Desfecho para guerra na Ucrânia pode estar longe, avalia especialista
Próximos caminhos para Rússia se resumem em novas negociações ou expansão generalizada do conflito
Pouco tempo após a Rússia diminuir o número de ataques à Ucrânia, as forças militares voltaram a intensificar os combates, mirando, sobretudo, áreas residenciais no leste do país. Tais ações são consideradas como crimes de guerra pela comunidade internacional e já estão sendo investigadas por membros da Anistia Internacional, União Europeia (UE) e do Tribunal Penal Internacional. Os assíduos conflitos, no entanto, ainda estão longe de um desfecho quando o assunto se volta para as negociações entre os países.
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Segundo análise de Angelo Segrillo, professor e especialista em história da Rússia e União Soviética, a Ucrânia é um interesse estratégico por parte de Moscou, enquanto a luta para o governo ucraniano baseia-se em uma guerra existencial, cujo objetivo é garantir a soberania e sobrevivência do país. Além disso, o apoio de nações ocidentais contribui significativamente para a duração do conflito, seja por meio do envio de suprimentos e armamentos ao exército ucraniano ou pela implementação de sanções contra o Kremlin.
"As sanções vêm mostrando grande impacto. Isso porque a economia da Rússia está sendo isolada pelas nações ocidentais mais avançadas, o que, a curto prazo, foi adaptado pela formação de uma economia de guerra, intervenção do Estado e confisco cambial. Situação essa que pode levar Moscou a problemas sérios a longo prazo", diz Segrillo. Para ele, é difícil prever o tempo de duração da guerra, mas o cenário atual aponta para um conflito militar de desgaste com mais tempo, que será sentido por todas as partes: Ucrânia, Rússia e Ocidente.
Contudo, as consequências da ofensiva já estão causando um impacto global, principalmente na oferta e no preço de commodities importantes. Com as exportações ucranianas bloqueadas pela Rússia no Mar Negro, países africanos, por exemplo, estão enfrentando o início da escassez de alimentos, intensificando o nível de insegurança alimentar local. De acordo com levantamentos da Organização das Nações Unidas (ONU), o valor cobrado pelo trigo cresceu 56,2% em apenas um ano.
Tal situação vem sendo alvo constante de críticas por líderes da comunidade internacional. O último a se pronunciar sobre o assunto foi o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, que responsabilizou Moscou pela atual crise alimentar mundial. Durante declaração na 5ª feira (30.jun), o diplomata reforçou que somente o fim da guerra na Ucrânia pode impedir o aumento da fome entre as populações, mas insistiu que a decisão está nas mãos do presidente russo, Vladimir Putin.
Neste contexto, Segrillo afirma que enxerga dois caminhos que podem ser seguidos pelo Kremlin. O primeiro seria a volta das negociações de cessar-fogo com o governo ucraniano -- congeladas desde março --, fazendo com que a Rússia volte pouco a pouco ao jogo internacional. "Isso pode levar a um acordo que não vai ser 100% para todo mundo, mas necessário", avalia o professor. A outra alternativa, por sua vez, seria um acirramento das contradições entre Moscou e o Ocidente, resultando em uma guerra mais generalizada e acelerando o isolamento do país.
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No caso da segunda opção, Segrillo reforça que o papel da China seria fundamental, uma vez que o país tem interesse em manter relações com a Rússia por questões geopolíticas. O cenário, no entanto, é contraditório, já que o mercado chinês se tornou a segunda maior economia do mundo porque manteve relações estratégicas importantes com as nações ocidentais. Por isso, até o momento, a China aderiu uma posição neutra em relação à guerra, dizendo apenas que está do "lado certo" do conflito.
Armas nucleares
Além da expansão do conflito militar na Ucrânia, os governos mundiais estão preocupados com a possível utilização de armas nucleares por parte do exército russo. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, subiu o tom nas afirmações e declarou que, claramente, a Rússia está considerando o uso de armas químicas e biológicas no território ucraniano. A declaração ocorreu com a intensificação das grandes sanções econômicas aplicadas contra Moscou, que já englobam mais de US$ 300 bilhões em ativos bloqueados.
Nesta semana, Putin disse estar aberto para o diálogo sobre a não proliferação de armas nucleares. Em discurso na cidade de São Petersburgo, o chefe de Estado assegurou que o Kremlin quer garantir "a estabilidade estratégica" e mantém aberta a conversa para "preservar os regimes de não proliferação de armas de destruição em massa e melhorar a situação no campo do controle de armas". Apesar de ambos os presidentes defenderem a questão, ainda não houve contato direto entre os líderes.
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