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Temos reafirmado o interesse em receber o presidente Biden no Brasil, diz embaixadora brasileira

Em entrevista ao SBT no dia 26 de julho, a embaixadora do Brasil em Washington Maria Luiza Viotti afirmou que o país tem condições de assumir posição de liderança em energias renováveis

Temos reafirmado o interesse em receber o presidente Biden no Brasil, diz embaixadora brasileira
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Washington DC - Mineira de Belo Horizonte, Maria Luiza Viotti iniciou a carreira diplomática em 1976. Foi a primeira embaixadora da Missão do Brasil na ONU, na Alemanha e até 2022 foi chefe de gabinete do Secretário Geral das Nações Unidas António Guterres. Em entrevista ao SBT no dia 26 de julho, Viotti comentou sobre a disposição americana em investir na proteção ao meio ambiente e sobre a recente visita do administrador da NASA ao INPE. A parceria entre os dois países no que se refere ao espaço tem outras frentes. O Brasil foi o primeiro país da América Latina a ingressar no projeto Artemis, da Agência Especial Americana. O exemplo mais recente desta parceria foi o projeto apresentado em julho pelo ITA, Instituto Tecnológico de Aeronáutica, para que um satélite brasileiro possa pousar na lua para medições meteorológicas. 

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Sobre a meta para a proteção ambiental, Viotti comentou o anúncio americano feito este ano de investimento no Fundo Amazônia. A embaixadora afirma que a administração americana está empenhada para a aprovação no Congresso dos U$500 milhões para fundo. O Brasil reduziu em um terço o desmatamento nos últimos seis meses, sendo um bom indicador da atual administração brasileira para o tema ambiental, avalia a diplomata. Maria Luiza Viotti ainda comentou sobre a intenção de investimento em brasileiras cientistas que podem ajudar no desenvolvimento de novas tecnologias. Sobre política externa, a diplomata com larga experiência junto às Nações Unidas comenta sobre a relação brasileira com países que nem sempre estão em sintonia sobre temas globais mas enxergam o Brasil como um mediador da paz por tradição.

Patrícia Vasconcellos: A senhora é a primeira mulher a chefiar uma embaixada aqui nos Estados Unidos. Qual a avaliação ou a leitura que a senhora faz deste marco?

Maria Luiza Viotti: Em primeiro lugar, é uma honra chefiar a Embaixada do Brasil em Washington e ser a primeira mulher a fazê-lo. O fato de que isso esteja ocorrendo apenas agora é uma indicação de que temos ainda muito a avançar no Brasil, em matéria de igualdade de gênero. Eu espero que haja mais mulheres nessas posições de liderança e que possamos logo chegar a um momento

P.V: Na quarta-feira desta semana (25. jul), o administrador da Nasa esteve em São José dos Campos (SP), no INPE, para sugerir uma parceria entre Estados Unidos e Brasil.  A senhora apresentou as credenciais para o presidente de  americano no fim de junho. Naquele encontro a senhora teve oportunidade de conversar com o presidente americano sobre o  tema de como evitar o desmatamento na Amazônia?

M.L.V:  Tive oportunidade sim. O presidente mesmo foi muito enfático em reafirmar a disposição de trabalhar muito estreitamente conosco, em matéria de mudança do clima. Essa visita do administrador da Nasa ao Brasil é muito interessante, porque abre perspectivas de aumentarmos a cooperação, em matéria de monitoramento ambiental. Eu entendo que o Brasil já vem fazendo monitoramento por satélite - o que tem nos ajudado muito a combater o desmatamento, com resultados muito positivos, como temos visto ultimamente na Amazônia, mas a NASA dispõe de sistemas ainda mais avançados e com informações em tempo real. Essa é uma perspectiva muito interessante de cooperação. 

P.V.: Algum telefonema, algum contato previsto entre os presidentes Lula e Biden, para que eles tratem desse assunto dos satélites da NASA, para monitoramento da Amazônia?

