Vítima de bala perdida no Rio é enterrada sob protestos e comoção
Montador de móveis, que perdeu filho em chacina há dois anos, morreu após confronto entre PM e traficantes
O corpo de Valdemar Rufino da Silva, morto baleado em um confronto de traficantes com a Polícia Militar (PM) na favela do Jacarezinho, no Rio, foi enterrado neste sábado (18.mar) em meio a muita revolta e emoção.
No velório, a filha não suportou tanta dor e desmaiou. "Mataram minha jóia rara, mataram o amor da minha vida, a minha referência, o meu tudo", afirmou a filha Ingrid Rufino da Silva.
Silva tinha 66 anos. Foi baleado durante um confronto envolvendo criminosos e policiais militares que faziam um patrulhamento na favela na última 5ª feira (16.mar). A vítima tinha saído de casa para atender um cliente.
O montador morreu no dia em que seria aniversário do filho faria aniversário. John Jefferson Mendes Rufino da Silva foi uma das vítimas do episódio conhecido como Chacina do Jacarezinho, em maio de 2021, que deixou 28 mortos.
Segundo a PM, Silva foi vítima de bala perdida. Os agentes abordaram três suspeitos, que atiraram. Os policiais, então, revidaram e o idoso foi atingido durante o confronto.
A perícia técnica da Polícia Civil vai indicar quem fez o disparo. Para a cunhada do montador, Rosali Mendes da Silva, ele foi mais uma vítima. "Foi mais uma vida embora. Ficou na sala de cirurgia brigando por sete horas, por sete horas. Tomou um tiro de fuzil no peito, chegando do trabalho."
A família do trabalhador decidiu que vai processar o governo do Rio. É o que pretendem fazer também os parentes de Júlio César Rodrigues Pereira, de 27 anos. Ele foi detido durante a correria provocada pelo mesmo tiroteio no Jacarezinho.
Neste sábado, a Justiça decidiu manter o rapaz preso, por tráfico de drogas. Familiares, amigos e o patrão do jovem fizeram um protesto em frente à cadeia. Pereira trabalha em uma loja de laticínios dentro da comunidade.
"O menino trabalha todo dia, o rapaz vai pra casa botar comida pros filhos dele, dali volta pro trabalho, depois ele vai na escola buscar o filho, volta pro trabalho de novo", disse o patrão. Hamilton Machado. "Ele tava passando no lugar errado, na hora errada."