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Em região com forte apoio ao PT, governadores tentam defender legado

Sete dos nove mandatários do Nordeste não podem se reeleger e, assim, buscam deixar aliados no poder

Em região com forte apoio ao PT, governadores tentam defender legado
Mapa do Nordeste pintado de vermelho, cor característica do PT
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As eleições deste ano já contam com uma certeza no Nordeste: o surgimento de novos governadores na maioria dos estados. Isso se dará porque sete dos nove mandatários da região haviam sido reeleitos em 2018, o que os impede, pela força da lei, de tentarem se manter no cargo para os próximos anos. Dessa forma, as atuais lideranças devem atuar para defender seus próprios legados, fazer sucessores e, dessa forma, manter ativo o forte apoio local ao PT - partido que mais elegeu governadores na região no último pleito estadual, com quatro vitórias.

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Além da supremacia petista, o PSB aparece com força na região. Em 2018, o Partido Socialista Brasileiro elegeu dois governadores no Nordeste: Paulo Câmara, em Pernambuco, e João Azevêdo, na Paraíba. Fora a dupla, a legenda passou a contar com Flávio Dino, que havia sido reeleito governador do Maranhão pelo PCdoB. Desses, somente Azevêdo está apto a concorrer a mais um mandato no comando do poder Executivo estadual.

Na lista de governadores eleitos em 2018 e que, agora, não podem mais se reeleger, Câmara e Dino têm a companhia de Rui Costa, do PT da Bahia; Belivaldo Chagas, do PSD de Sergipe; Renan Filho, do MDB de Alagoas; Camilo Santana, do PT do Ceará; e Wellington Dias, do PT do Piauí. Assim como Azevêdo, Fátima Bezerra poderá se candidatar a mais um mandato como governadora do Rio Grande do Norte.

Em alguns casos, o legado defendido vai além da figura que está prestes a concluir a gestão. Na Bahia, por exemplo, antes de Rui Costa o PT já havia sido o responsável pelo governo do estado durante dois mandatos de Jacques Wagner. Em Pernambuco, a história é similar: antes de Paulo Câmara, o eleitorado deu duas vitórias consecutivas a Eduardo Campos, outro membro do PSB. Na Paraíba, o poder também se mantém com socialistas há quatro pleitos, com Azevêdo tendo sido o sucessor de Ricardo Coutinho.

Pelos lados cearenses, o partido do governador tem se alternado ao decorrer dos últimos anos, mas um mesmo grupo político tem sido hegemônico: o liderado pela família Ferreira Gomes, do qual o ex-governador - renunciou em abril - Camilo Santana é parte. Antes dele, Cid Gomes (irmão do presidenciável pedetista Ciro Gomes) exerceu dois mandatos. Agora, Santana deixou o comando da máquina para Izolda Cela (PDT).

"Dá para perceber que cada grupo político governista encaminhou uma "fórmula de sucessão", avalia, em entrevista ao SBT News, o Doutor em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e professor de Ciência Política da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), Cláudio André de Souza.

A tal fórmula, no entanto, pode não ser certeza de sucesso para a disputa deste ano, pontua o cientista político. Para o legado ser mantido e ajudar um aliado chegar ao poder, é preciso se atentar a alguns pontos comuns do cenário político, afirma André de Souza.

"A principal variável a analisarmos é o quanto mantiveram coesão política aliada ao governismo (influência da máquina estatal) e de que forma escolheram pré-candidatos que já tinham uma liderança dentro e fora do governo e como se mantiveram à frente deste processo, ou seja, alguns pré-candidatos eram secretários ou vice-governadores", pontua o professor de Ciência Política.

O cientista político Cláudio André de Souza | Foto: Reprodução/O Povo

Influência do PT - e de Lula - na região

Divulgado nesta semana pelo jornal O Estado de S. Paulo, a ferramenta chamada de "agregador de pesquisas" mostra que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera a intenção de voto em todas as unidades federativas do Nordeste. A força do petista pode ajudar a esquerda como um todo a seguir forte na região. É o que sinaliza o Doutor em Ciências Sociais, que relembra o desfecho local das eleições de 16 anos atrás.

"O eleitorado nordestino tem demonstrado altas taxas de apoio a Lula"

"O lulismo se consolidou no Nordeste com maior força a partir da eleição de 2006, o que alavancou a eleição de governadores aliados a Lula", destaca André de Souza. "O eleitorado nordestino tem demonstrado altas taxas de apoio a Lula de forma mais coesa e ideológica, ou seja, mantém um voto mais "programático", avalia o professor da Unilab, instituição pública, gerida pelo Ministério da Educação, e com bases no Ceará e na Bahia.

"Lá em 2006, a força do voto nacional em Lula alavancou a eleição de governadores aliados, como Eduardo Campos em Pernambuco, Jaques Wagner na Bahia, Cid Gomes no Ceará, Jackson Lago no Maranhão (mas cassado em 2009 e assumindo Roseana Sarney), Wellington Dias no Piauí, Wilma de Faria no Rio Grande do Norte e Marcelo Déda em Sergipe. Todos aliados de Lula, com exceção de Alagoas, que elegeu um governador do PSDB [Teotônio Vilela Filho]", relembra o acadêmico.

O Nordeste tem forte influência do "lulismo", avalia doutor em ciências sociais | Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Formas diferentes de defender o próprio legado

Na missão de defenderem seus próprios legados, os governadores nordestinos que não podem mais se reeleger adotaram duas estratégias diferentes. Um grupo decidiu renunciar para, possivelmente, lançar candidaturas ao Senado. O segundo se manteve no cargo, o que impede de concorrer a qualquer outro cargo público neste ano - pela Justiça Eleitoral, o prazo para deixar o governo era até o fim de abril.

