Dólar em queda: é hora de viajar para fora do Brasil?
Os R$ 4,80 de agora são a menor cotação em mais de um ano: de janeiro pra cá, o dólar já caiu 9,0%
Fazia um ano que o dólar não caía tanto. Desde 6 de junho de 2022, quando foi cotada a R$ 4,795, a moeda americana não cedia para atingir os R$ 4,80 que o dólar comercial bateu na última 5ª (15.jun) -- embora tenha chegado a ser negociada a R$ 4,79 durante o dia. Daí muita gente parar pra pensar: será que é o momento de comprar? A julgar pelo desempenho que a divisa vem registrando nos últimos tempos, a pergunta está mesmo na hora de ser feita.
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No gráfico abaixo, elaborado a partir das cotações do BC, o dólar exibe o ladeira-abaixo em relação ao real no acumulado de 2023: a perda está perto de 9,0%.
Já em outras comparações, a baixa das verdinhas se acentua:
- Em 1 semana: = 1,20%
- Em 1 mês: = 2,43%
- Em 1 ano: = 4,61%
- Em 2023: = 8,86%
Fator Real
São os fatores da macroeconomia que levam à ciranda dos números no mercado financeiro. Pra não falar nas inserções políticas, mas estas ficam pra uma próxima abordagem. O que os analistas consideram na hora de orientar a clientela são os principais indicadores dos movimentos da economia, no Brasil e no mundo. "Quando se fala em moeda americana, sempre pode ser 'o real está forte ou o dólar está fraco'", avalia André Perfeito, economista e consultor. E as duas visões têm que ser pesadas, dizem os especialistas.
No presente momento, na conjuntura internacional -- de onde, afinal, vem os dólares -- o Brasil é visto como um destino para os capitais que recupera terreno globalmente. Antes disso: uma economia que volta a se "inserir" no mercado externo, a ter participação e trânsito entre mercados relevantes. A começar pelas relações com o maior de todos, os Estados Unidos.
Por lá, a inflação se faz presente no dia a dia e de forma a manter ligados os alertas econômicos e monetários. É por isso que o ciclo de aperto nos juros, com 10 altas consecutivas, tem sido tão determinante para o equilíbrio dos preços. Na decisão do comitê que define os juros de referência nos EUA, na 4ª (14.Jun), o Federal Reserve (Fed, Banco Central dos EUA) decidiu manter inalterada a taxa, no intervalo entre 5,00% ao ano e 5,25% a.a. Mas manifestou que permanece de olho nos núcleos dos indicadores de inflação, que ainda preocupam, e atento para reconduzir a alta de preços de volta à meta de 2% a.a.
"Estados Unidos está com inflação e a moeda deles tende a se enfraquecer", destaca André Perfeito. Consequência do aperto via política monetária: "Você até tava tendo algum nível de alta de juros nos EUA, mas agora parou a alta de juros e a tendência é atrair menos dinheiro para lá. Então esses motivos conspiram pra um dólar mais fraco", completa Perfeito.
Taxa de interesse
O raciocínio tem a ver com os níveis altos de juros no Brasil: o investidor internacional, que busca destinos para aportar seus capitais, olha para o Brasil com uma taxa de juros de 13,75% a.a. -- por mais que haja expectativa por alguma redução a partir até da reunião do Copom na reunião de agosto -- e não pensa muito entre mandar seus recursos para o endereço financeiro que paga melhor por eles. Mesmo com o sobe e desce que a economia -- e a política -- do país tem experimentado.
" O real mais forte tem a ver com o seguinte: antes, você pega lá final de 2022, a gente teve um processo eleitoral bastante complicado. Isso enfraqueceu muito o real. Passada a eleição, isso daí saiu do radar. Se saiu do radar, o real pode ficar mais forte. Segundo ponto. O Brasil está fazendo saldos comerciais positivos e isso implica dizer, sem dúvida nenhuma, que entra dólar aqui. Então fortalece o real. E mais do que isso. Os juros aqui no Brasil, como está com a perspectiva de queda, em tese isso enfraqueceria o real, porque paga menos juros do real. Mas por outro lado, tem incentivado tanto a bolsa aqui, a bolsa está ficando tão forte que acaba apreciando o real, as pessoas compram reais pra comprar na bolsa brasileira" - André Perfeito, economista e consultor
Na leitura dos dois economistas, existe a chance de a moeda americana voltar a subir no 2º semestre. Chance... não certeza. Porque tem de ser lembrados fatores de observação como o arcabouço fiscal a ser votado no Congresso e a conjuntura internacional. Se este prognóstico se confirmar, vai pesar no bolso de quem tiver despesas contratadas em moeda estrangeira -- por exemplo, via cartão de crédito --, mas vai resultar em ganhos pra quem tiver as verdinhas estocadas em casa.
