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Especialistas criticam antecipação de 2ª dose para frear Delta no Brasil

Médicos indicam que o momento é de imunização em massa, mesmo que com uma dose

Especialistas criticam antecipação de 2ª dose para frear Delta no Brasil
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O aumento de casos da variante Delta da covid-19 no Brasil acendeu um alerta entre especialistas e secretarias estaduais de saúde. Até este sábado (17.jul), foram registradas ao menos 46 infecções da nova cepa, que é considerada mais infecciosa que as demais, e já foi identificada em mais de 100 países. O receio dos riscos da nova variação levantou dúvidas acerca do que fazer para combatê-la, como a possibilidade de se antecipar a 2ª dose da vacinação. Especialistas consultados pelo SBT News, no entanto, pontuam que não é o momento do Brasil considerar essa estratégia: o melhor é vacinar, mesmo que com uma dose, o maior número de pessoas possível.

Renato Kfouri, pediatra infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), defende que seguir o combate contra o coronavírus de forma geral é mais urgente que o enfrentamento a uma variante específica. "A gente deve vacinar o maior número de pessoas com a 1ª dose. Antecipar a de pessoas em um curto período atrasa a vacinação de alguém. Então, a consequência é pior", declara. 

"É melhor utilizar os intervalos máximos permitidos. Esse intervalo funciona também sobre as formas graves da covid-19, e, com isso, você dá uma 1ª dose prevenindo mais mortes estrategicamente. Para a saúde pública, é muito mais interessante dar a primeira dose do que terminar o esquema de algumas pessoas retardando o início da primeira para outras", explica.

O mesmo é pontuado pela virologista do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (FMUSP) Camila Romano. "A eficácia vai ser a mesma que se tomada no tempo certo. Então, você vai ter um número de pessoas com a 2ª dose maior, e a falsa impressão que está todo mundo imunizado. Você pode estar cometendo um erro fazendo isso", pondera. "A gente tem que intensificar as campanhas de vacinação e o conhecimento de se tomar a segunda dose, não antecipar", opina.

Romano também esclarece que o fato de ser mais infecciosa não torna a variante mais grave que as demais, e que ainda é necessário esperar para saber como será a evolução da Delta no país: "É uma comparação injusta com as outras cepas. Por que a Delta está disseminando em vários países, e, sim, está causando uma terceira onda, mas em termos de mortalidade é cedo para dizer".

A virologista ainda aponta que a estratégia de uma terceira dose de vacina neste ano, para controle da Delta, só deve ser considerada em locais onde mais da metade da população já foi imunizada completamente: "Piorar não vai. No mínimo, a proteção vai ficar igual, há uma provável melhora, mas é mais inteligente em locais em que a população tem o número de vacinas suficientes, como no Reino Unido, e em alguns estados dos Estados Unidos. Agora, em países como o nosso, em que não estamos ainda nos 15% [da população vacinada], não é uma boa ideia. A terceira dose é um pouco utópica para essa realidade".

A imunologista Anamélia Bocca, professora da Universidade de Brasília (UnB), também descarta a mudança no cronograma, ou terceira dose de vacina. E pondera ser necessário observar como será a evolução da variante no país. "A gente sabe que ela está em 40% da Europa, então, considerando as variantes que estavam lá, ela está se sobrepondo e consegue proliferar mais. Mas a gente teve a variante Alfa, a britânica, e ela não se disseminou muito no Brasil, porque aqui a Gama tinha uma facilidade maior. Então, não necessariamente a Delta vai conseguir se disseminar mais", diz.

Como se preverir contra a Delta

Apesar da maior transmissibilidade, o cuidado para prevenção da variante Delta é o mesmo que para as demais formas do coronavírus. "Se a pessoa fizer distanciamento social, uso de máscara, álcool em gel, e tomar medidas que a gente já vem tomando, elas são suficientes para a variante Delta. O que a gente precisa é continuar atento", afirma a professora da UnB. Bocca também destaca que o momento é de vacinar a maior parte da população possível: "O que a gente precisa conferir é a proteção de 90% com as duas doses".

A virologista Romano também ressalta a importância da imunização e destaca que todas as vacinas que estão sendo aplicadas no Brasil são seguras e necessárias para o controle da pandemia no país. "Tudo o que se tem observado sobre variantes é que todas as vacinas são super eficazes. Então não tem razão nenhuma para a gente acreditar que uma vacina vai ser mais eficiente contra a Delta ou outra. Qualquer vacina é melhor do que nenhuma vacina, então, tome qualquer uma."

A Delta no Brasil

O Ministério da Saúde foi contactado sobre um balanço atualizado do número de detecções da variante Delta no Brasil, mas não respondeu até a publicação desta reportagem. A última divulgação da pasta, na 5ª feira (15.jul), no entanto, indicava que 27 casos da variação foram identificados no país, além de cinco mortes pela doença. Depois disso, a secretaria de Saúde do Rio de Janeiro divulgou 18 novos casos, e a do Paraná também afirmou ter identificado um. As duas atualizações locais elevariam o número para 46 casos, até este sábado.

Confira como está a identificação da variante por estado:

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