A turma de (ex) governadores do Nordeste que aparece com pré-candidaturas ativas ao Senado é formada por quatro políticos: Renan Filho, Camilo Santana, Wellington Dias e Flávio Dino. Isso pode facilitar a missão de que aliados sejam eleitos, avalia André de Souza.

"Estratégia de manter força política na esfera nacional, ao mesmo tempo que o mandato legislativo no Senado dura oito anos, o que permite uma estabilidade na carreira política para alçar voos maiores ou mesmo retornar para o estado após um ciclo de eleição e reeleição", afirma o cientista político. "Vale ressaltar, que a escolha destes governadores estarem na chapa representa o envolvimento direto da liderança na condução da sua sucessão. Em caso de governantes com apoio popular, é um caminho para conseguir fazer os seus sucessores."

"A chapa é menor e não cabe todos os aliados mais importantes."

Por outro lado, o bloco dos governadores em reta final de gestão que não renunciaram é composto por Rui Costa, Paulo Câmara e Belivaldo Chagas. Os dois primeiros, aliás, são cotados a se tornarem ministros em caso de vitória do candidato do PT à Presidência da República. Dificuldade em formar alianças e até mesmo rompimento com aliados históricos podem, contudo, estar por trás da decisão de seguirem no poder até o último dia de mandato.

"Em 2022, elegeremos somente um senador por estado, logo, a chapa é menor e não cabe todos os aliados mais importantes", observa Cláudio André de Souza. "Foi o que aconteceu na Bahia. Rui Costa (PT) e o seu partido romperam com o vice-governador [João Leão, do PP], sendo que houve uma leitura que a sua permanência no governo seria importante para conduzir o governo a focar na inauguração de obras que tivesse um cálculo eleitoral, ao mesmo tempo que abrisse espaço para o senador Otto Alencar (PSD) tentar a reeleição, um dos políticos mais fiéis aos petistas desde a eleição de Jaques Wagner em 2010, quando foi eleito vice-governador".

Rui Costa é cotado a se tornar ministro, em caso de vitória de Lula | Foto: Jonne Roriz/PT

Os governadores eleitos - e reeleitos - no Nordeste em 2018

Assim, com a missão de defender legado em uma região com forte aderência ao PT, veja a lista dos governadores que foram eleitos no Nordeste no pleito de quatro anos atrás.

  • Bahia - Rui Costa (PT)

Membro do PT, chegou ao comando do poder Executivo baiano depois de ter sido o escolhido pelo então governador, o também petista Jacques Wagner, para a sucessão. Foi eleito em 2014 e reeleito em 2018. Caso Lula seja eleito presidente, é cotado para assumir um ministério.

  • Sergipe - Belivaldo Chagas (PSD)

Apesar de não poder se reeleger, Chagas foi eleito para governador apenas uma vez. Isso porque, na disputa de 2014, ele foi vice na vitoriosa chapa encabeçada por Jackson Barreto (MDB), que renunciou em abril de 2018. Como não renunciou, assim como Rui Costa, o pessedista estará fora das urnas neste ano.

  • Alagoas - Renan Filho (MDB)

Filho do senador Renan Calheiros, ele tentará ser colega do próprio pai no Congresso Nacional. Reeleito governador em 2018, renunciou em abril na tentativa de vencer a disputa pelo Senado. Com a decisão de deixar o Executivo, os deputados estaduais de Alagoas elegeram Paulo Dantas (MDB) para um mandato tampão de governador.

  • Pernambuco - Paulo Câmara (PSB)

Sucessor de Eduardo Campos, Paulo Câmara completará oito anos como governador de Pernambuco em 31 de dezembro. Ele fecha a lista de mandatários da região que, mesmo em fim de segundo governo, não renunciou. Como Rui Costa, é cotado para assumir um ministério num eventual novo governo Lula.

  • Paraíba - João Azevêdo (PSB)

Um dos governadores aptos a ir em busca da reeleição, João Azevêdo voltou aos quadros do PSB em fevereiro deste ano. Após ter sido eleito em 2018 pela sigla socialista, ele rumou para o Cidadania em 2019, do qual desfiliou-se em meio às tratativas para a legenda formar federação com o PSDB.

  • Rio Grande do Norte - Fátima Bezerra (PT)

A petista Fátima Bezerra também deve se candidatar à reeleição em outubro. Terá como desafio quebrar o ciclo das últimas eleições. Desde Wilma de Faria, em 2006, o potiguar não reelege governadores.

  • Ceará - Camilo Santana (PT)

Petista, mas tido como forte aliado da família de Ciro Gomes (PDT), Camilo Santana renunciou para, possivelmente, lançar candidatura ao Senado Federal - e com apoio da família Ferreira Gomes, que viu a pedetista Izolda Cela se tornar governadora.

  • Piauí - Wellington Dias (PT)

Wellington Dias será outro - agora ex-governador - que trabalhará para aumentar a bancada do Partido dos Trabalhadores no Senado. Depois de vencer as eleições para o governo em 2014 e 2018, ele renunciou no fim de março, deixando o Piauí sob a administração de Regina Sousa (PT).

  • Maranhão - Flávio Dino (PSB)

Eleito e reeleito governador do Maranhão pelo PCdoB, Flávio Dino trocou de partido e ajudou a aumentar a lista de mandatários do Nordeste filiados ao PSB. Mais do que isso, antes de renunciar, ele fez com que o seu vice, Carlos Brandão, também se tornasse um socialista (deixando os quadros do PSDB).

Saiba mais - Eleições 2022:

+ No Sul, dois dos três governadores tentam se manter no poder

+ Todos os governadores do Sudeste vão em busca da reeleição

+ No Centro-Oeste, governadores buscam reeleição e apoio de Bolsonaro

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