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Chile: 50 anos do golpe de Pinochet

Enquanto o país olha para seu passado, busca um futuro com esperanças de ser mais justo e democrático

Chile: 50 anos do golpe de Pinochet
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No cinquentenário do golpe militar que marcou a história do Chile, a nação sul-americana se depara com um passado mal resolvido que ainda ecoa em sua sociedade. Há exatos 50 anos, no dia 11 de setembro de 1973, as Forças Armadas lideradas pelo general Augusto Pinochet depuseram o governo socialista e democrático de Salvador Allende, lançando o país em um período sombrio de ditadura que duraria 17 anos.

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O Chile se uniu, naquela época, a outros países latino-americanos sob governos autoritários, incluindo o Brasil. Embora tenham se passado décadas desde então, as cicatrizes desse período persistem na sociedade chilena. Famílias continuam a buscar incansavelmente pelos corpos de seus entes queridos desaparecidos durante a ditadura, e forças de extrema-direita e negacionismo ainda encontram espaço. Além disso, o país enfrenta dificuldades para substituir uma Constituição criada sob o governo de Pinochet, que permanece em vigor até hoje.

Relembrar o golpe e a ditadura neste contexto atual é um exercício vital de memória e resistência contra um passado que teima em não desaparecer, uma lição que ressoa não apenas no Chile, mas em todo o mundo.

Salvador Allende e Unidad Popular

Salvador Allende, formado em medicina, construiu uma carreira política ativa desde a fundação do Partido Socialista em 1933. Ele foi deputado, ministro e senador durante 25 anos. Em 1970, após quatro tentativas, Allende foi eleito presidente com 36% dos votos, marcando a primeira eleição democrática de um político socialista e marxista na história.

Apesar de um início promissor, seu governo enfrentou desafios imediatos, incluindo uma economia instável, oposição interna e pressão internacional. A decisão de implementar reformas sociais e econômicas radicais levou a conflitos com setores da sociedade chilena e com os Estados Unidos, que apoiaram ativamente a queda de Allende.

Em 11 de setembro de 1973, as Forças Armadas bombardearam o Palácio de La Moneda, levando Allende a cometer suicídio e inaugurando um longo período de ditadura.

Pinochet e a Ditadura

Augusto Pinochet, que liderou o golpe, assumiu o poder e manteve-se como presidente até 1990. A ditadura militar chilena se destacou por destruir o sistema democrático, restringir direitos civis e políticos e violar os direitos humanos básicos. Internacionalmente, o regime chileno participou da Operação Condor, uma aliança entre ditaduras sul-americanas para reprimir opositores políticos.

De acordo com relatórios oficiais, mais de 40 mil pessoas foram vítimas dos militares, incluindo torturados, mortos e desaparecidos. A principal mira foi a esquerda política, sindicalistas e simpatizantes de partidos socialistas.

Chicago Boys e Neoliberalismo

Os militares chilenos implementaram medidas para abrir a economia ao capital privado e estrangeiro, seguindo os princípios neoliberais dos "Chicago Boys". Isso incluiu privatizações, redução do gasto público, abertura ao mercado externo e reforma trabalhista. Embora os indicadores macroeconômicos tenham melhorado em grande parte do período da ditadura, a desigualdade social persistiu e persiste, afetando as classes mais baixas.

Movimentos Sociais e Redemocratização

Apesar da repressão, movimentos de oposição começaram a ganhar força a partir de 1983. A pressão social forçou um plebiscito em 1988, que resultou no fim do regime militar. A democracia foi restaurada em 1990, mas com desafios significativos, uma vez que Pinochet permaneceu como líder das Forças Armadas.

Protestos significativos, como a "Revolução dos Pinguins" em 2006 e os protestos de 2019, levaram a mudanças políticas e culminaram em um plebiscito em 2020 que decidiu pela criação de uma nova Constituição.

Questões Mal Resolvidas do Passado

Em 2021, a nova Constituição progressista foi rejeitada por 62% da população, mantendo o país preso em normas ditadas em 1980. Isso reflete as questões mal resolvidas do passado e a dificuldade do Chile em se livrar dos vestígios da ditadura que assolou o país por quase duas décadas.

Com um novo presidente, Gabriel Boric, o Chile busca um caminho para avançar em direção a uma sociedade mais progressista e igualitária. No entanto, o país ainda enfrenta desafios significativos enquanto lida com seu passado traumático e busca construir um futuro democrático e justo.

Chile chega "rachado" aos 50 Anos do Golpe de Pinochet contra Allende

Embora em 1988 tenha optado pelo retorno à democracia em um plebiscito, o país permanece dividido e enfrenta desafios complexos, especialmente relacionados à Constituição legada pelo regime militar.

Após o fracasso de uma primeira tentativa de elaborar uma nova Constituição em um plebiscito no ano passado, os chilenos se preparam para votar novamente em 17 de dezembro. As pesquisas indicam que um segundo texto, elaborado por uma Convenção Constitucional com maioria de partidos de direita, também pode ser rejeitado. Isso poderia resultar em um período de instabilidade política, preocupando a população e os especialistas econômicos.

+ Quinteros: "campanha do medo" levou ao rechaço da Constituição chilena

A ultradireita do Chile inclusive, venceu com ampla margem a eleição do conselho que discutirá a nova Constituição do Chile. O país foi às urnas no dia 7 de maio depois de rejeitar, em setembro de 2022, uma primeira versão do texto -- feita por uma Assembleia que daquela vez era dominada pela esquerda.

Nas semanas que antecederam as homenagens às vítimas da ditadura e aos 50 anos do golpe, os esforços para unir os partidos políticos fracassaram. A aliança de direita, conhecida como Chile Vamos, lançou uma declaração que evita usar a palavra "golpe" e justifica as ações de Pinochet, alegando erros cometidos por todos os chilenos. Enquanto isso, a extrema-direita liderada por José Antonio Kast defende que o golpe interrompeu uma "ditadura marxista".

Essas divergências levantam questionamentos sobre a capacidade do Chile de reconciliar-se com seu passado. Pesquisas mostram que apenas 44% dos chilenos têm interesse na efeméride dos 50 anos do golpe. Além disso, uma parcela significativa da população culpa Allende pelo golpe, enquanto outros defendem a ação militar dependendo das condições do país.

+ Rejeição à nova Constituição do Chile liga alerta nas esquerdas latinas

O país também testemunha um ressurgimento da figura de Pinochet, com produtos e souvenirs em sua homenagem disponíveis no mercado. Enquanto o governo do presidente Gabriel Boric tenta realizar cerimônias de repúdio à ditadura, os partidos de direita optam por não participar.

Em meio a essa polarização, o Chile se encontra dividido, e a reconciliação com seu passado continua sendo um desafio complexo e sem solução à vista. A falta de consenso sobre os eventos ocorridos há 50 anos deixa o país em um estado de divisão que continua a assombrar sua sociedade e sua política.

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