Governo do Irã insinua que Salman Rushdie trouxe o ataque a si mesmo
Embora tenha negado envolvimento no ataque contra o escritor, o Teerã justificou as agressões
Um funcionário do governo iraniano negou nesta 2ª feira (15.ago) que Teerã esteja envolvido no ataque ao escritor Salman Rushdie, embora tenha justificado o esfaqueamento. Os comentários de Nasser Kanaani, porta-voz do ministério das Relações Exteriores do Irã, vieram mais de dois dias após o ataque a Rushdie em Nova York. O escritor respira sem a ajuda de aparelhos e está "no caminho da recuperação", de acordo com o agente de Rushdie.
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No entanto, o Irã negou ter feito outras operações no exterior visando dissidentes desde a Revolução Islâmica de 1979, apesar de promotores e governos ocidentais atribuírem tais ataques a Teerã. Enquanto o Irã não se concentrou no escritor nos últimos anos, uma fatwa (decreto) de décadas exigindo sua morte ainda está de pé.
"Em relação ao ataque contra Salman Rushdie nos Estados Unidos, não consideramos ninguém merecedor de reprovação, culpa ou mesmo condenação, exceto o próprio (Rushdie) e seus apoiadores", disse Kanaani. "A este respeito, ninguém pode culpar a República Islâmica do Irã", acrescentou. "Acreditamos que os insultos feitos e o apoio que ele recebeu foi um insulto contra seguidores de todas as religiões", disse.
Nos comentários feitos nesta 2ª feira, Kanaani acrescentou que o Irã "não tinha nenhuma outra informação além do que a mídia americana relatou". Ele também insinuou que Rushdie trouxe o ataque a si mesmo.
"Salman Rushdie se expôs à raiva e fúria popular ao insultar a sacralidade do Islã e cruzar as linhas vermelhas de mais de 1,5 bilhão de muçulmanos e também as linhas vermelhas de seguidores de todas as religiões divinas", disse Kanaani.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, embora não culpe diretamente Teerã pelo ataque a Rushdie, fez questão de mencionar o Irã em um comunicado elogiando os esforços do escritor em apoiar a liberdade de expressão e religião. "As instituições estatais iranianas incitaram a violência contra Rushdie por gerações, e a mídia afiliada ao estado recentemente se gabou do atentado contra sua vida", disse Blinken. "Isso é desprezível", lamentou.
A governadora de Nova York, Kathy Hochul, condenou o ataque a Rushdie em uma palestra no domingo, dizendo que "um homem com uma faca não pode silenciar um homem com uma caneta".
Relembre o caso
O escritor Salman Rushdie está se recuperando após ser esfaqueado durante uma leitura de seu livro em Nova York, Estados Unidos, na última 6ª feira (12.ago). Ele foi extubado e já está conseguindo se comunicar e brincar.
O agente de Salman, Andrew Wylie, afirma que, embora a "condição de Rushdie esteja indo na direção certa", a recuperação requer um longo processo. Rushdie, de 75 anos, sofreu danos no fígado e nos nervos de um braço e de um olho, disse Wylie anteriormente, e provavelmente perderia o olho ferido.
Hadi Matar, 24, se declarou inocente, no último sábado (13.ago), das acusações de tentativa de assassinato e agressão no ataque à Chautauqua Institution, um centro de educação e retiro sem fins lucrativos. Um juiz ordenou que ele fosse preso sem fiança depois que o promotor Jason Schmidt disse a ele que Matar tomou medidas para se colocar propositalmente em posição de prejudicar Rushdie, obtendo um ingresso antecipado para o evento em que o autor falaria e chegando um dia antes com uma identidade falsa.
"Este foi um ataque direcionado, não provocado e pré-planejado ao Sr. Rushdie", disse Schmidt. O ataque foi recebido com choque e indignação por grande parte do mundo, com homenagens e elogios ao premiado autor que há mais de 30 anos enfrenta ameaças de morte por seu livro "Os Versos Satânicos", que indignou muçulmanos e colocou um alvo em suas costas.
*Com as informações, Associated Press