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Rombo bilionário da Americanas pode impactar setor varejista e clientes

Episódio de "inconsistências contábeis" na ordem de R$ 20 bilhões faz setor ligar o alerta

Rombo bilionário da Americanas pode impactar setor varejista e clientes
Fachada da Americanas
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As ações da empresa Americanas (AMER3) sofreram uma "queima de estoque", na 5ª feira (12.jan), e fecharam o pregão com um tombo de 77,33%. Um resultado indigesto do anúncio, feito na véspera, de um rombo estimado em R$ 20 bilhões. Para especialistas ouvidos pelo SBT News, essa situação pode impactar outras lojas do segmento e até mesmo os clientes brasileiros.

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Na última 4ª feira (11.jan), o diretor-presidente Sergio Rial e o diretor de Relações com Investidores André Covre renunciaram aos cargos depois da divulgação do comunicado do déficit nos relatórios da empresa. Rial disse que faltou transparência nos reportes e sinalizou preocupação com o futuro da companhia. Isso fez com que o mercado reagisse negativamente no dia seguinte. Na 6ª feira, conseguiu uma certa recuperação, com alta de 18%.

A Americanas declarou à Justiça uma dívidda de cerca de R$ 40 bilhões. Diante da situação, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro concedeu uma medida liminar suspendendo a possibilidade de bloqueio, sequestro ou penhora dos bens da empresa e a obrigação dela de pagar suas dívidas até que um pedido de recuperação judicial seja feito. O prazo para isso é de 30 dias, sob risco de perda da medida cautelar concedida na última 6ª.

Dias contados
Segundo Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, a falta de transparência não é exclusividade das Americanas, e é comum no mercado brasileiro desde a década de 90. "O que parece ser apenas uma forma de informar 'débitos' com fornecedores pode se transformar em uma bomba atômica no balanço", pontua. Segundo ele, o principal impacto para o setor é em relação à credibilidade, em especial sobre os números.

Idean Alves diz, ainda, que a empresa é "grande demais para quebrar" por ter uma estrutura societária robusta. "Ela pode agir rapidamente para 'desarmar a bomba' antes da destruição em massa. Caso fosse uma estrutura frágil, com certeza, estaria com os dias contados", completa. 

Para Pedro Menin, sócio-fundador da Quantzed, a porta ficou pequena para o investidor que precisa sair do papel. "Tudo isso não me soa nada bem. Os diretores não renunciariam uma semana depois de assumir se a situação não fosse tão feia", afirma. 

As ações da companhia amargaram a terceira posição no ranking de maores quedas diárias, desde 2008, devido à performance na 5ª feira (12.jan). De acordo com o levantamento do TradeMap, o tombo ficou atrás apenas da Agar Incorporadora (AGIN3), em 6 de outubro de 2008: 81,55% de queda; e Hércules (HETA3), de utensílios domésticos, que teve queda de 78%, em 22 de setembro de 2008.

O levantamento mostra ainda que o volume do déficit é equivalente ao valor de mercado da Magazine Luiza (MGLU3), que, até o fechamento do pregão de ontem, valia R$ 20,20 bilhões, e da Lojas Renner (LREN3), de R$ 20,22 bilhões.

Maiores quedas diárias desde 2008 | Reprodução/TradeMap

Fraude
Todo o episódio, segundo Menin, pode sinalizar uma fraude sem precedentes, abrindo margem para desconfiança por parte de investidores.

"Nessa situação, é sempre recomendado ficar o mais longe possível. O mercado geralmente bate primeiro e depois pensa, ou seja, vende primeiro e depois analisa. Então, com certeza, em um apontamento de fraude que fez um CEO e CFO, nomeados há pouquíssimos dias, extremamente competentes e com muita credibilidade, resignarem dos cargos é algo bastante sério", reforça. 

Apesar do susto, a companhia tenta medidas para explicar o dano aos acionistas e acalmar o "pânico" internamente. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu dois processos administrativos para investigar o caso. Menin acredita que a empresa terá que lidar com a reprecificação de múltiplos, mas ainda é difícil entender os impactos reais. 

"Pelo jeito, não era algo muito difícil de descobrir e provocou um pânico generalizado nas varejistas. O que resta para o mercado é tentar entender o tamanho do buraco", completa.

Labarthe diz que o momento é de cautela, tanto de bancos credores quanto de fornecedores, clientes e demandas do e-commerce.

"Acredito que agora ela será analisada perante o mercado para ver se outras empresas do mesmo segmento tomaram as mesmas decisões erradas na parte contábil. São momentos péssimos para a empresa porque todo mundo se afasta, inclusive os clientes, porque você não sabe se vai receber o seu produto", analisa.

O especialista chama a atenção para a necessidade de se fiscalizar os bancos credores, que, de certa forma, financiaram os gastos não sinalizados em documentos da empresa. 

Há uma preocupação extra com fundos imobiliários, uma vez que, devido ao cenário sensível, lojas podem ser fechadas para readequação de cenário financeiro. "O risco de inadimplência da empresa irá aumentar drasticamente e o mercado seguirá atento. Por isso, este é um momento de desconfiança até checarem tudo", conclui.

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