Dono da Precisa chama de "devaneios" depoimento de irmãos Miranda à CPI
Maximiano diz que documento pedindo pagamento antecipado foi enviado 2 dias após encontro com Bolsonaro
Francisco Emerson Maximiano, presidente da empresa Precisa Medicamentos, diz em vídeo enviado à CPI e obtido em primeira mão pelo SBT News que os irmãos Luís Miranda, deputado federal, e Luís Ricardo Miranda, servidor do ministério da Saúde, mentiram na CPI da Pandemia, na última sexta-feira (25), ao dizer que informaram ao presidente da República, Jair Bolsonaro, sobre suspeitas de fraude presentes em um "pro forma invoice" (algo como uma proposta de fatura), para acertar a compra de 20 milhões de vacinas indianas Covaxin, contra a Covid-19.
De acordo com relato de Maximiano no vídeo, na data da reunião com Bolsonaro relatada pelos irmãos, o documento ainda não havia sido enviado pela Precisa Medicamentos ao Ministério da Saúde, o que teria acontecido apenas dois dias após encontro relatado entre os irmãos Miranda e Bolsonaro.
Procurada, a assessoria de imprensa do deputado federal Luís Miranda reiterou que o documento invoice contendo o erro com pagamento antecipado foi enviado, sim, via dropbox no dia 18 de março.
"Escolham a palavra: mentira, ficção, invenção, devaneios desses senhores que vieram depor à CPI", diz ele no vídeo em que narra sua defesa sobre as acusações e mostra cópias de e-mails e documento pericial para sustentar sua versão.
Assista ao vídeo:
O presidente da Precisa deveria ter prestado depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito da Pandemia nesta quinta-feira (1). Embora ele estivesse munido de um habeas corpus lhe garantindo o direito de permanecer em silêncio, o SBT News apurou que ele tinha a intenção de dar sua versão dos fatos. Mas a sabatina foi adiada pelos senadores. Por isso, Maximiano resolveu gravar o vídeo acima, explicitando seu ponto de vista, e enviar à CPI.
GUERRA DE CRONOLOGIAS - COMPARE AS VERSÕES
Cronologia, segundo Luís Ricardo Miranda, servidor do Ministério da Saúde, em depoimento à CPI
16 de março - empresa Precisa Medicamentos solicita início do processo de importação das vacinas Covaxin
18 de março - link com documentos via dropbox, CONTENDO o primeiro pro forma invoice (proposta de fatura) com erro sobre pagamento antecipado de doses de vacina
20 de março - reunião dos irmãos Miranda com presidente Jair Bolsonaro em que teriam relatado suspeitas de fraude, com pedido de pagamento antecipado, no pro forma invoice
Cronologia, segundo Francisco Emerson Maximiano, presidente da Precisa Medicamentos:
16 de março - empresa Precisa Medicamentos solicita início do processo de importação das vacinas Covaxin
18 de março - envio pela Precisa, ao Ministério da Saúde, do link com documentos via dropbox, SEM o primeiro "pro forma invoice" (proposta de fatura)
19 de março - a empresa indiana Bharat/Madison cria o primeiro "pro forma invoice" e o envia à Precisa Medicamentos
20 de março - reunião dos irmãos Miranda com presidente Jair Bolsonaro
22 de março - envio da 1ª proposta de fatura (pro forma invoice) pela Precisa Medicamentos ao Ministério da Saúde
23 de março:
- às 13h33, o ministério da Saúde pede à Precisa correção de erros formais no documento mas sem mencionar o equívoco sobre pagamento antecipado pelas vacinas
- às 22h35, o ministério pede correção sobre erro na previsão de pagamento antecipado
- às 22h54, ministério da Saúde recebe documento com a correção sobre pagamento antecipado
Entenda o caso
Em fevereiro deste ano, Ministério da Saúde e a empresa indiana Bahrat/Madison, com a intermediação da empresa brasileira Precisa Medicamentos, fecharam um contrato para a compra de 20 milhões de doses de vacina contra a covid-19 no valor de R$ 1,61 bilhões.
Durante o vaivém de documentação, o principal erro detectado estava presente em um pro forma invoice, ou seja, uma proposta de fatura apresentada pelos indianos ao governo federal que, entre outras informações, continha um pedido de pagamento antecipado, em que o Brasil deveria pagar por vacinas antes mesmo de recebê-las.
Em depoimento à CPI, os irmãos Miranda disseram que ao ver o erro, suspeitaram de tentativa de fraude, e se reuniram em 20 de março com o presidente Jair Bolsonaro para narrar também pressão "absurda" para aprovar a importação dos imunizantes indianos.
Veja reportagem do SBT Brasil: