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PSDB se enfraquecerá mais se não tiver candidato próprio, diz cientista político

Partido teve filiados na disputa pelo Planalto em todas as eleições diretas da Nova República

PSDB se enfraquecerá mais se não tiver candidato próprio, diz cientista político
Bruno Araújo fala ao microfone à frente de Doria e Eduardo Leite (Dida Sampaio/Estadão Conteúdo)
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O Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) caminha para, pela primeira vez em sua história, iniciada em 1988, não ter um candidato próprio na disputa pelo cargo de presidente da República. O ex-governador de São Paulo, João Doria, se retirou da corrida presidencial na semana passada, e, nos próximos dias, a Executiva Nacional da sigla deve declarar apoio à pré-candidatura da senadora Simone Tebet (MDB-MS) a presidente, como o Cidadania -- partido com o qual os tucanos formaram federação -- fez na 3ª feira (24.mai). Mais do que uma decisão de não ter um filiado concorrendo a chefe do Executivo federal no pleito deste ano, se concretizada, essa será também uma opção do PSDB por deixar de ser um dos agentes centrais da dinâmica política brasileira.

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Isto é o que analisa o Doutor em Ciência Política, Paulo Roberto Leal, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). "A experiência da democracia brasileira desde seu processo de redemocratização tem sido de que partidos que abdicam de um projeto nacional podem até prosperar no nível estadual, no nível municipal, mas tem dificuldade de ser pivôs da dinâmica política nacional", pontuou em entrevista ao SBT News. De acordo com ele, as consequências de deixar de ser um dos agentes centrais são "duradouras". "Ou seja, há aqui, ao mesmo tempo, a percepção de que o PT, em alguma medida, só virou um partido nacional porque nunca abriu mão de ter candidaturas a presidente, nunca abriu mão de ter candidaturas a governos relevantes", completou, Paulo Roberto Leal.

O Partido dos Trabalhadores lança candidatos próprios a presidente da República desde 1989. Naquele ano e nas duas eleições presidenciais seguintes (1994 e 1998), quando o PSDB, com FHC, foi o vencedor, ficou em segundo lugar, mas levou o cargo em 2002, 2006, 2010 e 2014, todos os anos em que o candidato tucano ficou como segundo mais votado. Conforme Leal, desde 2018, entretanto, o Partido da Social Democracia Brasileira vem passando por "um processo de enfraquecimento", e não ter um nome na corrida presidencial deste ano não só o aprofundaria, mas também seria sintoma dele. O professor da UFJF afirma que há quatro anos, evidências desse processo vieram com a candidatura do ex-governador paulista Geraldo Alckmin à Presidência da República, que não teve apoio de João Doria, então candidato a governador de São Paulo. 

"A questão concreta é que não houve, no PSDB, nos últimos anos, um nome capaz de gerar o nível de unidade interna que talvez se exigisse para viabilizar uma candidatura. Isso já não aconteceu com o Alckmin. E aí só os papéis foram trocados. Alguns dos setores que abandonaram o Alckmin, em 2018, foram abandonados agora. João Doria talvez seja o maior sintoma desse processo. Ou seja, apesar de ter sido uma criatura política gerada pelo Alckmin, na disputa de prefeitura de São Paulo, em 2016, há todo um conjunto de mágoas do Alckmin e do seu grupo de que o Doria abandonou a campanha do Alckmin em 2018 e já embarcou na campanha do Bolsonaro, naquilo que foi conhecido como bolsodoria", pontua Paulo Roberto Leal 

Ainda de acordo com o professor, deixando de ser um agente central na dinâmica política nacional, há um favorecimento a dinâmicas em que lideranças estaduais internas "começam a puxar a corda para aqui e para lá, sem necessariamente um projeto razoavelmente unificado". Com o partido não tendo expectativa de poder nacional, reforça Leal, essas lideranças formam núcleos de poder. "É o que acontece com o MDB. Há muita gente que define o MDB, o antigo PMDB, como sendo uma federação de oligarquias estaduais, muito mais do que um projeto nacional unificado", acrescenta.

Na semana passada, a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), disse que o MDB do nordeste tem grande simpatia pela candidatura de Lula e que o Partido dos Trabalhadores vinha conversando com lideranças regionais da segunda sigla para tentar conseguir apoio para o petista, apesar de o Movimento Democrático Brasileiro ter Simone Tebet como presidenciável.

O Doutor em Ciência Política, Robert Bonifácio, professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), concorda que o PSDB não tem um nome que una seus integrantes e possui "cisões internas significativas". Para ele, entretanto, no âmbito da manutenção de relevância, este é o problema da legenda, juntamente com um posicionamento dela de não apoiar um projeto político para o país.

