Brasil na COP27: O que esperar do governo e entidades setoriais?
Especialistas avaliam participação da delegação do governo atual e do próximo. Empresas também vão ao evento
A 27ª Conferência das Partes da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP27) tem grande expectativa sobre a participação do Brasil. Um dos motivos é o fato do país ter a Amazônia, a floresta tropical que regula parte do clima do globo. Infelizmente, nesse aspecto, o Brasil chegará como um convidado que esqueceu de trazer o presente. Ou pior, que usou o presente antes de entregar ao anfitrião da festa. É que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) monitorou um crescimento no desmatamento:
- 2018: 7.556 km²
- 2019: 10.129 km²
- 2020: 10.851 km²
- 2021: 13.235 km²
Além disso, o Brasil terá -- provavelmente, de forma inédita -- duas delegações. A oficial do governo federal, representada pelo Ministério do Meio Ambiente, com o chefe da pasta Joaquim Leite, e a não oficial, porém, convidada de honra, com o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e equipe.
Apesar da situação vergonhosa do desmatamento e a curiosa delegação dupla, o Brasil já pode ter esperança que, com Lula, países doadores do Fundo Amazônia, que pararam de transferir recursos em 2019, vão retomar a participação. Noruega e Alemanha já anunciaram que vão voltar a doar valores que somam 3 bilhões de reais.
Para Edson Escames, especialista em gestão ambiental e doutor em energia, para garantir esses e outros financiamentos, "no entanto, algumas ações por parte do Brasil seriam recomendadas, como o zoneamento definido entre o governo e as empresas privadas com políticas de apoio contra o desmatamento ilegal e até mesmo o comércio de madeira com origem comprovada".
É o que devem tentar Lula e equipe, a qual faz parte a ex-ministra -- que pode ser novamente -- do Meio Ambiente, Marina Silva, respeitada na comunidade internacional. É uma possibilidade de "a gente ganhar uma reputação boa. A gente vai, inclusive, valorizar nossos produtos agropecuários e pode combater o discurso de que estamos produzindo enquanto causamos desmatamento na Amazônia. Isso depõe contra a gente, contra nossos interesses no comércio internacional", analisou Escames.
A delegação do atual ministro vai se apoiar na energia elétrica, um trunfo brasileiro, já que nossa matriz se destaca com um índice renovável de 84%, frente aos 27% da média mundial. Aqui, energias solar e eólica bateram recordes de produção neste ano, respectivamente 14 GW e 22 GW. Somadas, são suficientes para fornecer energia para mais de 40 milhões de pessoas. Tem mais: recentemente, os ministérios do Meio Ambiente e de Minas e Energia publicaram portaria sobre a exploração das eólicas marinhas. O Brasil tem potencial para gerar 700 GW em alto mar ? que corresponde à 50 usinas de Itaipu. Todas estas energias renováveis e limpas excedentes poderão transformar o país em um relevante exportador de energia.
Finalmente, um mercado de carbono?
Uma das maiores expectativas no evento desse ano é, enfim, implementar uma política criada em 2015, na COP21, realizada em Paris. O mercado de carbono permitiria aos países que mitigam a emissão de gases, vender créditos para quem ainda emite mais do mitiga. No entanto, essa troca não ocorre com frequência pela falta de regulamentação.
"Ainda são necessários alguns critérios básicos como evitar a contagem dupla de créditos de carbono por meio de certificações, uma auditoria realizada por uma terceira parte independente entre os acordos ou a formalização de documentos que comprovem as contribuições de baixa emissão de poluentes de um país para a troca podem ser definidas nesta Conferência", explica Escames.
Entidades representativas também vão
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) apresentará a estratégia que tem contribuído para o Brasil avançar em direção a uma economia de baixo carbono, orientada por tecnologias limpas e processos produtivos mais eficientes.
No estande, serão apresentadas experiências bem-sucedidas de empresas que estão desenvolvendo estratégias de redução e neutralização de emissões de gases de efeito estufa. Os cases ilustram ações relacionadas aos quatro pilares da estratégia de baixo carbono estabelecidos pela CNI ? transição energética, mercado de carbono, economia circular e conservação florestal.
O espaço também vai oportunizar discussões sobre questões relevantes para o país nessa temática, como financiamento de ações climáticas e novas tecnologias, entre as quais, o hidrogênio verde.
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) entregou ao governo federal um documento com o posicionamento das federações estaduais de agricultura e pecuária, dos sindicatos rurais e de produtores rurais engajados.
"Os 5 milhões de proprietários rurais brasileiros estão prontos a desempenhar seu papel nas ambiciosas contribuições nacionalmente determinadas, propostas pelo Brasil junto ao Acordo de Paris", contou o presidente da entidade, João Martins.
Ele também citou que o setor é referência na promoção da adaptação e mitigação da agropecuária no trópico e que não abriu mão da responsabilidade de preservar, cumprindo as exigências do Código Florestal. "Tal cenário proporcionou um elevado grau de resiliência produtiva sem abrir mão da responsabilidade de garantir a segurança alimentar e energética do mundo".
A partir de amanhã, o SBT News conta sobre a participação das empresas brasileiras que vão apresentar seus negócios sustentáveis ao mundo.