Deputado chileno discursa por 14 horas para conseguir voto; entenda
Câmara dos Deputados do Chile analisa pedido de impeachment do presidente Sebastián Piñera
O deputado Jaime Naranjo, do Partido Socialista do Chile, preparou um documento de 1,3 mil páginas como Acusação Constitucional contra o presidente do país, Sebastián Piñera, e o leu por mais de 14 horas na Câmara do país para garantir, assim, que o parlamentar Giorgio Jackson, do Revolução Democrática, terminasse de cumprir uma quarentena obrigatória e chegasse ao Congresso a tempo de votar pela continuidade do processo que pode retirar Piñera do posto. Naranjo, que teve ao menos uma pausa para ir ao banheiro, terminou o discurso à 1h25 desta 3ª feira (9.nov).
+ Leia as últimas notícias no portal SBT News
São necessáros 78 votos para o prosseguimento do pedido de impeachment; sem Jackson, haveria 77. O deputado estava cumprindo quarentena, em Santiago, por ter ficado próximo do deputado Gabriel Boric (Convergência Social), que foi diagnosticado com covid-19 na semana passada. O período de isolamento terminou às 23h59 desta 2ª feira (8.nov) e o parlamentar chegou ao Congresso à 1h26.
Pelo Twitter, Jackson disse que, na semana passada, os governistas "se recusaram a tomar medidas para reativar a votação telemática (que usamos por mais de 15 meses)". "Hoje, eles renunciaram à 'questão preliminar' da Acusação Constitucional apenas pelo cálculo do tempo, embora na prática isso enfraqueça sua defesa. Eles não estão disponíveis para suspender a sessão para votar amanhã", completou. O deputado classificou ainda como "lamentável" a tentativa de realizarem a votação sem que pudesse estar presente para participar.
À frente do governo chileno desde 2018, o presidente Sebastián Piñera encerra o mandato em março de 2022. Sucessora de Michelle Bachelet, sua gestão encarou, além das manifestações em 2019, a pandemia do coronavírus e escândalos envolvendo o presidente. O mais recente, em outubro deste ano, relacionou o líder ao Pandora Papers, no qual documentos vazados apontaram irregularidades na venda de uma empresa de mineração que pertencia ao chileno.
A transação, formalizada em 2010 por intermédio de uma empresa offshore nas Bahamas, previa que o pagamento da venda seria dividido em três parcelas. No contrato, entretanto, estava firmado que não fosse estabelecida uma área de proteção ambiental sobre a zona de operações da mineradora a partir do terceiro pagamento. Na época, Piñera cumpria o primeiro mandato como presidente.
A informação fez com que deputados da oposição apresentassem ao Congresso o pedido de impeachment do chefe de Estado, alegando que ele teria utilizado o cargo para negócios pessoais. No último dia 29, o presidente entregou sua defesa à Câmara dos Deputados.
Veja também: