"O que precisa é diálogo entre os Poderes", afirma Bolsonaro
Presidente negou estar fazendo ataques ao STF, mas criticou ações de ministros
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou nesta 5ª feira (5.ago) que é necessário um "diálogo entre os Poderes" e que está à disposição para se encontrar com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Fux. A declaração foi feita na transmissão ao vivo semanal de Bolsonaro pela internet, realizada, desta vez, horas depois de Fux cancelar encontro com os chefes do Executivo e Legislativo, em decorrência de falas do presidente da República contra integrantes do Supremo.
"O que precisa, aproveitando a nota do ministro Fux, ele tem razão em muita coisa aqui, é um diálogo entre os Poderes. Até em guerra, os comandantes de exércitos adversários conversam, até para saber se o outro quer armistício. Da minha parte, conversar com vossa excelência, ministro Fux, está aberto o diálogo, não tem problema nenhum", pontuou Bolsonaro.
Instantes depois, na live, o presidente disse que seu dever "é trazer felicidade para o povo brasileiro, não é medir força, eu e o Supremo, não é medir força". Além disso, negou estar fazendo ataques ao STF: "Estou questionando o ministro Barroso e o ministro Alexandre de Moraes. Os senhores têm que entender que os senhores não são os donos do mundo, não são os donos da verdade, vocês não foram eleitos para decidir o futuro de um povo. Quem foi eleito foi eu e o Congresso brasileiro. Vocês foram eleitos para interpretar a Constituição".
Bolsonaro classificou ações dos ministros como ataques ao governo e não condizentes com a democracia. Culpou-os ainda por não conseguir "render muito mais" no exercício da presidência. Barroso foi o principal alvo das críticas do chefe do Executivo desta 5ª feira. Defendendo a implementação do voto impresso nas eleições, o presidente voltou a dizer que o ministro interferiu no Legislativo para que Proposta de Emenda à Constituição (PEC) sobre o tema não passasse, o que já foi rebatido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Bolsonaro o acusou ainda de dever favores ao Partido dos Trabalhadores (PT), ter "paixão pela esquerda no Brasil" e, no que diz respeito às urnas eletrônicas, não ter "coragem de assumir a sua posição".
Para defender o voto impresso, também, o presidente falou de forma enganosa sobre um inquérito da Polícia Federal (PF) aberto em 2018 a pedido do TSE, sugerindo que a investigação provou a vulnerabilidade das urnas, o que não foi constatado.
Críticas a medidas restritivas
Como de costume em suas transmissões ao vivo semanais, Bolsonaro se manifestou favoravelmente ao chamado "tratamento precoce" contra a covid -- com medicamentos de eficácia não comprovada ou de ineficácia constadada -- e criticou medidas restritivas adotadas por governadores e prefeitos para conter o avanço do novo coronavírus: "Não é fácil, porque de um lado tivemos as políticas, no meu entender equivocadas, de lockdown, de fechamento de comércio, de toque de recolher. Por que eu falo equivocadas? Porque a minha política era outra". Ainda segundo ele, as restrições "feriram drasticamente" determinados profissionais.
Mais para o final da live, o chefe do Executivo acrescentou: "Os direitos, por ocasião da pandemia, que foi dado [sic] a prefeito e governador para ignorarem todo o artigo 5º da Cosntituição isso é inadmissível".
Crise hídrica e geadas
Outros assuntos abordados por Bolsonaro foram a crise hídrica que atinge o país e o aumento do preço da conta de luz. "Muitas hidrelétricas estão funcionando a fio d'água, praticamente não tem mais água no reservatório, ou um percentual muito pequeno. Isso traz problemas na geração de energia. Quando se faz a bandeira vermelha, que muitos criticaram, concordo que criticaram, aumentou um pouco a conta de luz, é para pagar a geração de energia que vem de termelétricas, que é muito cara", afirmou. Ele relembrou também o impacto das geadas na agricultura; de acordo com o presidente, o governo está tomando providências para importar milho, para não haver falta do produto.