Indicação de Flávio Dino ao STF esbarra no bolsonarismo, avalia pesquisadora
Cientista política identifica estratégia recorrente da Direita de minar forças políticas com associações genéricas
Em entrevista ao Poder Expresso desta 4ª feira (15.nov), a professora de Ciências Políticas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Mayra Goulart apontou o atraso na indicação de um nome para o Supremo Tribunal Federal (STF) como causa da atual crise envolvendo o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino.
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"O PT ainda não consolidou um entendimento sobre a indicação e isso abre espaço para uma crise sucessória. Isso se deve ao trauma do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em que ministros indicados pelo PT acabaram votando a favor do afastamento. Aquele julgamento foi bastante político, sem fundamentos jurídicos. O partido ainda não fez uma reflexão mais profunda levando em conta esse passado recente", apontou a professora Mayra Goulart.
Ainda de acordo com a cientista política, a atual crise após as visitas da "dama do tráfico amazonense" ao ministério da Justiça complica a possível indicação do ministro Flávio Dino ao STF.
"Isso é muito próprio da Direita e do próprio bolsonarismo que é associar o punitivismo, bandido bom é bandido morto, aumentar a truculência no combate à criminalidade, por exemplo, com a suspeição da política. Essa mistura é uma tentativa de associar um político de esquerda com o crime, de dizer que quem defende os direitos humanos protege os bandidos. Esse escândalo atual é fruto dessa linguagem difusa e confusa do bolsonarismo", explicou Goulart.
Após mais de um mês e meio da aposentadoria da ministra Rosa Weber, a disputa pela vaga no STF conta com Flávio Dino, o Advogado-Geral da União (AGU), Jorge Messias, e o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas.
Para Mayra Goulart, essa etapa é importante para que o futuro ministro tenha algum tipo de legitimidade popular. "A indicação do presidente da República ao Supremo é uma forma de, pelo menos na origem, submeter o futuro ministro ao crivo da soberania popular. O STF está fora dessa influência, mas pelo menos nessa etapa de indicação, a soberania popular é de alguma forma observada, há uma vinculação mínima nesse ponto de contato", concluiu a professora de Ciências Políticas Mayra Goulart.
Confira a entrevista completa: