Alta de seguros surge como mais um problema para encarecer alimentos
Extremos climáticos aumentaram sinistros nas áreas rurais; seguros estão ficando mais caros e vão impactar custos
A alta no valor do seguro para áreas rurais pode encarecer ainda mais o preço dos alimentos. A escalada nos preços é justificada pelas corretoras tendo em vista o fator "risco climático", que teria crescido bastante. São as possibilidades de tornados, enchentes, estiagens, entre outros eventos considerados extremos.
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"Já ouvimos de produtores rurais que existem corretoras recusando contratos. Outras aumentando as taxas dos seguros", lamenta Bruno Lucchi, diretor técnico da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), sobre o surgimento de mais uma preocupação para o agronegócio, que pode encarecer custo de produção e, por consequência, ainda mais os preços dos alimentos.
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Climatologistas confirmam a incidência maior. "Podemos dizer que estão ocorrendo antes do previsto. Não precisamos esperar até 2040", explica José Marengo, coordenador-geral de pesquisa e desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e um dos maiores especialistas no mundo sobre aquecimento global.
As mudanças já seriam resultado do aquecimento global. Nos últimos dois séculos, a Terra ficou, pelo menos, 1°C mais quente. Ao levar em consideração o que cientistas acreditam, que serão 3°C até o fim desse século, o problema deve piorar e o agronegócio será o setor mais afetado da economia, pois são empresas a céu aberto, totalmente vulneráveis. Algumas previsões já são antecipadas: "Centro-oeste e Nordeste vão ficar cada vez mais secos e quentes. Pode afetar drasticamente a produção de soja", avalia Marengo.
Mas não é preciso esperar pelo fim do século, a atualidade já é preocupante, basta observar o crescimento nas ocorrências. Nos dois primeiros meses desse ano foram pagos R$ 4,5 bilhões em sinistros para produções agropecuárias. Valor próximo do que foi pago no ano passado inteiro: R$ 5,4 bilhões. Muito mais do que em 2020: R$ 2,5 bilhões, segundo a Superintendência de Seguros Privados (Susep).
De fato, os extremos do clima estão castigando lavouras e criações. Há um ano, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) monitora a seca. "A mais severa dos últimos 70 anos", informam os relatórios. O fenômeno começou na região central do Rio Grande do Sul e hoje já atinge 80% dos municípios. "O volume de chuva está 60% aquém do esperado. A temperatura com quase 10°C a mais que o comum." Ruim para a produção, por exemplo, de maçãs.
Veja nas fotos a seguir:
Foi nessa época que as seguradoras começaram a ser acionadas. Logo, os chamados ficaram mais frequentes e abrangentes, como conta o presidente da comissão de seguro rural da FenSeg, Joaquim Neto.
"Impactou muito a cultura de milho segunda safra. Nos meses seguintes tivemos seis episódios de geadas, que também impactaram a produção de hortaliças, com destaque para a cultura de tomate, e a cultura de café. Na sequência, no início da safra de verão, tivemos excesso de chuva e granizo, principalmente na cultura de soja, além de impactos nas culturas de hortaliças, com destaque novamente para a cultura de tomate, e a de café. No fim do ano de 2021 tivemos uma seca que impactou muito a cultura de soja, e que prosseguiu nos primeiros meses de 2022".
O aumento de sinistros, com a consequente valorização dos seguros, é mais um fator para tornar a produção agropecuária mais cara. Quando o clima não é favorável, dificilmente algum tipo de cultura escapa ilesa. Um exemplo está na cadeia de laticínios. As vacas diminuem a lactação quando o capim tem menos umidade na composição, sem contar que a secura as deixa desconfortáveis durante a ordenha.
São mais fatores para somar aos "40% de aumento no custo de produção em um ano. Teve pandemia, guerra na Ucrânia, risco de falta de fertilizantes, inflação", destaca o diretor técnico da CNA.
E se as produções agrícolas e pecuárias estão mais caras, em pouco tempo a diferença será percebida nas gôndolas dos supermercados.
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