M.L.V: Eu não recebi ainda informação sobre isso, mas acho que seria muito positivo que houvesse uma conversa entre os presidentes. O Brasil vai sediar em breve uma reunião dos países amazônicos para tratar dessa questão de mudança do clima e da cooperação em bioeconomia - como promover atividades sustentáveis na região -, então há uma série de iniciativas que estamos fazendo nessa direção e que seria interessante que pudesse haver essa comunicação a respeito, no mais alto nível.

P.V.:  O presidente americano Joe Biden afirmou esperar que os Estados Unidos possam pagar para que países como o Brasil possam agir de forma a coibir a evitar o desmatamento. O que efetivamente já tem acordado - canais de comunicação nesse sentido -  além dos 500 milhões de dólares que os Estados Unidos já anunciaram de intenção de investimento no fundo Amazônia.

M.L.V: A decisão do governo americano de aderir ao fundo foi muito importante, uma sinalização que foi muito apreciada e o anúncio da disposição de contribuir com 500 milhões de dólares para o Fundo Amazônia também é muito importante. Nós esperamos que isso se materialize. É claro que depende de aprovação pelo Congresso, mas eu noto nos meus contatos aqui que a administração norte-americana está muito empenhada e muito interessada em que isso ocorra. Nós temos um grupo de trabalho de alto nível, que discute uma série de uma gama de temas ligados ao combate ao desmatamento e esse grupo deve ter uma nova reunião, creio que em Outubro, para que essa cooperação possa prosseguir.

P.V.: Há vários contatos em vários níveis das duas administrações. Estamos em um novo momento. Na Índia, por exemplo,  a secretária de energia dos Estados Unidos se encontrou com o ministro de Minas e Energia do Brasil. Naquela ocasião, eles anunciaram uma parceria para o desenvolvimento de tecnologia limpa, com foco no combustível para aviões um combustível menos poluente. Washington está envolvida nesta parceria?

M.L.V: O Brasil tem condições de assumir uma posição de vanguarda, de liderança, em matéria de energias renováveis. Nós temos uma das matrizes mais limpas, em termos de energia, suprimento de energia em geral, também de eletricidade.Temos feito enorme progresso no que se refere energia eólica, energia solar e, também em combustíveis sustentáveis. Temos um mecanismo de cooperação com os Estados Unidos, que tem se reunido regularmente e esses mecanismos têm identificado essa essa questão do desenvolvimento de combustíveis sustentáveis de aviação como um tema muito importante para cooperação entre os dois países. Eu entendo que dependa de mais de um esforço maior em termos de pesquisa e desenvolvimento desses novos combustíveis, mas há no Brasil empresas que já tem trabalhado nisso. A Embraer, por exemplo, está muito ativa nessa área e a possibilidades grandes de cooperação para que o Brasil se torne um grande fornecedor - não só para o mercado interno, mas também para exportação para outros mercados.

P.V.: Também ainda nesse assunto sobre energia limpa, há um foco ou desejo do governo americano em atuar no tema. Qual o engajamento dos dois países em relação a novas tecnologias e mulheres cientistas? Há uma intenção do governo brasileiro aqui nos Estados Unidos em investir ou estreitar os laços?

M.L.V:  Sem dúvida é algo importantíssimo e foi muito interessante descobrir que há aqui um grupo de mulheres cientistas brasileiras que estão trabalhando nos Estados Unidos em várias áreas: astrofísica, energia nuclear e várias outras. A Embaixada pode realizar um evento para justamente reunir essas cientistas brasileiras e pensar em formas de divulgação de oportunidades - de participação de mulheres, em atividades ligadas à Ciência do Desenvolvimento. 

P.V.: Política externa. Muito já foi dito sobre a repercussão ou interpretação das palavras do presidente Lula sobre por exemplo o conflito Ucrânia x Rússia. Seria correto dizer que o Brasil assume uma diplomacia ousada ao se posicionar de forma livre, direta e pontual, defendendo seus interesses em questões como o conflito Ucrânia-Rússia , mesmo quando não há um alinhamento com os anseios do governo americano?

