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Líder do MST admite haver "oportunistas" no movimento e cita formas de combatê-los

João Pedro Stédile prestou depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara

Líder do MST admite haver "oportunistas" no movimento e cita formas de combatê-los
João Pedro Stédile (Myke Sena/Câmara dos Deputados)
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Depondo à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara dos Deputados, nesta 3ª feira (15.ago), o líder nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, admitiu que dentro dos acampamentos deste há "muitos oportunistas", isto é, pessoas que querem explorar o trabalho dos outros acampados. Entretanto, disse que esses indivíduos nesses locais só causam problema ao movimento e que este possui formas de combater os oportunismos: quatro princípios organizativos adotados pelo MST e que protegem os interesses da comunidade.

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Entre os princípios, o de que tudo precisa ser coletivo, ou seja, em forma de comissão; o de divisão de tarefas; o de que é preciso ter disciplina (a maioria decidiu, vão obedecer); e o de que é necessário estudar. "O fato de ser camponês, no nosso caso, não lhe dá o direito de ser ignorante", ressaltou Stédile, ao citar o último. Ainda de acordo com ele, oportunistas existem em todas as classes na sociedade.

As declarações foram dadas em resposta ao relator da CPI, deputado Ricardo Salles (PL-SP); ele havia perguntado qual a visão do líder do MST sobre uma eventual liderança que se valha do grupo de pessoas dentro do movimento e dos processos de invasão de terra "para em algum momento reverter parte desse trabalho em benefiício econômico pessoal, amealhando bens, verbas, renda, em detrimento daqueles que estão engrossando as fileiras".

Antes de fazer a pergunta, Salles, pontuou: "Eu entendo que uma pessoa na sua posição, com a visão que o senhor tem, a história que tem, não coaduna, não se alinha com uma série de práticas que eu diria, vou usar um termo genérico aqui, capitalistas, de diversas lideranças do setor, em diversos estados, que nós fomos idenfiticando ao longo da CPI e que, embora se valham da discussão pela terra, ideológica, etc., denotem em muitos casos um interesse tangível econômico muito claro".

Stédile depôs acompanhado de seus advogados. No início da reunião da CPI, Salles disse que ao receber o representante nacional do MST, o colegiado estava "convergindo as diferentes realidades regionais". "Através das diligências da CPI nós estivemos em São Paulo, do Pontal do Paranapanema, em Alagoas, em Goiás".

Ele prosseguiu: "Ouvimos ex-membros do grupo aqui do DF, enfim, para além da diligência na Bahia, que já está programada para a próxima semana. Suprimindo as diferenças regionais, a oportunidade de poder conversar com o líder nacional traz um caráter de representatividade de abrangência de todo o movimento, em todo o país".

Em determinado momento da reunião, o relator afirmou haver no MST "uma gama de distorções, há uma gama de ações, e não é pequena, exatamente contrária" à visão principiológica apresentada por Stédile na CPI. "Então, como eu disse, pessoas que arrendam a terra coletiva, pessoas que se apropriam dos bens que estavam na fazenda, pessoas que retêm o dinheiro dos programas que vem para cooperativas e assentamentos".

Dessa forma, complementou, em sua visão, "para que essa narrativa de evitar abusos, coibir situações como essa, possa ter credibilidade, é preciso imediatamente fazer com que esses exemplos todos, e que certamente não são numerus clausus, há muitos outros, se a gente for atrás, se encerrem". Isso porque, acrescentou, "a conclusão que essas experiências, que esses depoimentos, esses documentos nos trouxeram denotam claramente um uso do poder de liderança local para usurpar esse princípio de coletividade que o senhor mencionou".

Ricardo Salles (Myke Sena/Câmara dos Deputados)

Na sequência, Salles perguntou como, então, o movimento fará para reverter esse quadro e, com isso, dar credibilidade à narrativa levada por Stédile à CPI. "Eu considero elogiável esse esforço de vocês de procurar identificar os problemas. Isso ajuda. Espero que o senhor no seu relatório coloque sugestões de como nós podemos superar isso. Mas eu queria fazer uma observação de ordem estatística", iniciou Stédile em sua resposta.

A observação diz respeito ao número de assentados e acampados: "Nós temos 500 mil famílias assentadas. Agora o último levantamento do Incra deu 60 mil famílias acampadas. Bom, 500 mil famílias assentadas. Se vocês usassem uma mostra aleatória de 1%, já daria 5 mil famílias que vocês teriam que ouvir. Então evidentemente que esses casos que vocês encontraram, que não quero julgar se é verdadeiro ou não, mas acredito que existam, por conta daquela categoria sociológica, mas nós em sã consciência não podemos atribuir a alguns casos como se aquilo fosse geral".

Ainda no depoimento Stédile fez um apelo aos integrantes do MST que estavam acompanhando a transmissão da reunião: "se você tiver algum caso que acha que houve desvio, vá na delegacia, leve provas, testemunho e abre processo contra quem, porque o maior afetado disso é o MST, não é o sacana que se apropriou do bem. Nós temos interesse que se corrija isso".

Para Salles, entretanto, a visão amostral, do 1%, apresentada pelo líder do movimento, não é "cabível". "Porque os casos trazidos aqui ou investigados por nós, pelas informações colhidas na CPI, obviamente o senhor não precisa concordar com isso, estou dizendo que nós apuramos aqui na CPI, são muito mais uma posição representativa da realidade do que está acontecendo do que o contrário. Como, é uma questão de bom senso, eu admito que haja casos onde as coisas funcionam bem".

Não foram poucos os relatos obtidos pela CPI, disse, "de pessoas que foram obrigadas a trabalhar na roça coletiva, tomando conta da portaria do acampamento, fazendo uma série de coisas, sob o princípio coletivo, que o senhor citou aqui, e nenhum caso de os militantes fazerem o mesmo trabalho dos assentados e acampamentos, como se fosse uma classe superior dentro do acampamento e do assentamento".

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