Isso começa desde a crise política que culminou na deposição da presidenta Dilma Rousseff. Nós vemos um processo crescente de politização das Forças Armadas. O que os documentos da PF nos mostram é a extensão e o nível do envolvimento de um grupo importante, da cúpula das Forças, em um projeto golpista”, avaliou a professora Adriana Marques.

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“Quando vemos o envolvimento da alta cúpula das Forças Armadas nesses preparativos golpistas, não é mais possível dizer que não havia envolvimento institucional com o processo de desestabilização da democracia. Sabíamos que tinha, inclusive dentro do Alto Comando do Exército, entre oficiais da ativa, entre comandantes de Forças, oficiais que estavam dispostos a abolir o Estado Democrático de Direito. Isso é muito, visto que tivemos um processo de redemocratização há décadas”, afirmou Marques.

Ainda segundo a pesquisadora, a operação da Polícia Federal (PF) e o vídeo divulgado na íntegra pelo Supremo Tribunal Federal (STF) nesta sexta-feira (9) deixam claro que uma parte da alta cúpula das Forças não está comprometida com a democracia. “Aquele discurso do agora senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) é uma acinte. Ele fala claramente que as Forças Armadas não podem aceitar um processo que está sendo conduzido dentro de todas as normas do Estado Democrático de Direito. Isso é incitação à insubordinação militar, o que não é nenhuma novidade na carreira do Mourão que fazia isso quando estava na ativa e também depois quando era vice-presidente. Agora ele dá mais uma amostra da falta de compromisso com a República, com a democracia. É realmente lamentável que o Rio Grande do Sul tenha escolhido um senhor como esse para representar o estado por oito anos”, declarou a especialista.

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“Os conteúdos das buscas e apreensões e o vídeo são muito graves. Havia dentro do governo, militares da ativa que queriam prender juízes da Suprema Corte e o presidente do Congresso. Espero que os poderes Executivo e Legislativo reajam a esse tipo de atitude golpista e punam esses militares. Isso nunca aconteceu na história do Brasil. Mas enquanto não tivermos punição exemplar de militares, a nossa democracia vai continuar sofrendo percalços”, afirmou Marques.

A doutora em ciência política e professora do curso de Defesa e Gestão Estratégica Internacional finalizou a entrevista reforçando o papel constitucional das Forças Armadas e a necessidade da consolidação da democracia. “Elas devem ser neutras politicamente e subordinadas ao poder político eleito democraticamente. Mas aqui no Brasil isso não parece estar muito claro. Os militares querem dar opinião sobre tudo. A operação da PF e o vídeo divulgado comprovam o que já sabíamos por meio de apurações diversas. Não tínhamos áudio e vídeo, mas agora está ainda mais claro que esses senhores estavam trabalhando para desestabilizar a democracia no nosso país, finalizou Adriana Marques.

Confira a entrevista:

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