Pandemia afetou de forma desigual a população brasileira, diz ONU
Pesquisa mostra que letalidade foi de 56% entre os brancos e de 79% entre os não brancos
Relatório divulgado nesta 4ª feira (29.set) pela Organização das Nações Unidas (ONU) mostra que a pandemia de covid-19 evidenciou as desigualdades no Brasil. Dados revelam que, dentre os pacientes internados, a letalidade foi de 56% entre os brancos e de 79% entre os não brancos. Já em relação aos mortos por nível de escolaridade, 71% dos óbitos foi entre brasileiros sem instrução.
+ Leia as últimas notícias no portal SBT News
A pesquisa diz que mais de 90% das mortes pelo novo coronavirus registradas no Brasil ocorreram nos 12 estados com maior proporção de domicílios em aglomerados subnormais, que são formas de ocupação irregular de terrenos. Levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que há, no país, mais de 5,1 milhões de domicílios em condições precárias. Eles fazem parte de mais de 13,1 mil aglomerados subnormais.
Segundo o documento Covid-19 e Desenvolvimento Sustentável: Avaliando a crise de olho na recuperação, embora todos os países sejam afetados, sociedades mais desiguais são as que mais sofrem com as consequências pandêmicas.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que US$ 100 bilhões serão necessários, nos próximos 5 anos, para a prevenção e preparação para uma possível próxima pandemia em 67 países de baixa e média renda.
Segundo a ONU, a pandemia de covid-19 representa a maior crise sistêmica mundial desde a fundação da organização, em 1945. Além disso, desencadeou uma crise que atinge duramente todas as dimensões do desenvolvimento humano: 1) renda, com a maior retração da atividade econômica registrada desde a Grande Depressão; 2) saúde, com número de mortes acima de 4,5 milhões até setembro de 2021; 3) e educação, com estudantes longe da escola e sem acesso à internet, fora os que não voltarão a estudar, ampliando desigualdades já existentes.
A entidade cita ainda os efeitos indiretos menos visíveis, como o trabalho infantil e o aumento da violência doméstica, provavelmente ainda subnotificados.
"O Brasil precisa criar uma recuperação que 'reconstrua melhor', o que significa não só recuperar de imediato as economias e os meios de subsistência, mas também salvaguardar a prosperidade a longo prazo", diz o relatório. "Para isso, é necessária uma nova geração de políticas públicas e transformações sociais que facilitem a transição para uma sociedade menos desigual, mais resiliente e com impactos controlados sobre a natureza. O futuro começa hoje, não amanhã", conclui.