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Comitê de Política Monetária do Banco Central mantém juros em 13,75% ao ano

Analistas concordam com manutenção da Selic, mas chamam atenção para comunicado do BC: espaço aberto para ciclo de altas

Comitê de Política Monetária do Banco Central mantém juros em 13,75% ao ano
Banco Central
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No Brasil, a "Super Quarta" dividiu as atenções em duas fases distintas. A primeira etapa até a decisão, pelo Banco Central dos Estados Unidos (Federal Reserve), de elevar os juros da economia em 0,75 ponto percentual. E mais: o comunicado emitido pela autoridade monetária apontou para a possibilidade de novas elevações dos juros proximamente, até a taxa alcançar algo em torno de 4,25% ou até 4,5% até o final do ano. 

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O segundo estágio das atenções se concentrou na decisão pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) quanto aos juros básicos aqui no Brasil. Ao final da reunião de dois dias, os diretores do Copom decidiram manter a taxa Selic em 13,75% ao ano, interrompendo a escalada de elevações iniciada em março de 2021. Em que pese o fato de o ciclo de aperto dos juros ter se iniciado antes do americano, o resultado no combate à inflação ainda gera dúvidas quanto a ter ou não apresentado a totalidade da eficiência pretendida. Por conta disso, os diretores reunidos justificaram a preocupação com a inflação muito disseminada por vários setores que têm buscado reajustar preços, mesmo que se considere os dois meses seguidos de deflação e a baixa significativa nos custos de energia e combustíveis, operada pela redução do ICMS conforme política orientada pelo governo. 

O que pesa

Para o Copom, os seguintes fatores, entre outros, influenciaram a decisão:

  • Ambiente externo ainda adverso e volátil, com crescimento das principais economias observando contínuas revisões, em especial para a China;
  • Ambiente inflacionário segue pressionado, e os países avançados procedem a aplicação de políticas monetárias com taxas restritivas;
  • O Produto Interno Bruto brasileiro aponta ritmo de crescimento acima do esperado no segundo trimestre, e os indicadores divulgados desde a última reunião do Copom seguiu sinalizando crescimento;
  • A inflação ao consumidor, apesar da queda recente em itens mais voláteis e dos efeitos de medidas tributárias, continua elevada;
  • As expectativas de inflação para 2022, 2023 e 2024 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 6,0%, 5,0% e 3,5%, respectivamente; e as projeções de inflação do Copom situam-se em 5,8% para 2022, 4,6% para 2023 e 2,8% para 2024. 

Comunicado do Copom

"Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 13,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete a incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva, e é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2023 e, em grau menor, o de 2024."

"O Comitê se manterá vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período suficientemente prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação. O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado."

Abaixo, as opiniões de analistas e investidores sobre a decisão dos juros no Brasil. 

Alexandre Bassolli, economista chefe da Apex Capital 
"Depois de 12 altas consecutivas, Copom já parecia inclinado a fazer uma pausa, considerando que os efeitos da alta de juros se materializam com defasagens. Política monetária dá sinais de já estar em terreno contracionista, deve contribuir para uma queda da inflação ao longo de 2023. Há, porém, riscos: crescimento da economia tem surpreendido para cima, em parte porque a política fiscal tem sido muito expansionista, através da redução de impostos e da ampliação dos programas de transferência de renda. Além disso, expectativas de inflação para 2024 têm se elevado nas últimas semanas, o que torna mais difícil a convergência da inflação. Em resumo, Copom faz uma pausa, mas não se pode descartar uma eventual retomada do ciclo de alta."

Alexandre mathias, CEO da Kilima
"O Copom manteve a Selic em 13,75% e confirmou a expectativa da maioria dos economistas, ainda que não fosse o que os preços de mercado indicassem. A projeção de 3,5% no horizonte do primeiro trimestre de 2024 indica convergência para a meta. O comunicado trouxe uma mensagem dura e pouco usual, dizendo que o BC ' não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso processo de desinflamação não transcorra como esperado'. 

