Economia brasileira registra saldos positivos apesar de guerra na Europa
Por estar fora da rota da zona de conflito, país se torna atraente para ativos financeiros
A guerra entre Rússia e Ucrânia tem afetado o mercado financeiro mundial pela incerteza que gera nos agentes econômicos. No Brasil, não tem sido diferente. Mas, por estar fora da rota da zona de conflito, os efeitos no país fogem um pouco à regra do que está sendo observado no resto do globo.
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Em um primeiro momento, sempre quando há qualquer evento ou informação que altera o fluxo natural do mercado, consequentemente, há também uma fuga de capitais. Como resultado, ocorre uma desestabilização, as bolsas caem ou, dependendo da situação, podem até subir, como foi o que aconteceu com a bolsa brasileira.
Em 2022, a B3 já recebeu mais de R$62 bilhões de fluxo de investidores estrangeiros, mais da metade dos R$ 102 bilhões que ingressaram durante todo o ano de 2021, segundo relatório da XP Investimentos. O economista e pesquisador da Unicamp Felipe Queiroz explica o motivo.
"A Zona do Euro está numa completa tensão com a questão da Ucrânia, com o risco dessa guerra se alastrar para outras partes do território europeu. Como o Brasil é um país que está fora do radar que envolve direta e objetivamente a crise, muitos ativos especulativos têm vindo ao ao país", afirma.
Além disso, segundo a XP, o país se beneficiaria dos preços de commodities mais altos. Com a Rússia fora do radar dos investidores estrangeiros, o Brasil se torna mais atraente, por ser um mercado emergente líquido e de alto rendimento, geograficamente distante do conflito e com uma eleição presidencial em que os principais candidatos são conhecidos pelos participantes do mercado.
"O fato do presidente não estar ameaçando as instituições como ele fez continuamente desde que assumiu a Presidência tem contribuído para que muitos ativos retornem ao país. Outro ponto é a estabilização nas pesquisas de intenção de voto das eleições, que tem consolidado um cenário de retorno a um tipo de política desenvolvimentista com o ex-presidente Lula", explica Queiroz.
Além disso, em janeiro, o real avançou 4,86% em relação ao dólar. Porém, isto não necessariamente significa que a moeda brasileira está valorizando mais, mas sim que está voltando aos patamares de equilíbrio.
"O real estava muito fora da realidade com receio das declarações do presidente sobre a pandemia. Então, no primeiro momento da crise sanitária, muitos capitais ativos foram se refugiar em títulos do tesouro americano ou do Banco Central Europeu", ressalta o economista.
No entanto, apesar dos saldos positivos, ainda é cedo para traçar o cenário de que a economia brasileira está indo na contramão do resto do mundo. Caso não seja declarado um cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia, o principal impacto da guerra no Brasil será no setor agropecuário.
"O Brasil tem uma dependência muito grande dos fertilizantes da Rússia. Se a situação da crise não for sanada e os embargos da Rússia continuarem, poderá afetar o agronegócio. Isso afetará consequentemente toda a cadeia produtiva, porque o setor tem participação bastante significativa na economia brasileira", pontua Queiroz.
Outro ponto que vale ser destacado é em relação aos combustíveis. O preço do barril de petróleo continua subindo e não há previsão para estabilizar. "Isso consequentemente afetará a cotação interna da gasolina e do gás natural, porque a Petrobras adota uma política de preço em paridade com a cotação internacional", arremata o economista.