Publicidade

Brasil terá blecautes nos próximos meses? Veja opiniões de especialistas

Sistema Nacional de Meteorologia prevê escassez de chuva na bacia do Rio Paraná de junho a setembro

Brasil terá blecautes nos próximos meses? Veja opiniões de especialistas
Publicidade

Um alerta de emergência hídrica emitido pelo Sistema Nacional de Meteorologia (SNM), na semana passada, somado ao acionamento da bandeira tarifária vermelha de patamar 2 pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) na última 3ª feira (1º .jun) -sob a justificativa de nível baixo dos reservatórios de hidrelétricas no sudeste e centro-oeste- pode levar muitas pessoas a se questionarem se o Brasil está prestes a entrar em um racionamento de energia similar ao praticado em 2001. Mas, afinal, é mesmo esta a situação?

Em entrevista concedida ao SBT News, o pesquisador Roberto Brandão, do Grupo de Estudo do Setor Elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Gesel/UFRJ), afirmou que, devido ao período de falta de chuvas pelo qual o país passa, é possível ocorrerem blecautes ainda em 2021, "mas não há nenhuma garantia". Segundo ele, "a gente está em um ano muito seco, com os reservatórios muito vazios, depois de uma sequência de anos muito secos". Por outro lado, acrescentou, "o sistema está com bastante folga, porque o consumo está baixo". 

Na visão do pesquisador, o governo deverá conseguir acionar termelétricas e até mesmo importar energia da Argentina e Paraguai de forma suficiente para evitar "um problema maior". "A gente vai no mínimo passar um susto, não necessariamente ter um racionamento", completou. Ainda para Brandão, o Brasil dispõe de uma grande quantidade de termelétricas, mas há "usinas que estão paradas por razões diversas e aí tem que ser feito um pente-fino para, caso a caso, ver se é possível maximizar a disponibilidade nesse período seco de geração térmica".

+ Nigéria suspende uso de Twitter no país

O professor Ildo Luis Sauer, vice-diretor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE/USP), mantém um posicionamento similar. De acordo com o especialista, "é difícil dizer que vai ser obrigado a racionar". "A situação é diferente daquela de 2001, porque de lá para cá há uma capacidade térmica instalada, contratada e não contratada, e tem muitos geradores de emergência, que muitas empresas foram construindo ao longo do tempo", afirmou. 

Ele concorda, porém, que o Brasil vive um dos piores períodos de chuvas nos reservatórios das hidrelétricas na história, sendo que o evento mais grave do tipo no sudeste foi registrado na década de 50. Em suas palavras, "o governo precisa fazer um programa, ele pode criar incentivos, para que hospitais, shopping centers, indústria e todo mundo que tem esses geradores os operem".

Emergência hídrica no Brasil

O alerta do SNM emitido na semana passada afirma que, entre junho e setembro deste ano, haverá escassez de chuva na bacia do Rio Paraná, que abrange os estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná. Na maior parte do tempo, entre outubro de 2019 e abril de 2021, o déficit de precipitação também predominou na mesma região. Em nota enviada ao SBT News, o Ministério de Minas e Energia (MME) diz que o Brasil passa "pelo pior período em 90 anos de água chegando aos reservatórios hidrelétricos".

Em relação a um eventual racionamento de energia, a pasta diz ainda estar trabalhando por um longo tempo e adotando "todas as medidas, a fim de reduzir, a próximo de zero, as chances dessa situação ocorrer". O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), por sua vez, afirmou que vem sinalizando desde 2020 o enfrentamento a "uma situação hidrológica bastante adversa, com uma escassez hídrica que não permitiu a total recuperação dos níveis dos reservatórios no período de outubro de 2020 a março de 2021".

No dia 27 de maio deste ano, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) se reuniu, em caráter extraordinário, para avaliar o cenário de suprimento energético. Na ocasião, entre outras coisas, foi reconhecida a importância de flexibilizar restrições hidráulicas referentes às usinas hidrelétricas de Jupiá, Porto Primavera, Ilha Solteira, Três Irmãos, Xingó, Furnas e Mascarenhas de Moraes, com o objetivo de diminuir o risco de perda do controle hídrico na bacia do Rio Paraná. 

Já em 1º de junho, a Agência Nacional de Águas (ANA) publicou uma resolução, no Diário Oficial da União (DOU), por meio da qual "declara situação crítica de escassez quantitativa dos recursos hídricos na Região Hidrográfica do Paraná''. Com a medida, para assegurar os usos múltiplos da água, a autarquia "poderá definir condições transitórias para a operação de reservatórios ou sistemas hídricos específicos, inclusive alterando temporariamente condições definidas em outorgas de direito de uso de recursos hídricos".

O professor Ildo Luis Sauer relembra que, para além da geração de energia e consumo da população, a água no Brasil é importante também no funcionamento de hidrovias. Refletindo sobre as medidas que o governo pode tomar neste momento de emergência, o pesquisador Roberto Brandão citou a conscientização das pessoas. Segundo ele, "uma redução de consumo relativamente modesta já faz diferença".

