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Moro põe escolhas e contradições à prova em disputa por vaga no Senado

Ex-juiz, que em 2016, afirmou que "jamais" entraria na política, hoje aguarda o resultado das urnas

Moro põe escolhas e contradições à prova em disputa por vaga no Senado
Sergio Moro
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Neste domingo (2.out), Sergio Moro deve receber dos eleitores paranaenses o parecer final a respeito das decisões tomadas ao longo dos últimos anos. Após deixar a magistratura para assumir o cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública na gestão de Jair Bolsonaro (PL), o ex-herói nacional acumulou escolhas contraditórias e questionadas. Quebrou a lealdade, antes anunciada ao presidente da República, ao deixar o governo; ingressou de vez na vida política ao se filiar ao Podemos; se colocou como possível concorrente de Bolsonaro na disputa ao Planalto; traiu aliados, mudou de partido, perdeu o posto de presidenciável, tentou mudar o domicílio eleitoral e, sem sucesso, anunciou candidatura ao Senado pelo Paraná.

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Moro ficou conhecido em todo o país enquanto era juiz na 13ª Vara Federal de Curitiba. Entre 2014 e 2018, ele era responsável por julgar os achados e caminhos percorridos pela Operação Lava Jato. Mas o ex-magistrado já possuía experiência na análise de crimes de corrupção. No início dos anos 2000, ele atuou no escândalo do Banestado. O esquema de corrupção que envolvia políticos, empresários e doleiros revelou o processo de lavagem de dinheiro feito a partir do envio de recursos ao exterior. Em 2012, ele também atuou como juiz auxiliar da ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), durante o julgamento do Mensalão.

Em 2017, cerca de um ano antes das eleições de 2018, Moro condenou o ex-presidente Lula, em primeira instância, a mais de 9 anos de prisão no caso do tríplex do Guarujá (SP). Após a condenação ser confirmada na segunda instância, já no ano seguinte, o então juiz ordenou a prisão da figura política que despontava em primeiro lugar nas pesquisas espontâneas à Presidência da República. O fato foi determinante para o futuro político do país. Lula teve a candidatura rejeitada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no fim de agosto do mesmo ano. O sucessor, Fernando Haddad, não conseguiu manter a força na disputa eleitoral. Jair Bolsonaro foi eleito novo presidente do país, em outubro, com 55% dos votos válidos.

Apenas três dias após a vitória de Bolsonaro nas urnas, Moro viajou ao Rio de Janeiro para falar com o presidente eleito. Depois de uma reunião que durou menos de duas horas, o próprio magistrado anunciou a jornalistas que havia aceitado o convite para se tornar ministro no novo governo. Ele, que já havia dito em entrevistas que "não seria apropriado da minha parte postular qualquer espécie de cargo político porque isso poderia, vamos dizer assim, colocar em dúvida a integridade do trabalho que eu fiz até o presente momento", justificou a escolha como "uma oportunidade de evitar retrocessos no combate à corrupção".

Ao se tornar ministro, Moro mantinha alta popularidade e até começava a ser cotado como possível candidato à Presidência nas próximas eleições. Internamente, porém, via seus projetos serem desidratados. O "pacote anticrime", que previa, entre outros pontos, o estabelecimento da prisão após condenação em segunda instância, recebeu vetos do presidente Jair Bolsonaro ao ser sancionado, o que mostrou a falta de alinhamento entre ministro e presidente. Em abril de 2020, acusando Bolsonaro de tentar interferir no comando da Polícia Federal, anunciou sua saída do governo.

Meses antes, o jurista havia começado a amargar questionamentos da opinião pública. Em junho de 2019, o site The Intercept deu início a uma serie de reportagens intitulada Vaza Jato. Conversas hackeadas no Telegram entre o ex-juiz e procuradores da Operação Lava Jato mostravam que Moro auxiliava os membros do Ministério Público Federal a construir casos, além de ceder informação privilegiada. Em março, antes de deixar o ministério, a Segunda Turma do STF declarou que o ex-juiz foi parcial ao condenar Lula. Dias depois, a Corte decidiu anular as condenações contra o ex-presidente. 

A série de derrotas parecia ser o fim da carreira pública de Moro. Mas, depois de ficar fora dos holofotes, atuando como consultor em uma empresa nos Estados Unidos por cerca de um ano, ele retornou ao país e se filiou ao Podemos. Apadrinhado pelo conterrâneo senador Alvaro Dias, o ex-ministro foi anunciado pelo partido como presidenciável em novembro de 2021. O homem, que enquanto magistrado, dizia não crer ter perfil para a profissão política se lançava com uma aposta alta.

Porém, cinco meses depois, no encerramento da janela partidária -- período permitido para troca de partido em ano eleitoral --, os dirigentes do Podemos descobriram pela imprensa que Moro havia migrado para o União Brasil, o partido com a maior fatia do fundo eleitoral. Os dirigentes da nova filiação não permitiram que o ex-ministro, visto por muitos como traidor, fosse candidato à Presidência. Sem opções, Moro tentou migrar o domicílio eleitoral para o estado de São Paulo a fim de tentar uma vaga no Legislativo federal. Tentativa barrada pelo Tribunal Regional Eleitoral, que não reconheceu o vínculo do jurista com o estado.

Moro teve que voltar as ambições ao estado de origem. No Paraná, ao se lançar como candidato à Câmara dos Deputados, ele teria como oponente o antigo companheiro de Lava Jato, o ex-procurador da República Deltan Dallagnol. Ao se lançar ao Senado, se oporia de vez ao padrinho político, já traído no abandono de Moro ao Podemos. Em julho, o ex-juiz anunciou que concorre à única vaga aberta pelo Paraná no Senado Federal. 

Ao longo da campanha, as pesquisas mostraram empate técnico entre Moro e Alvaro Dias. Na reta final, o ex-ministro passou a evitar as críticas ao candidato à reeleição para a Presidência e focou nos ataques ao ex-presidente Lula. Uma estratégia para alavancar votos. No Paraná, santinhos em que Moro aparecia alinhado a Bolsonaro chegaram a ser distribuídos. O candidato ao Senado afirmou que se tratava de material feito por apoiadores.

No fim de 2021, Moro lançou um livro autobiográfico com a expectativa de convencer os leitores de que suas escolhas "foram as melhores possíveis". Sem autocríticas sobre a atuação na Lava Jato, conversas vazadas ou o período no Poder Executivo, escreve o ex-magistrado que "o passado constrói o futuro e o futuro influencia a interpretação do passado". Neste domingo, dia 2 de outubro, a decisão nas urnas poderá indicar qual a melhor interpretação a ser feita sobre as escolhas do ex-herói nacional. 

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