M.L.V: A nossa posição sobre a Ucrânia é bem conhecida. O Brasil, como se sabe, votou a favor de resoluções nas Nações Unidas, na Assembleia Geral e no Conselho de Segurança, que condenaram a invasão e, portanto, nós acompanhamos a posição dos Estados Unidos. Mas nós também fizemos um apelo pela paz  - e isso é uma posição que está em sintonia com as nossas tradições e práticas diplomáticas. O Brasil tem sempre preferido a negociação, a diplomacia, como método para a solução de conflitos e isso tem sido compreendido pelos nossos interlocutores aqui nos Estados Unidos.

P.V.: China. Eu acompanhei a visita do presidente Lula a Pequim, quando ele se encontrou com o líder chinês.  Lula foi  recebido com a música "Um Novo Tempo", numa demonstração de uma remodelagem geopolítica. Como se alinhar economicamente à China, sendo diplomaticamente correto, sem criar atritos entre Brasil e Washington?

M.L.V:  O Brasil tem relações com os Estados Unidos, que valorizamos muito, que são extremamente sólidas e tradicionais importantes com o conteúdo econômico e Comercial também muito forte e queremos avançar ainda mais no estreitamento dessa cooperação. Mantemos também com a China relações que são também extremamente importantes como se sabe. Não seria o caso de fazermos uma opção por um ou por outro parceiro e isso é importante que seja compreendido. Não se trata de antagonismos. Trata-se apenas de procurar buscar uma cooperação que nos interessa que é importante para o Brasil, sem excluir nenhum parceiro 

P.V.: A senhora foi a Representante da Missão do Brasil na ONU e até ano passado chefiou o gabinete de António Guterres, Secretário Geral das Nações Unidas. Com esta experiência em cargos de liderança na ONU, a sra acredita que o Brasil pode liderar, ou no Conselho de Segurança onde tem uma cadeira temporária, ou em reuniões paralelas, uma posição de liderança pela paz em situações de conflito sem que necessariamente lidere missões de paz como foi no Haiti?

M.L.V: O Brasil ocupa de fato uma cadeira neste momento no Conselho de Segurança. Nós já temos uma participação bastante frequente no Conselho e isso é uma situação  que se iguala apenas ao Japão. Essa participação frequente acho que reflete muito a nossa disposição de atuar pela paz. Se assenta também numa tradição de participação de 70 anos de participação em missões de paz. Então o Brasil continuará a ter essa essa posição e, inclusive, buscar uma reforma no Conselho de Segurança, que permita que o Conselho possa refletir as novas realidades políticas.

P.V.: Quando o presidente Lula esteve aqui em Washington visitando o presidente Biden foi feito um convite para que o presidente americano visitasse o Brasil. Houve algum novo contato entre os dois países?

M.L.V:  Nos contatos que tem havido entre os dois países, nós temos insistido ou reafirmado o interesse em receber o presidente Biden no Brasil.  Isso depende, naturalmente, da conciliação de agendas, mas tem havido contatos sobre esse assunto e vamos continuar a demonstrar interesse, para que seja possível concretizar essa visita no mais breve prazo possível.

P.V.: Eleições presidenciais nos Estados Unidos. A administração Biden se mostrou muito atenta ao pleito no Brasil, se posicionando de forma a validar o resultado das eleições. Existe alguma intenção ou contato de que o inverso aconteça? O Brasil como parceiro no hemisfério sul atue de forma a validar nas eleições daqui a importância das instituições democráticas?

M.L.V:  A promoção da Democracia é algo que está muito presente na nossa agenda com os Estados Unidos. Durante a visita do presidente Lula, os dois presidentes trataram desse tema e expressaram inclusive, no comunicado conjunto a importância de uma cooperação nessa área -  não só de fortalecimento das instituições,  mas também de combate à desinformação. Então há uma cooperação em curso nessa área também.

P.V.:  Maria Luiza Viotti, muito obrigada. Mineira de Belo Horizonte, tem planos de visitar a terra natal? O que mais sente saudades de lá?

M.L.V: Normalmente vou no final do ano, para o Natal. Sinto muita falta de uma conversa com pão de queijo e cafezinho, com os amigos e família.

P.V.: Muito obrigada pela entrevista.

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