"Tirar o título é vocês provarem que estão qualificados", diz Lula a jovens
Ex-presidente fez discurso em comunidade; fala foi marcada por críticas a Bolsonaro também
Discursando nesta 5ª feira (21.abr) na comunidade de Heliópolis, em São Paulo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) incentivou jovens a tirarem o título de eleitor e a não deixarem de votar nas eleições. O fechamento do prazo para cadastro eleitoral ocorre em 4 de maio. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no mês passado, 445.553 novos eleitores entre 15 e 18 anos tiraram o título, crescimento de 28% em comparação com fevereiro.
+ Leia as últimas notícias no portal SBT News
"Na verdade, não se acredita na juventude. As pessoas acham que vocês não estão qualificados para tomar decisões. Então, tirar o título é vocês provarem que estão qualificados não só para escolher quem vocês querem que governe este país, esta cidade, vocês escolherem o que decidir da vida de vocês", pontuou Lula no evento, que se tratou de um encontro do ex-presidente com jovens da comunidade e arredores, organizado pela União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região (Unas). Ainda discorrendo sobre a importância de os jovens participarem da política e votarem, disse que, sem isso, é muito difícil mudar o país.
A fala do petista foi marcada também por críticas ao presidente Jair Bolsonaro (PL). Ao final dela, criticou o atual chefe do Executivo enquanto voltava a incentivar os jovens a irem às urnas: "Quem a gente conhecer que tem mais de 16 anos e não tem o título a gente vai falar 'não entre na do Bolsonaro, você não tem que comprar fuzil, você não tem que comprar pistola, bala, arma. Tire o seu título do eleitor e dê um tiro para a gente poder mudar esse país'".
Em outro momento, fez um ataque direto ao presidente: "Quando eu vejo o Brasil votar em uma figura com o presidente que nós temos hoje, não precisava ter votado no Haddad ou votado em mim, não precisava. Votasse numa outra pessoa que tivesse qualificação moral, que tivesse sentimento de respeito, que tivesse sentimento de solidariedade. Que se dispusesse a distribuir livros e não distribuir armas. Falar em amor e não em ódio. Porque nós temos hoje um estimulador do ódio, um estimulador da discórdia. Uma pessoa que não prega nenhum sentimento de paz e vive enganando muita gente boa, da Igreja Evangélica, dizendo que ele é o bem. Ele é o representante de Deus e quem não está com ele é comunista, quem não está com ele é o mal".
Na sequência, Lula classificou Bolsonaro como o presidente mais "desqualificado moralmente" da história do país e disse que ele "não fala" em temas importantes para a população, como educação e emprego, nem se reuniu alguma vez no governo com setores da sociedade, como comunidades e o movimento negro. As críticas do ex-presidente não se restringiram ao atual chefe do Executivo: a elite do país e o ex-governador de São Paulo João Doria, pré-candidato a presidente pelo PSDB, também foram alvos.
Segundo Lula, "a mentalidade da elite grã-fina deste pais é tão perversa que eles resolveram criar a USP e evitar que entrasse qualquer universidade federal em São paulo". Já sobre o tucano, pontuou: "Alguém que não tem nem passado, nem presente e, certamente, não tem futuro politico". De acordo com o petista, Doria foi eleito prefeito de São Paulo em 2016, em vez de Fernando Haddad (PT), "porque muitas vezes a gente não discute, a gente não quer discutir, está desanimado, às vezes culpa os outros pela própria falta de disposição que a gente tem que ter para mudar". "Então eu queria fazer um chamamento a vocês. Este país ele será o que a gente quiser que ele seja", completou. Para eventuais cidadãos descrentes da existência de políticos honestos, recomendou acreditarem neles próprios e atuarem para promover aquilo que esperam ser feito por terceiros.
Sobre a importância das eleições deste ano, disse consistirem numa oportunidade de "a gente redefinir o Brasil que a gente quer". Outro assunto abordado no discurso foi a relevância da educação. Conforme Lula, "é na escola que você garante que os seres humanos se superem". O Estado, afirmou, deve atuar para que todos os indivíduos tenham acesso à educação. Além disso, falou que nenhum país se desenvolveu sem investir na área, mas que o Brasil não o fez suficientemente.
Título de eleitor
Outras pessoas a discursarem no evento, a presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), e o ex-ministro da Educação Aloizio Mercante também incentivaram a participação dos presentes nas eleições. "O voto é a nossa arma. Não é a arma da violência, não é a arma da destruição, não é a arma do ódio. O voto é a arma da construção, da mudança, da esperança. Por isso é muito importante a gente conscientizar o povo, já é um dever o voto, mas conscientizar o povo de ir para a urna, de votar e fazer a mudança. E a nossa juventude", pontuou a parlamentar. Ainda nas palavras de Gleisi, "quem vai fazer a diferença nessa eleição são os jovens, as mulheres, os pretos e as pretas".
Entre os cartazes colocados no local do encontro, um dizia "Bora votar, quebrada". João Victor, do Observatório De Olho na Quebrada, que faz levantamento de dados em Heliópolis visando a "ampliar a voz da comunidade", falou que o projeto está fazendo uma campanha, na região, para votar; no primeiro dia, ajudaram mais de 60 indivíduos a tirarem o título e, no total, foram mais de 100 até o momento. Ao final da fala, afirmou: "Lula, estamos juntos, mano, a quebrada vai ser muito mais feliz com você". Parte do público carregava folhas de papel representando títulos de eleitor e as ergueram para fotos, conforme a organização orientava.
Elogios e críticas
Diversas outras pessoas fizeram discursos no encontro. Em diferentes falas, houve elogios a Lula e/ou críticas a Bolsonaro. Sabrina, uma estudante de 21 anos da Universdade Federal do ABC (UFABC), chamou o atual governo de "autoritário" e disse que, para esse tipo de gestão, "a liberade do povo é um perigo". Já segundo Luciano, conselheiro tutelar do distrito do Sacomã, pessoas perderam a esperança de sair da "condição insalubre" em que se encontram por causa do governo Bolsonaro, e Lula dá "esperança".
Dificuldades da vida na comunidade ou na sociedade em geral -- como a violência, a fome, o desemprego e o machismo --, projetos existentes em Heliópolis, entre os quais uma biblioteca comunitária, e os efeitos de iniciativas implementadas no governo Lula, como o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), também foram comentadas, seja de forma crítica (desafios) ou elogiosa (projetos e efeitos das iniciativas).
Em diferentes momentos, o público entoou "olê, olê, olá, Lula, Lula". Haddad, que é pré-candidato a governador de São Paulo, a deputada estadual professora Bebel (PT) e o vereador da capital paulista Eduardo Suplicy (PT) foram outros políticos que compareceram. O primeiro destacou a importância da educação: "Ou esse projeto [nacional] é elaborado pelo próprio povo, e isso só é possível pela educação, ou ele não vai sair do papel". Antes que o primeiro discurso tivesse início e enquanto o público chegava, raps tocavam. Entre eles, Mano na Estrada, dos Racionais MC's. Um telão transmitiu o evento para pessoas que não conseguiram entrar na quadra da Unas onde ocorreu. Outros populares acompanharam das casas ao lado do local.