Impacto na economia

Sauer e Brandão pontuam que existe uma certeza em relação ao período de nível baixo dos reservatórios das hidrelétricas: a energia pesará mais no bolso dos brasileiros, devido inclusive ao acionamento de termelétricas de preços mais elevados. Na visão do pesquisador, isso impactará em qualquer previsão que se tenha de crescimento econômico para o segundo semestre, pois "com energia no curto prazo mais cara, que é o que a gente espera, a tendência é algumas indústrias eventualmente reduzirem o consumo para não ficarem expostas aos preços do curto prazo ou até ganhar dinheiro com os preços de curto prazo, reduzindo consumo".

+ Doria recebe segunda dose da CoronaVac nesta 6ª feira

Sauer, por sua vez, avalia ainda que talvez não seja possível culpar a natureza por eventuais apagões e aumento no preço da energia: "a culpa é dos equívocos dos seres humanos, que não planejam adequadamente, não contratam a construção de usinas adequadas, e não operam o sistema e não fazem a manutenção preventiva adequada". Para ele, "se nós tivéssemos construído mais usinas eólicas, mais fotovoltaicas e mais públicas, podemos dizer, o custo seria menor".

Segundo o professor, nas últimas décadas, faltou ao Brasil contratar "mais capacidade instalada". Nas palavras dele, "mais de R$ 100 bilhões foram gastos, entre 2012 e 2015, fora da ordem de mérito, [visto que] a tarifa de combustível foi de R$ 200,00 o megawatt-hora [MWh], enquanto a energia hidráulica e a eólica custa menos de R$ 200 para fazer uma hora. Nós gastamos R$ 112 bilhões que poderiam ter sido utilizados para construir 20 mil megawatts de usinas eólicas ou 50 megawatts de usinas fotovoltaicas".

+ Brasil quer exportar mais alimentos para a Rússia, diz Bolsonaro

O professor acredita que agora, possivelmente, os problemas no setor elétrico desencadeados pela falta de chuva só não serão piores devido à pandemia, que ocasiona um consumo menor de energia. "Uma desgraça total. Uma crise sanitária reduz o vigor da crise elétrica. Embora nós tenhamos uma economia exportadora. Muitos países, como a China, os Estados Unidos, e a própria Europa em parte já resolveram a crise sanitária, talvez a demanda por exportação seja forte", acrescentou.

Publicidade
Publicidade

Assuntos relacionados

portalnews
sbtnews
governo
brasil
energia elétrica
emergência hídrica
reservatórios
hidrelétrica
termelétricas
blecautes
racionamento
ministério de minas e energia
chuvas
seca
bacia
pesquisador
professor
economia
usinas
bandeira vermelha
meio ambient

Últimas notícias

Alckmin defende diálogo entre governo e Congresso sobre a desoneração da folha

Alckmin defende diálogo entre governo e Congresso sobre a desoneração da folha

Vice-presidente participou da abertura da Agrishow, uma das maiores feiras do agronegócio do país, em Ribeirão Preto (SP)
CPI das Apostas e Novo DPVAT: Congresso tem semana morna por feriado de 1º de maio

CPI das Apostas e Novo DPVAT: Congresso tem semana morna por feriado de 1º de maio

Proposta que trata do DPVAT pode liberar Executivo a gastar cerca de R$ 15 bilhões neste ano
PF investiga suspeita de compra de votos em cidade do interior de Roraima

PF investiga suspeita de compra de votos em cidade do interior de Roraima

Município passou por eleições suplementares neste domingo (28), após o então prefeito ter seu mandato cassado pelo TSE
Tornados deixam ao menos quatro mortos em Oklahoma, nos Estados Unidos

Tornados deixam ao menos quatro mortos em Oklahoma, nos Estados Unidos

Hospitais em todo o estado relataram cerca de 100 feridos
Biden reitera oposição à invasão de Rafah em ligação com Netanyahu

Biden reitera oposição à invasão de Rafah em ligação com Netanyahu

Presidente dos Estados Unidos pediu também que ajuda humanitária em Gaza seja aprimorada
Filha de Samara Felippo é vitima de racismo em escola particular de São Paulo

Filha de Samara Felippo é vitima de racismo em escola particular de São Paulo

Atriz disse que viu uma ofensa racista escrita no caderno da menina. Coordenação do colégio foi acionada
Acidente de ônibus mata pelo menos sete pessoas no interior de Minas Gerais

Acidente de ônibus mata pelo menos sete pessoas no interior de Minas Gerais

Veículo, que era ocupado por cerca de 54 passageiros, tombou na BR-116 e tinha como destino Campinas, no interior de São Paulo
Caso Joca: Tutores de pets fazem protestos em aeroportos do país após morte de cachorro

Caso Joca: Tutores de pets fazem protestos em aeroportos do país após morte de cachorro

Golden retriever de quatro anos faleceu após erro logístico da Gol. Manifestantes reivindicam pela mudança nas regras no transporte de animais
Ativistas indígenas e quilombolas estão entre mais vulneráveis à violência no Brasil, diz ONU

Ativistas indígenas e quilombolas estão entre mais vulneráveis à violência no Brasil, diz ONU

Relatora também afirma que governo brasileiro tem conhecimento do risco, e ainda não foi tomada nenhuma providência
Pai de Anderson Leonardo, do Molejo, faz homenagem ao filho: "Sua música vai abraçar gerações"

Pai de Anderson Leonardo, do Molejo, faz homenagem ao filho: "Sua música vai abraçar gerações"

Produtor Bira Haway lamentou morte do artista em post no Instagram; velório e sepultamento ocorrem neste domingo (28), no Rio de Janeiro
Publicidade
Publicidade