Eleições

Carta de Lula aos evangélicos é tardia, diz cientista político

A 11 dias do segundo turno, aceno do petista ao segmento religioso pode não ter efeito esperado

A carta aos evangélicos do candidato à Presidência da República pelo PT, Luiz Inácio Lula da Silva, chegou atrasada. Em mais uma tentativa de aceno ao eleitorado dominado majoritariamente por apoiadores de Jair Bolsonaro (PL), o petista tenta correr contra o tempo faltando apenas 11 dias para o segundo turno.

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O efeito eleitoral do afago ao segmento religioso, no entanto, pode não ter o efeito esperado pela campanha. Esta é a avaliação do cientista político Vinicius do Valle, da Universidade de São Paulo (USP).

"A carta chega no momento em que os votos estão muito consolidados. Apesar do conteúdo ser positivo, o timing é muito atrasado. A capacidade de virar votos é limitada. Se a carta fosse lançada meses antes, teria um potencial eleitoral maior. Talvez não em termos de virar voto, mas em termos de segurar alguns evangélicos que estavam ainda dispostos a ouvir", disse, ao SBT News.

Lula se reuniu com evangélicos na manhã desta 4ª feira (19.out), em São Paulo. Em documento titulado 'Carta Compromisso com Evangélicos', o ex-presidente criticou o uso político da religião, reforçou sua fala contra o aborto e defendeu a liberdade de culto e religião. 

"A tentativa de uso político da fé para dividir os brasileiros não ajuda ninguém, nem ao Estado, nem às igrejas, porque afasta as Pessoas da mensagem do Evangelho", disse Lula. "Para mim a vida é sagrada, obra das mãos do Criador e meu compromisso sempre foi e será com sua proteção. Sou pessoalmente contra o aborto", ressaltou. 

Para Vinicius do Valle, que realizou pesquisa de campo junto a evangélicos por sete anos, a carta reforça o poder do segmento, do ponto de vista político e social. "Esse segmento conseguiu com a carta um compromisso público do candidato favorito para ganhar as eleições, mesmo sem ter se aliado com esse candidato", afirma o especialista. "Acho que a carta também dá o tom de uma política que vai levar cada vez mais em consideração as pautas da agenda religiosa, moral e dos costumes", destaca.

No encontro desta 4ª feira, Lula afirmou que não é a primeira vez que precisa fazer uma carta a religiosos e aproveitou para desmentir acusações da oposição. "Toda eleição há uma quantidade de mentiras nesse país que nós precisamos fazer carta, hora à igreja católica, hora a igreja evangélica, hora a outro setor da sociedade", disse o petista. "Tem coisa que eu não acredito que um ser humano possa acreditar, mas eles falam e tem gente que acredita. Agora inventaram a história de banheiro unissex. Eu tenho família, tenho netas, tenho bisnetas", pontuou. 

Segundo Do Valle, se, por um lado, Lula já soubesse sobre a força dos evangélicos, por outro, ele subestimou a força de seu adversário sob esses eleitores. "Ele [Lula] subestimou a capacidade do Bolsonaro de mobilizar o segmento", diz. "Não foi um erro de cálculo dele ou da campanha, eu acho que o Bolsonaro veio  surpreendendo", pondera.

"Carta aos brasileiros 2.0"

Para Jeferson Ramos, pesquisador do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (Ipol/UnB), a carta de Lula aos evangélicos tem o mesmo objetivo que a "carta aos brasileiros", escrita pelo petista em 2002, também ano eleitoral. À época, Lula usou o documento para acenar a diversos setores da sociedade.

"Eu diria que é uma espécie de 'carta aos brasileiros 2.0', que Lula fez naquele ano para acalmar os mercados, indicando que não rouperia contratos e manteria estabilidade macroeconômica, caso vitorioso", explica Ramos. "Essa carta é similar, um documento que tenta dar esse respaldo e tranquilizar as igrejas, indicando que, caso ele seja saia vitorioso, não vai haver nenhum tipo de ataques ao setor", acrescenta. 

Segundo o especialista, o documento redigido por Lula tem então um caráter simbólico. Além disso, visa tentar diminuir algum tipo de resistência junto à bancada evangélica, pensando na relação entre Executivo e Legislativo em um possível cenário no qual o ex-presidente ganhe a corrida eleitoral. 

"A bancada evangélica é uma bancada numerosa, então é mais uma forma de melhorar as relações a partir do ano que vem. Começar o governo numa posição menos conflituosa. Vejo mais nesse sentido, como uma estratégia simbólica e menos eleitoral", arremata Ramos. 

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