Governo prepara pente-fino na gestão de Moro no Ministério da Justiça
Estratégia é contrapor o atual trabalho com o do ex-juiz, que comandou pasta entre jan.2019 e abr.2020
Uma imagem com o ministro da Justiça, Anderson Torres, divulgada em redes sociais, mostra o número de apreensão de cocaína nos últimos três anos. O post, que tem a assinatura da pasta, aponta o volume de drogas interceptadas nos últimos três anos e exalta um aumento de 800% entre 2019 e 2021. O que levou o governo a preferir a comparação entre anos de Jair Bolsonaro no Planalto tem nome e sobrenome: Sergio Moro, ex-integrante da Esplanada entre janeiro de 2019 e abril de 2020, e hoje um dos candidatos a adversário do atual presidente.
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Segundo os números divulgados, em 2019, início da gestão Moro na Justiça, foi aprendida 1,7 tolenada de cocaína. Em 2020, já sem Moro a partir de maio -- substituído por André Mendonça, hoje ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) --, o volume chegou a 8 toneladas. Em 2021, que ganha letras garrafais como recorde no período, foram 18 toneladas, "800% de aumento em relação a 2019". Medonça ficou no ministério até 29 de março no ano passado, sendo substituído pelo delegado da Polícia Federal Anderson Torres, que deve disputar o cargo de senador pelo Distrito Federal.
Além da apreensão de drogas, a ideia é avançar nas comparações de trabalhos como tráfico de pessoas, licitações para compras de armas para policiais estaduais, combate à corrupção e lavagem de dinheiro. A principal missão de Torres, entretanto, é garantir a reestruturação das carreiras e, por tabela, o reajuste das polícias federais, rodiviária e penal. Na pasta, a expectativa é de que o aumento ocorra até o fim deste semestre, prazo final permitido pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) para reajustes salariais.
Mesmo como um instrumento de Bolsonaro na disputa com Moro -- o delegado pode até mesmo permanecer no ministério até o final deste ano, caso o presidente peça --, Torres é um antigo conhecido do ex-juiz na Esplanada. Em janeiro de 2020, o policial era secretário de Segurança do Distrito Federal e liderou uma rebelião contra o ex-juiz. Torres e secretários estaduais levaram até Bolsonaro a ideia de divisão do Ministério da Justiça, que enfraqueceria Moro. Quem estimulou o atual ministro a manter o tema em forno alto entre os colegas foi o próprio Bolsonaro na época.