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As diferenças entre Mourão e Braga Netto, o novo vice de Bolsonaro

Generais têm perfis distintos, mas patente militar é decisiva para presidente repetir fórmula de 2018

As diferenças entre Mourão e Braga Netto, o novo vice de Bolsonaro
Braga Netto e Mourão
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Além da diferença de pouco mais de três anos de idade, os generais Hamilton Mourão, 68, e Walter Braga Netto, 65, guardam outras características distintas. Em público, o gaúcho Mourão fala sobre todos os temas, o mineiro Braga Netto é mais discreto. A patente e a origem militar, entretanto, foram decisivas para o presidente Jair Bolsonaro repetir a fórmula de 2018 e ter um vice das Forças Armadas na campanha de 2022.

Em entrevista ao SBT News, Adriana Marques - professora do curso de Defesa e Gestão Estratégica Internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) - diz que Bolsonaro tenta recuperar todo o ativo político que funcionou na campanha de 2018. Mas, ao contrário do que tenta passar o presidente, Braga Netto é um personagem com experiência política, diferentemente do que representava Mourão em 2018.

"Bolsonaro coloca Braga Netto na categoria de ministro técnico, mas ele já tem experiência política desde a época da intervenção no Rio de Janeiro, em 2018. Ele foi o interventor, durante o mandato de Bolsonaro foi ministro da Casa Civil, da Defesa, lidou com políticos em pastas importantes. Então é uma figura que chega com uma bagagem política que Mourão não tinha", afirma Marques, que junto com o cientista social Celso Castro, escreveu Missão Haiti: a visão dos force commanders (FGV Editora), que apresenta uma série de entrevistas com comandantes brasileiros no país estrangeiro.

A seguir os principais trechos da entrevista:

O que representa a troca de Mourão por Braga Netto?

O atual presidente quer tentar repetir uma estratégia que foi bem sucedida em 2018. Assim, ele recupera tudo que foi algum ativo político para ele na campanha anterior. Então nesse sentido aparece a figura do Braga Netto. Quanto às diferenças, quando Mourão foi o vice na campanha, ele não tinha experiência política. Já o general Braga Netto, ainda que o presidente sempre faça essa diferença entre os ministros técnicos e os ministros políticos, e coloque o general na categoria de ministro técnico, ele já tem experiência política desde a época da intervenção no Rio de Janeiro, em 2018. Ele foi o interventor, durante o mandato de Bolsonaro foi ministro da Casa Civil, da Defesa, lidou com políticos. Então é uma figura que chega com uma bagagem política que Mourão não tinha. É também mais discreto. O vice-presidente chega ao Planalto, fez lá um media training, e vai para a porta do Palácio conversar com jornalistas e, até certa medida, tentar explicar, contextualizar falas do presidente da República. A gente não vê esse comportamento em Braga Netto, que foi um dos ministros mais próximos, o ministro que o presidente considera leal.

De certa forma isso explica a escolha de Bolsonaro, certo?

O presidente tem uma tolerância muito baixa ao ser contrariado, quando auxiliares colocam uma opinião que é diferente da sua. Então isso o incomodava em relação ao Mourão, que certamente tem ambições políticas. Tanto que fez cálculos e agora terá uma carreira solo. Ficar mais oito anos na política. Então tem ambições. Imagino que o presidente tenha a leitura de que o ministro Braga Netto não tem essa ambição.

O que muda na relação dos militares na política com Braga Netto de vice, numa eventual vitória de Bolsonaro? 

Essa simbiose, isso continua. E a escolha do Braga Netto também vai nessa linha, um aceno que o presidente da República faz para os militares de que eles continuam aliados e parceiros, que fazem parte da base do governo. Agora tem um ponto que eu acho que muda. Mas não é para melhor, é mais complicado. Em 2018, quando se falava da presença dos militares no governo, havia uma série de expectativas. Então, por exemplo, se avaliou que os militares seriam o lado racional do governo, que eles iriam moderar o presidente. Eles eram os grandes gestores, aqueles que iriam dar uma qualidade ativa e superior ao governo. Nenhuma dessas expectativas se realizou. Então a escolha do Braga Netto inclui uma expectativa de explicação do governo. Braga Netto foi ministro durante o período mais duro da pandemia. Então eu não sei como é que essa questão da pandemia, por exemplo, vai ser trabalhada nas eleições. É diferente de 2018, quando havia muitas expectativas em relação ao papel dos militares. Quase quatro anos depois já há clareza. Não há mais esse frescor digamos assim, essa expectativa de qualidade ou moderação do presidente.

A diferença é que os militares também ocupam muito mais postos no governo agora, se for comparar com 2018?

Sim, os militares tiveram muitas demandas atendidas, assim como o Centrão. Uma corporação com tantas demandas atendidas não vai querer abrir mão do que conquistou, principalmente porque do outro lado tem o ex-presidente Lula, que talvez não seja tão generoso. Os militares sabem muito bem de que lado estão para garantir os seus interesses.

Entre os motivos para a escolha do Braga Netto está a possível força de impedir um impeachment num eventual segundo mandato?

Os militares têm uma vantagem em relação aos outros grupos políticos. Eles não têm votos, mas têm armas. Então eles negociam numa posição bastante privilegiada porque no limite eles aparecem como os que podem garantir a estabilidade do governo. Ainda que tenha esse discurso de separação, esses caminhos são mais próximos do que aparentam ser.

E o Lula, em que momento deve buscar os militares?

O relacionamento com os militares, ao contrário dos evangélicos, não está relacionado a votos. Ainda que os militares se sintam atores, não são capazes de decidir o resultado de uma eleição através dos votos, mas através de outras maneiras. Veja o exemplo do tuíte do general Villas Boas. Eles podem usar esse tipo de influência. Então também o movimento em relação a eles tem de ser diferente. Porque é o relacionamento num regime democrático, mas o relacionamento com os militares não passa pela política, passa por uma relação de mando e obediência. Obviamente que temos consciência de que não é essa a situação no Brasil. Tanto que os militares nos últimos quatro anos fazem parte da base do governo. Mas a conversa de qualquer candidato, seja de esquerda, centro ou direita com os militares, deveria ser uma conversa de política de defesa. O diálogo com os militares têm que ser o diálogo relacionado às responsabilidades deles.

Esse diálogo deve ser feito antes ou depois das eleições?

Depois das eleições. O que tem que deixar claro é que as regras democráticas serão respeitadas e que os militares têm uma determinada função no regime democrático. Negociar com militares como se negocia com grupos políticos é atribuir aos militares um papel político que eles não têm. O que tem de ser mostrado é que as Forças Armadas não serão instrumentalizadas. Mas não é isso o que está acontecendo agora, os militares estão sendo instrumentalizados o tempo todo pelo presidente da República.

Adriana Marques: Braga Netto tem mais experiência do que Mourão tinha em 2018 | Arquivo pessoal
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