Publicidade

"Impedidos de viver": Joshua Strul relembra o Holocausto, 76 anos depois

Sobrevivente judeu, Strul deu entrevista ao SBT News pelo Dia Internacional da Lembrança do Holocausto

"Impedidos de viver": Joshua Strul relembra o Holocausto, 76 anos depois
Publicidade
"O céu ficou cinzento, uma tempestade intensa de neve caía. E nós ficamos esperando no frio, em um vento cortante. Por cinco horas em pé. Sem alimentos, sem água, sem nada". Com essas palavras, o sobrevivente do Holocausto Joshua Strul, hoje com 87 anos, conta como ele e a família aguardavam para embarcar em um trem que os levaria a um campo de concentração em 1942. Por sorte, ou como ele mesmo diz, intervenção divina, eles não embarcaram. Conseguiram sobreviver.

O mesmo não aconteceu com ao menos outras seis milhões de pessoas. Judeus, ciganos, homossexuais, negros, testemunhas de Jeová, deficientes e opositores políticos - em sua maioria comunistas - foram perseguidos. 

Em memória aos mortos neste período da história, 27 de janeiro foi adotado como o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto. A data definida pela Organização das Nações Unidas, em 2005, levou em conta a libertação dos últimos presos do maior campo de extermínio do regime nazista: Auschwitz-Birkenau, na Polônia. Em 2021, comemoram-se 76 anos desse dia.
 

Joshua Strul ouviu relatos de libertos e soldados que estavam em Auschwitz. E conta nunca ter esquecido os horrores sobre câmaras de gás, frio e fome, que começavam antes mesmo do trajeto aos campos de concentração. "Dentro dos próprios vagões, ficavam quatro noites e três dias para chegar. Espremidos, fracos, velhos, sem ar e sem alimentos", conta. "Perderam toda a identidade de pessoas. Não eram chamados pelos nomes, eram tatuados com simples números".

Strul não foi para um campo. Mas passou dois anos em um gueto em Baciu, na Romênia, ao lado da família. Ele tinha 9 anos quando determinaram que o pai abandonasse a loja de cereais que tinha e a família deixasse a casa na cidade para viver com outros judeus em barracos cobertos por folhas.

"No verão, era um calor inclemente. Suávamos como em uma sauna. No inverno, um frio glacial. Tremendo até os ossos". O romeno conta ter passado os dois anos sem sair de dentro do barraco, após ter apanhado na rua por usar a estrela de David junto à roupa. "Quando viram que eu sou judeu, me cercaram e xingaram de porco e sujo. Me bateram. E, desde então, minha mãe não deixava mais sair".
 

"Tudo era proibido para nós. Foram dias de angústia, não sabíamos o que seria no futuro. Saber que amanhã poderíamos não estar mais vivos era a nossa angústia".


Strul chegou a perder um irmão de 2 anos por inanição e diz não esquecer dos momentos de necessidade que passou com a família. Tudo de uma hora para outra. "Meu pai sofreu um decreto do governo que declarava confisco para todas as lojas de judeus. Fomos despojados de todos os bens, e tínhamos 24 horas para deixar a cidade". 

Lembra também que a família só não morreu de fome porque a mãe, Rosa Strul, trabalhava na casa de uma família e conseguia levar cascas de alimentos para casa. "Ela cortava a casca grossa e trazia na bolsa. De volta em casa, cozinhava e fazia sopa para vivermos mais um dia". À época, o pai, Fisher Strul, foi separado da família de 7 filhos e obrigado a trabalhar em construções da guerra. Ele também sobreviveu. 
 

Hoje em São Paulo, após 54 anos no Brasil e uma família de quatro filhos e dez netos construída ao lado de Manuela Strul, 77, Joshua conta a sua história para garantir que a memória dos anos de dor não seja esquecida. "Fomos impedidos de viver, crescer, brincar, sonhar e amar. O meu relato é a voz de uma criança cuja infância foi roubada".

