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Entenda o modus operandi do "novo cangaço" no interior do Brasil

Especialista explica o planejamento dos grupos criminosos que assaltam bancos de pequenas cidades

Entenda o modus operandi do "novo cangaço" no interior do Brasil
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Quatro a cinco horas de um ataque a banco são planejadas por ao menos seis meses. Este é o tempo que quadrilhas especializadas em roubos de agências bancárias em cidades do interior levam para planejar, verificar, testar e simular um crime como esse. 

Araçatuba, no interior de São Paulo, foi o último alvo de quadrilhas que assaltam bancos em cidades do interior. A ação teve como consequência a morte de três pessoas, o roubo de duas agências bancárias e a danificação de uma outra. Na mesma semana, houve outros dois ataques: um em Camacã, no sul da Bahia (31.ago) e o outro em Mariluz, na região noroeste do Paraná (31.ago). A pergunta que fica é: como os criminosos se articulam e se organizam para realizar essa série de ataques elaborados a bancos no interior do país? 

Planejamento. Segundo Leonardo Sant'Anna, especialista em segurança, a organização e o plano de logística perpassam toda a operação, desde o estudo das cidades que podem ser atacadas até como gastar o dinheiro obtido de forma a não levantar suspeitas. "O planejamento vai desde como vai ser realizado o bloqueio das vias, quais serão os veículos adequados para o roubo, as rotas de fuga, como o dinheiro vai ser acomodado e como vai ser distribuído", ressalta.

Rota de fuga, pouco policiamento e centro de distribuição de dinheiro são alguns dos requisitos para a escolha da cidade que será atacada | SBT News

Leonardo explica que um roubo como o de Araçatuba, é planejado por um conjunto de equipes. Uma é a de inteligência, que vai iniciar a operação. "Essa equipe vai obter a informação e é considerada o grupo principal. Geralmente, são funcionários de dentro das instituições bancárias ou que prestam serviços a elas. Eles têm poder aquisitivo menor e são pagos para transmitir essas informações", diz. São coletados detalhes sobre o funcionamento do banco, a quantia de dinheiro disponível, a melhor data para a realização do roubo, entre outros. "Para conseguir essas informações privilegiadas, muitas vezes as quadrilhas empregam pessoas em determinadas empresas e bancos", destaca Leonardo. 

Já o segundo grupo é o que vai realizar o ataque em si, utilizando armas ou até explosivos. Segundo o especialista, são pessoas que sabem manusear o armamento, têm noção de posicionamento tático e receberam algum tipo de treino para realizar o crime. "Essas pessoas, muitas vezes, são oriundas ou receberam treinamento de forças de segurança." 

Além dessas duas, há a equipe de planejamento, que vai desenvolver toda a logística da operação, e o grupo de transporte, que vai dar mobilidade aos assaltantes e, ao fim do roubo, desovar os carros sem deixar nenhum rastro.

Um pormenor que o especialista destaca é que entre esses grupos não há comunicação. "Muitas pessoas sabendo de todo o crime deixam vulnerável quem financia e quem vai receber o dinheiro. Sendo assim, quem for preso não vai ter nenhuma informação que possa causar algum tipo de dano na cadeia criminosa", justifica Leonardo. O especialista explica que essa estratégia é chamada de compartimentação da informação e é muito utilizada pelas quadrilhas. 

Quem financia 

A operação não é barata. "É um investimento muito alto. Há o financiamento desses grupos que atuam na operação, compra de informação, armas, explosivos e veículos", elenca. De acordo com Leonardo, as armas utilizadas durante um crime aos bancos em cidades do interior somam um total de R$ 30 mil, se compradas de forma lícita. Na ilegalidade, o arsenal pode chegar a R$ 150 mil.

Para cobrir tudo, é preciso muito dinheiro. Segundo o especialista, o crime, não raras vezes, é financiado pelo narcotráfico ou organizações criminosas como o PCC. "Esses grupos possuem dinheiro para financiar o crime, mas não têm conhecimento suficiente para gerir o planejamento e a logística, além da discrição do gasto do dinheiro", ressalta.

Investigações policiais

As forças de segurança pública atuam no combate ao crime por meio do monitoramento. As plataformas da Receita Federal, do Imposto de Renda, da Receita dos estados, de acordo com Leonardo, passam por uma malha fiscal digital que permite rastrear quem está gastando demais: "Compra de veículos, imóveis, barcos, tudo isso passa por uma rastreabilidade". Algumas vezes, laranjas também são utilizados para despistar os investigadores.

Leonardo afirma que a criação de empresas também podem mascarar volumes maiores. "Sai do CPF e vai pro CNPJ. O crescimento da organização não é só pelo volume de dinheiro, mas para justificar movimentações financeiras", pontua. A investigação, com essa coleta de material, vai atrás dos fragmentos de informação, então no nome de quem está a compra do veículo, quem emprestou o CPF, qual é a empresa que fez a alocação de veículos, entre outros, para chegar aos responsáveis pelos crimes.

Novo cangaço

O termo utilizado para fazer referência a esse tipo de crime é novo cangaço. O movimento, que teve origem no Nordeste do Brasil, entre os séculos XVIII e XX, se baseava no protesto contra a situação de precariedade e injustiça social na qual vivia a população da região. 

Atualmente, a descrição é utilizada para tratar do roubo de cidades do interior pouco assistidas pelo Estado, como destaca Leonardo. "O termo remete a Lampião. Ele e seus cangaceiros percorriam espaços sem a presença de forças de segurança que pudessem enfrentá-los e conseguiam recolher tudo. É como agora, são regiões pouco assistidas pelo Estado que, por esse fato, facilitam a criação de um poder criminoso paralelo", conclui.

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