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Chefe da PF no Distrito Federal atuou em negócio de acusado no Rio

Victor Santos aparece em conversa "suspeita" com delegado Ângelo Ribeiro, réu no caso do "Rei Arthur"

Chefe da PF no Distrito Federal atuou em negócio de acusado no Rio
Delegado Victor Santos
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Nas investigações sobre o delegado Ângelo Ribeiro, acusado de corrupção e lavagem de dinheiro junto com o empresário Arthur Soares, o "Rei Arthur", o Ministério Público do Rio reuniu indícios de que um dos parceiros nos negócios suspeitos na área da saúde é o atual superintendente da Polícia Federal, no Distrito Federal, delegado Victor Cesar Carvalho dos Santos. 

Nomeado no final de 2021 para o cargo, Victor aparece em conversas com Ribeiro sobre intermediação de contratos milionários da saúde com empresas privadas e pessoas investigadas por desvios, como o ex-secretário da Saúde do Rio Sérgio Côrtes - preso e condenado na Lava Jato, com o ex-governador Sérgio Cabral.

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"Foi recuperado um longo chat de conversa de Ângelo Ribeiro com um interlocutor de prenome Victor, no qual eles falam do envolvimento de ambos em variados negócios, inclusive nas áreas de saúde e segurança privada, envolvendo grandes empresas", registra documento assinado pelos seis promotores do Grupos de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).

Trecho MO
Trecho documento MPRJ | Reprodução

"Esse tipo de envolvimento no meio empresarial mostra-se absolutamente incompatível com o exercício das funções policiais. Os dois interlocutores, ambos autoridades policiais, conversam sobre participação em negócios variados, inclusive com empresários e agentes públicos investigados pelo Ministério Público e pelas próprias polícias Federal e Civil no Rio de Janeiro."

Para o MP, os delegados "não se portam como simples investidores, mas como atores centrais dessas negociações". E "utilizam dos cargos e funções públicos para alçar prestígio e contatos no meio empresarial".

Os negócios "suspeitos"  do delegado Ribeiro na área da saúde teriam ocorrido entre 2016 e 2018. O MP avalia haver indícios de que as negociações de Ribeiro e Santos envolvam ilícitos.

doc mp
Trecho documento MPRJ | Reprodução

"Analisando detidamente o diálogo entre eles, percebe-se que há fortes indícios de que essas negociações envolvem práticas ilícitas, ainda que o objeto central das negociações em si seja lícito."

Os negócios envolveram também o jornalista Tyndaro Menezes, chefe do núcleo de investigação da Rede Globo no Rio, conforme revelou o SBT News. O jornalista, que nega qualquer ilícito, foi demitido pela emissora. 

Victor aparece nessas tratativas, sobre importação de insumos da China para uma grande rede de hospitais. Em uma conversa por mensagem de Ribeiro e Tyndaro, destacada pelo Gaeco, o delegado afirma: "Fui sincero que acionei o Victor e que estamos caminhando". E acrescenta: "Victor vai até o fim para não precisar de SC" - que o MP acredita ser Sérgio Côrtes. "Vamos esperar a reunião do contato do Victor, presidente e diretor de compras para tirar isso a limpo." 

doc mp
Trecho documento MPRJ | Reprodução

Aprofundamento 
Ao denunciar o delegado e Rei Arthur - pelo recebimento de R$ 2 milhões de propinas, para favorecer o empresário em inquérito na Delfaz -, o Ministério Público pediu à Justiça para prosseguir nas investigações, que têm como alvo central Ângelo Ribeiro. Ele foi chefe da Delegacia Fazendária do Rio (Delfaz) de 2008 a 2015. 

"Não se pode ignorar que Ângelo Ribeiro possui tentáculos nas diversas esferas de poder, se sentindo, portanto, intocável, a ponto de o ex-Governador Sérgio Cabral ter dito, em oitiva perante este órgão, que, como governador, não conseguiria tirar o denunciado da Delfaz, delegacia estratégica no Estado, em razão da forte influência de políticos e empresários em seu favor", registra o documento do Gaeco.

"Esses são apenas alguns trechos dos vários diálogos entre as duas autoridades policiais, os quais demonstram o completo envolvimento em atividades negociais, no mínimo, suspeitas." 

Para os promotores do Gaeco, "se percebe da análise de todos os diálogos recuperados no celular de Ângelo Ribeiro é que ele é uma peça fundamental na engrenagem criminosa instalada no Estado do Rio de Janeiro, servindo de elo entre agentes públicos e políticos em importantes postos no Legislativo e no Executivo com diversos empresários".

Ribeiro foi afastado do cargo que ocupava na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) e algo de buscas, por ordem do juiz Marcello Rubiolli, da 1ª Vara Especializada do Rio, na semana passada. Depois de sair da Delfaz, em 2015, quando a Lava Jato atingiu o então governador Sérgio Cabral, ele passou a ocupar cargo na Alerj, cedido pela Polícia Civil, por indicação do então presidente, deputado Jorge Picciani - também preso nas investigações da força-tarefa do MPF do Rio.

O superintendente da PF não figura como alvo da investigação de propina do Rei Arthur para Ribeiro. Victor Santos é do Rio, comandou a área de combate ao tráfico, foi da Corregedoria e teve uma empresa de segurança privada, a BSA - da qual se desvinculou nos últimos anos. O delegado assumiu o posto em outubro de 2021. Procurado, ele não se manifestou.

+ MP apura envolvimento de jornalista da Globo com delegado acusado de corrupção

+ Justiça do Rio manda prender 'Rei Arthur' por lavagem de dinheiro

A reportagem apurou que o superintendente conhecia Ribeiro, do Rio. Na época dos fatos, sua empresa de segurança prestava serviços para a rede de hospital, que era alvo dos interesses de Ribeiro. O negócio, que envolveria importações da China, não teria prosperado. O MP ainda não aprofundou as investigações desses negócios do réu. 

Procurada, a direção-geral da PF divulgou nota: "A Polícia Federal não foi notificada sobre os fatos".

Os advogados que defendiam Ângelo Ribeiro, no processo, foram procurados e informaram que deixaram de representar o delegado desde a noite de ontem. Ângelo Ribeiro não foi localizado. Anteriormente, seus defensores afirmaram que ele era inocente. "A defesa tem certeza que os fatos serão devidamente esclarecidos e que a Justiça reconhecerá a improcedência da denúncia." As defesas de Sérgio Côrtes e Rei Arthur têm negado o envolvimento deles em crimes.  

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