Isso é uma tentativa de conter o apreçamento de cortes no ano de 2023, mas dado  o nível extraordinariamente elevado das taxas de juros, o mais provável é que a curva acompanhe a tendência de queda da inflação. Isto é, os cortes vão aumentar à medida que os números de inflação confirmarem a convergência pras metas."

Marilia Fontes, sócia da Nord Research
"A manutenção era amplamente esperada pelo mercado. Mas o comunicado da autoridade teve um parágrafo surpreendente: foi mais austero do que esperado. O documento diz que o comitê [Copom] se manterá vigilante avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica por tempo suficientemente prolongado será capaz de assegurar a convergencia da inflação. O comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados, e que não hesitará em retomar o ciclo de ajustes caso o processo de desinflação não ocorra."

"Ou seja: haverá manutenção nas próximas reuniões, mas deixando um espaço aberto pra retomar o ciclo de alta se ele [Copom] entender que a estabilidade da selic em 13,75% não vai ser suficiente. Então o mercado, que tá cheio de queda da Selic no ano que vem, pode ter que vir a revisar isso e as taxas de juros de curto prazo podem subir um pouquinho amanhã (22.set)."

George Vidor, jornalista e economista 
"A inflação continua declinando no Brasil e os prognósticos agora são de que o IPCA fechará o ano de 2022 em 6%, pouco acima do teto da meta. Ainda que as previsões para 2023 estejam pessimistas, mesmo com as ameaças russas de fazer loucuras, as cotações do petróleo tendem a permanecer por volta de 85 dólares o barril. Nesse caso, a inflação no ano que vem deve mesmo convergir para o teto da meta (recuando para 4,5%). Não faria sentido o Banco Central aqui elevar mais as taxas básicas de juros. Já estão suficientemente altas. Os bancos centrais dos países desenvolvidos é que estão atrasados nesse ajuste para cima. De qualquer forma, com a Selic a 13,75% ao ano, manteremos uma distância folgada das taxas que vêm sendo estabelecidas lá fora. O Copom acertou em não mexer na Selic. Espero que agora só mexa para reduzi-las, o que só deverá ocorrer em 2023, quando enfim saberemos o que o novo governo pretende executar em termos de política econômica."

Marcelo Freller, estrategista macro da XP
"O Copom foi mais 'Hawk' [agressivo] do que o esperado. Além de dois votos para elevação de 0,25pp, a frase em que ele afirma que não hesitará em voltar a subir os juros caso a desinflação não ocorra como planejado jogou um balde de água fria em quem esperava sinalização de cortes de juros num futuro próximo. 

Eu considero que o movimento foi correto, nas vésperas de uma eleição e com o Fed mais 'Hawk', todo cuidado é pouco. O BC fez o trabalho duro de subida de juros e agora deve esperar os resultados, essa postura mais dura é a melhor para que as expectativas de inflação caiam mais rapidamente e o BC possa cortar os juros com mais segurança lá na frente."

Débora Nogueira, economista chefe da Tenax Capital
"BCB [Banco Central do Brasil] manteve taxa em 13,75%, em linha com a nossa expectativa e a maioria do mercado. A comunicação buscou entregar um fim de ciclo hawkish. Ao final, houve o reforço da mensagem de vigilância, com ênfase para a possibilidade de aperto adicional caso a estratégia de manutenção do juro em patamar elevado não seja suficiente para garantir a convergência da inflação. E ainda tivemos dissenso pela primeira vez em muitos anos, com dois diretores votando por alta adicional de 0,25%. Entendemos que a barra para uma alta adicional em 2023 é alta, e a estratégia do BC foi de trazer uma mensagem dura para evitar que a curva de juros passe a antecipar um corte prematuro da taxa no começo do próximo ano. Esperamos que os juros fiquem parados até meados do ano e que finalize 2023 em cerca de 11,0%."

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