Ata do Copom deixa possibilidade de cortes acima de 0,5 ponto percentual mais longe
"Desinflação" mais lenta no exterior e mercados de trabalho pesam; consumo doméstico das famílias sob atenção
O ritmo dos cortes futuros na taxa referencial de juros da economia brasileira, a Selic, deve se manter como nas duas últimas reuniões do Copom: 0,5 ponto percentual por edição, ao menos até o fechamento do ano. O recado neste sentido ficou bem claro a partir da Ata do Copom da reunião dos dias 19 e 20 de setembro. O relatório foi divulgado nesta 3ª feira (26.set) pelo Banco Central.
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Textualmente, o Copom chama a magnitude atual das reduções de "apropriado[a]'. Com mais duas reuniões do comitê no calendário do ano, as contas apontaram uma taxa referencial em 11,75% ao ano quando terminar 2023. Confira reprodução de trecho do documento abaixo.
Cenários
O setor externo permanece presente no horizonte de atenção da diretoria do Copom. Há sinais de continuidade da 'desinflação', mas com núcleos de indicadores ainda elevados. Os mercados de trabalho se mostram resistentes, enquando os Bancos Centrais centram fogo na convergência das taxas de inflação para as metas. Aqui o destaque é para as taxas de longo prazo nos EUA e a Cina, ao que tudo indica, crescendo menos.
Internamente, a atividade da economia não se abate de modo intenso. Ao contrário. O desdobramento que preocupa é o crescimento da demanda (consumo das famílias). Comércio e indústria crescem de leve e serviços fica estável. Preços ao consumidor desaceleram.
O comitê destaca quatro possibilidades para um crescimento mais resilientes nos últimos trimestres.
- A força do agro pode ter 'contaminado' outros setores da economia - no sentido de estimular a atividade.
- Consumo recebe impulso da elevação da renda disponível
- Taxa de juros neutra mais elevada
- Crescimento potencial teria se elevado nos últimos trimestres (reformas regulatórias e avanços institucionais).
Mais com menos
Para acelerar os cortes [o mercado especulava até 0,75pp para a reunião passada] seria necessário uma série de "surpresas positivas" apontando para desinflação mais intensa adiante. Daí a tratar como 'pouco provável' a mudança de ritmo nos cortes.
Eduardo Velho, economista-chefe da JFTrust Gestão de Recursos
"Hoje, avaliamos que a descrição da Ata do Copom reforça a desconfiança com fiscal e elevação dos juros médios e longos do DI. A inflação do IPCA-15 de setembro registrou alta de 0,35% ante uma expectativa média de 0,38%, com a taxa anualizada de 5% a.a., na linha do consenso do mercado. Avaliamos que o resultado confirmou a aceleração (captando os reajustes da gasolina e de passagens aéreas) na margem ante à taxa de 0,28% de agosto e não surpreendeu a maioria, portanto, sem influenciar hoje os juros futuros do DI".
Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos
"A mensagem de política monetária reforçou que a conjuntura necessita de perseverança para que se consolide não só o processo de desinflação, mas também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas: neste trecho, o Copom foi um pouco mais duro que na ata anterior, onde a mensagem de política monetária era de que a postura restritiva era necessária para reancorar as expectativas. Resumo da ata: de maneira geral, achei mais hawkish, devido à mensagem de que os juros restritivos são necessários para garantir a reancoragem das expectativas e a consolidação do processo de desinflação, sugerindo uma visão mais cautelosa pelo Copom, especialmente pelos riscos do cenário fiscal. Isso me sugere uma Selic terminal mais próxima de 10% do que de 9%. Por outro lado, a descrição de cenário está mais equilibrada, com o Copom vendo fatores altistas para Selic como temporários, deixando em aberto a possibilidade de o ciclo se estender aos 9%".
Alexandre Schwartsman, economista-chefe da Schwartsman Associados
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