"O PSDB está nessa situação e, por isso, enfrenta o pior momento da história. Passou de um partido grande na era FHC, para mediano no período petista e, a partir das eleições de 22, deve se tornar um partido pequeno. Precisará manejar com sabedoria a federação para continuar a ter relevância nacional", afirma, Robert Bonifácio.

Bonifácio acredita que, em comparação aos últimos pleitos, o partido "diminuirá substantivamente a quantidade de eleitos". Sua relevância será mantida, afirma, no Rio Grande do Sul, Paraíba e Minas Gerais, "se apequenando em seu leito de criação, São Paulo". O PSDB ocupa o governo de São Paulo desde 1995, quando Mário Covas era governador. Entretanto, as pesquisas de intenção de voto para chefe do Executivo estadual em 2022 mostram o tucano Rodrigo Garcia em quarto lugar, bem atrás dos dois primeiros colocados (Márcio França, do PSB, e Fernando Haddad, do PT).

Conforme Paulo Roberto Leal, "perder São Paulo, e parece que há um risco de que isso possa vir a acontecer, representará um baque profundíssimo à capacidade de vocalização do PSDB como um partido com alcance nacional e com um nível de relevância que ele outrora teve". "É óbvio, a campanha vai ser disputada ainda, não é impossível que haja uma condição de o governador de São Paulo conseguir a vitória, mas não parece o cenário mais provável dadas as informações de pesquisas do momento. Portanto, além de não ter candidato à Presidência, perder São Paulo, se essas duas questões se consumarem ao final do processo, pouquíssima dúvida de que o PSDB terá saído do processo eleitoral de 2022 muito menor do que entrou e com muito menos capacidade de ter uma centralidade no jogo político nacional", avalia o professor da Universidade Federal de Juiz de Fora.

É bastante provável também, de acordo Leal, que o PSDB eleja menos deputados neste ano do que na eleição de 2018, se realmente não tiver candidato próprio a presidente, porque "há uma forte correlação entre o nível de visibilidade que cargos majoritários produzem com a campanha e algum acréscimo de votos para as chapas proporcionais". Em locais em que o partido é forte, avalia, a possibilidade de vitória nas urnas permanece, mas sem um filiado na disputada pelo Planalto, a conquista teria menos relação com um projeto partidário e bem mais com a dinâmica política local.

Impacto na democracia

Para Robert Bonifácio, "não necessariamente" o enfraquecimento do PSDB seria ruim para a democracia, pensando nas bandeiras defendidas pelo partido e a importância do debate de ideais no regime político. "O PSDB é apenas uma das peças do tabuleiro politico. O importante é que tenhamos um sistema partidário que abrigue menos partidos e que saiba evitar e contornar partidos radicais. Não há vácuo na política, e o espaço da centro-direita moderada, que era exercido predominantemente pelo PSDB, será ocupado por outro, em especial União Brasil", pontua.

Por outro lado, na visão de Leal, esse processo de enfraquecimento traz, sim, prejuízo para a democracia do país, porque ao longo de toda sua trajetória, independentemente das posições que o partido defendia, o fez com narrativas que respeitavam as regras do regime. O professor fala que a sigla teve quatro versões em sua história: nasceu com uma narrativa da social democracia, atuou em aliança com a centro-direita no governo FHC e, com a chegada do PT à Presidência, caminha para a direita, passando a ser o "repositório de um voto anti-petista; mas, em todas elas, diz o doutor em ciência política, "a gente está falando de um ambiente democrático".

"Uma centro-esquerda, ou uma centro-direita, ou uma direito democrática. Em momento algum, nas contendas entre PSDB e PT, houve risco à institucionalidade democrática. Em momento algum, houve a expectativa de que quem ganhasse os votos não levasse o poder. Portanto, há de fato preocupação maior quando as disputas se dão entre frações que negam a existência da rotatividade da democracia, instituem a narrativa de que podem não respeitar o resultado eleitoral. Portanto, é muito diferente ter divergências político-ideológicas, que é o que aconteceu com o PSDB e PT ao longo de duas décadas e meia, e ter um um nível de divergência como o que hoje o PT tem, por exemplo, com o bolsonarismo", completa.

O bolsonarismo, movimento de extrema-direita, substituiu o PSDB como principal representante do anti-petismo. Isso, para o professor, leva a uma redução da qualidade do debate político no país, porque enquanto as origens da legenda remetem à luta contra a ditadura militar instaurada com o golpe de 1964, há no outro grupo quem a defende, como o próprio presidente Jair Bolsonaro (PL), e o chefe do Executivo atacou sem provas a integridade das urnas eletrônicas, diversas vezes.

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