Na véspera das eleições legislativas, oposição consolida força na Argentina
Governo de Alberto Fernández já havia perdido as primárias em setembro
Os argentinos voltam às urnas para eleger deputados e senadores neste domingo (14.nov), em uma votação que resultará na renovação parcial do Congresso. No país, as pesquisas de intenção de voto projetam a vitória da chapa Juntos pela Mudança (Juntos por el Cambio), de oposição ao presidente Alberto Fernández.
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Ao todo, 127 das 257 cadeiras da Câmara dos Deputados serão renovadas. No Senado, vão ser 24 em um total de 72. Atualmente, a coalizão ligada à ala governista detém 120 cadeiras na Câmara e a maioria absoluta no Senado, onde ocupa 41. Os levantamentos mais recentes apontam, no entanto, a desvantagem do partido peronista Frente de Todos perante as pesquisas de intenção de voto, confirmando as tendências durante as primárias, pleito obrigatório que define os candidatos que estarão aptos a concorrer nas eleições.
Em setembro, o presidente e a vice, Cristina Kirchner, perderam as primárias das eleições legislativas em 18 das 24 províncias argentinas. A derrota, por sua vez, se consolidou em redutos tradicionalmente peronistas, como regiões em torno da grande Buenos Aires. Na época, os pré-candidatos do Juntos pela Mudança, ligado ao ex-presidente Mauricio Macri, novamente foram favoritos, alcançando 40,02% dos votos. O Frente de Todos terminou as votações com 31,03%.
"A expectativa é que a vantagem obtida [nas eleições primárias] pela oposição seja ampliada nas eleições do dia 14 de novembro. Isso vai ter uma importante consequência política, que vai ser a mudança na composição do Parlamento", explicou Osvaldo Coggiola, professor do departamento de História da Universidade de São Paulo (USP), em entrevista ao SBT News.
A rejeição ao partido de Alberto Fernández cresceu nos últimos meses, impulsionada pela crise econômica instaurada no país. Coggiola destaca a questão da dívida externa com o Fundo Monetário Internacional (FMI) como fator que contribuiu para a derrota da chapa presidencial em setembro. "A Argentina não tem condições de pagar a dívida ao Fundo Monetário Internacional. Para refinanciá-la, o FMI exige um programa de ajustes em relação à aposentadoria e flexibilização trabalhista. Teríamos uma maioria [de pré-candidatos] favoráveis ao programa proposto pelo FMI do que a atual composição na Câmara", explicou Coggiola. A pandemia do coronavírus e o aumento da criminalidade e da pobreza estariam igualmente relacionados aos fatores que desencadearam a alta nos índices de rejeição. Quanto à inflação, os índices já figuram entre os maiores da América Latina, acumulando 52,1% no período de 12 meses.
Em caso de derrota nas urnas, Coggiola destaca que "um Executivo peronista e um Parlamento neoliberal vai criar um problema que pode ser não só político, mas institucional. O governo votando uma coisa e o Parlamento votando outra. A única possibilidade seria a busca de um acordo entre os dois. Nós temos um cenário econômico instável. Caso não haja um acordo e migre para a crise institucional, entraremos em uma situação que pode levar à hiperinflação".
Para María Paula Bertino, que integra o departamento de Ciências Políticas na Universidade de Buenos Aires (UBA), "a expectativa do governo é convocar todos aqueles que não haviam votado para irem às urnas neste domingo. Se elevar a participação, poderia modificar algum resultado. Em Buenos Aires, poderia reduzir a distância do partido do governo com a oposição". Ela reintera que, na capital, é esperado que a oposição vença com cerca de 50% dos votos. Segundo um levantamento divulgado na 5ª feira (11.nov) pelo jornal argentino Clarín, é esperado que a oposição Juntos pela Mudança vença em 15 das 24 províncias, incluindo as cidades de Buenos Aires, Córdoba, Santa Fé e Mendonza. Juntas, elas somam 1/3 do eleitorado. A nível nacional, a chapa deve sair das eleições com 40% dos votos, enquanto a do partido de Fernández deve ficar com 30%.
Candidato de extrema direita ganha destaque na imprensa internacional
Natural de Buenos Aires, o economista Javier Milei, líder do partido Liberdade Avança (Libertad Avanza), vem ganhando destaque na imprensa internacional. O candidato da extrema direita, de 51 anos, é a favor da legalização das drogas e do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Entretanto, adota um discurso de crítica às classes políticas, ao socialismo e a intervenção do Estado, com forte apelo popular. "Me ajudem a salvar este país", afirmou durante um comício da campanha.
Para Bertino, Milei pode ser classificado como um "personagem midiático", de discurso "vago" e "repetitivo". "Duas ou três palavras são a resposta para tudo. Um personagem que só ficaria bom em um programa de entretenimento", afirmou.
A figura caricata de Milei, associada ao estilo "despojado" do ex-cantor de rock, contribuem para o aumento de sua popularidade, mas não ao ponto de tornar o seu partido favorito nas pesquisas. "Milei tem crescido nas soldagens. Ele é passível de aceitar tudo que o FMI propõe sem mudar uma vírgula. Nós temos, por outro lado, uma oposição de esquerda que tem crescido e que propõe, simplesmente, o não pagamento. Embora não tenham chance de vencer as eleições, as duas opções, somadas, perfazem mais de 10% de intenções de votos", ressaltou Coggiola.