"Não vai ser forte a alta, vai voltar pra R$ 5, por aí. Porque o Brasil está crescendo mais. Se está crescendo mais, a gente vai importar mais, se a gente vai importar mais porque a atividade está forte, isso implica dizer que o saldo comercial vai diminuir. Outra coisa é que nos EUA a situação parou de piorar. Então o dólar tende a parar de ficar fraco", completa Perfeito.
Pra mais ou pra menos
Seja pra quem está planejando aquela escapada até a Disney, seja pra quem não perde oportunidade de fazer algum botando o dinheiro pra "trabalhar pra você", a tomada de decisão nos investimentos leva em conta, entre outros aspectos, um fator crucial: o timing. É aproveitar a hora certa, o momento certo, que pode fazer a diferença e levar o investidor a ganhar.
Há analistas que acreditam que este patamar atual do câmbio ainda pode perder um pouquinho de valor, mas nada que dure prolongadamente. O mais provável, apontam os especialistas, é que as verdinhas recuperem preço ao longo de todo o segundo semestre. O próprio Banco Central (BC), na média das projeções do Relatório Focus, prevê R$ 5,10 como cotação de encerramento do ano. Daí o alerta: pode ser sim, o melhor momento para comprar. Mas incertezas estão aí... para acontecer. "Tudo depende do tempo em que se vai usar ou deixar valorizando o dinheiro comprado: a prioridade é olhar para o objetivo do investidor. E aí tomar a decisão de comprar ou esperar mais um pouco", avisa o CEO da Box Asset Management, Fabrício Gonçalvez.
Desejo e realidade
Fica fácil entender a orientação: pra quem vai viajar, comprar agora, já barato e ver a moeda perder mais em relação ao real, vai ficar um gostinho de "poderia ter esperado um pouco mais, pra comprar mais barato"; pra quem compra pra investir, o negócio é respirar fundo pra ver o investimento perder valor antes de começar a recuperar.
Já se o dólar subir, a partir de agora, quem comprou pra viajar se assegura de não pagar despesas mais altas gastando mais reais; e quem investe já garante algum retorno em cima do capital empenhado. Mesmo assim, sempre vai ter aquela sensação de "puxa, devia ter comprado um pouco mais". O timing da decisão, aqui, cede espaço para o "tempo" disponível para usar ou guardar o dinheiro comprado.
"Tudo pode acontecer", analisa Gonçalvez. O principal é ter claro a qual objetivo se vai atender. E fazer a escolha na hora que for a melhor para cada investidor.
Viagem no bolso
O especialista lembra ainda que, no caso do turista que compra dólar para viajar, o valor a ser pago já de cara não é exatamente aquela cotação que aparece nos veículos de comunicação: tem sempre ali uns 5% a mais que são uma espécie de taxa de administração que se paga às instituições bancárias. Até este limite, diz Fabricio Gonçalvez, é tolerável. Mais do que isso, não. Sempre bom pesquisar entre os bancos e casas de câmbio pra excluir as comissões mais pesadas. Ele relembra ainda que o viajante pode "levar o dólar" em diferentes formas. Cada uma com suas vantagens e cuidados a tomar.
- Dinheiro físico: que fixa o valor da aquisição e não sofre com as taxas de casas de câmbio e as diferentes cotações para efetivar pagamentos.
- Cartão de crédito: tem a praticidade de ser levado para qualquer lugar sem chamar a atenção, seguro contra perdas ou roubos e hoje em dia é aceito praticamente em todo lugar. O cuidado a se tomar é com o pós-despesa: se depois de suas compras o dólar subir muito, sua conta sobe também.
- Cartão de débito: parecido com o cartão de crédito, com a vantagem de quitar as despesas na hora. Não joga a dívida pra frente nem aumenta o valor da conta na hora de pagar.
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