Ele ainda destaca a importância em se lembrar do tema para que nada semelhante ao que foi o nazismo ocorra novamente. "O que eu quero enfatizar é que o Holocausto não foi ao acaso ou aleatoriamente. Ele foi premeditado. Foi minuciosamente planejado. Por um governo legítimo escolhido pelo povo alemão e em nome da pureza racial". (Confira o vídeo com o depoimento no final).

 

Holocausto


O período entre 1941 e 1945 foi marcado pelo genocídio de nazistas contra judeus e outros grupos perseguidos. A intenção era erradicar a população judaica na Europa. O regime nazista foi encabeçado pelo ditador alemão Adolf Hitler. A Alemanha Nazista deixou de existir após o país ser derrotado em maio de 1945, no fim da Segunda Guerra Mundial.

O embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley, reforça a importância em se recordar o período para que ele não caia no esquecimento. "Se você não lembra, não vai saber das consequências desse ato. Do genocídio que foi. Os jovens vão esquecer, por ser algo muito distante".

Yossi Shelley também lembra o papel que todos os países devem ter para a garantia da paz mundial. "O mundo tem que ser sério e não ser negligente como foi na Segunda Guerra Mundial, em que os judeus foram mortos e quase ninguém olhou para ajudar. Só 7 mil pessoas ajudaram judeus nessa época. Dois deles brasileiros. A comunidade internacional tem que enfrentar essa possibilidade agora e não deixar para o último momento", declarou.

 
Publicidade
Publicidade

Assuntos relacionados

portalnews
lis-cappi
holocausto
memoria holocausto
nazismo
judeus
josua strul

Últimas notícias

SBT News na TV: Bolsonaro pede passaporte de volta; Lula encontra Macron

SBT News na TV: Bolsonaro pede passaporte de volta; Lula encontra Macron

Presidente brasileiro criticou a situação das eleições na Venezuela e o tratamento dado por Maduro aos candidatos de oposição
Incêndio de grandes proporções atinge prédio no Recife

Incêndio de grandes proporções atinge prédio no Recife

Fogo pode ser visto de diversos bairros da capital pernambucana
Policiais militares do Rio Grande do Sul foram indiciados por tortura

Policiais militares do Rio Grande do Sul foram indiciados por tortura

Corregedoria comprovou a participação dos PMs no espancamento de um reciclador em Viamão
Corte Internacional de Justiça ordena que Israel garanta a chegada de alimento em Gaza

Corte Internacional de Justiça ordena que Israel garanta a chegada de alimento em Gaza

Irlanda decidiu se juntar à África do Sul na ação que acusa o governo israelense de genocídio
Papa Francisco relembra gesto de Jesus Cristo e lava os pés de 12 detentas em Roma

Papa Francisco relembra gesto de Jesus Cristo e lava os pés de 12 detentas em Roma

Esta foi a primeira vez que um Papa escolheu apenas mulheres para participar da cerimônia
OMS afirma que surto atual de dengue pode ser o pior da história

OMS afirma que surto atual de dengue pode ser o pior da história

Brasil, que já registrou mais de dois milhões de casos, com 830 mortes confirmadas
Pesquisa revela crise global em distúrbios do sono

Pesquisa revela crise global em distúrbios do sono

Apenas 13% dos participantes afirmam dormir bem todas as noites
PRF inicia Operação Semana Santa nas estradas

PRF inicia Operação Semana Santa nas estradas

Agentes querem coibir ações perigosas ao volante, como ultrapassagens indevidas, excesso de velocidade e embriaguez ao volante
O que se sabe sobre DJ O Mandrake, funkeiro brasileiro que colaborou em álbum de Beyoncé

O que se sabe sobre DJ O Mandrake, funkeiro brasileiro que colaborou em álbum de Beyoncé

Música SpaghettII da cantora norte-americana usa um trecho de “Aquecimento das Danadas”
Homem incendeia mais de 70 veículos e causa prejuízo milionário em Santa Catarina

Homem incendeia mais de 70 veículos e causa prejuízo milionário em Santa Catarina

Criminoso invadiu loja em Joinville e destruiu carros; dono do estabelecimento afirma que não sabe motivo do crime
Publicidade
Publicidade