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ENGANOSO: Órgão de saúde alemão não determinou que lockdown era prejudicial, nem que covid matava igual à gripe

Confira a verificação realizada pelos jornalistas integrantes do Projeto Comprova

ENGANOSO: Órgão de saúde alemão não determinou que lockdown era prejudicial, nem que covid matava igual à gripe
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ENGANOSO: A taxa de mortalidade da covid-19 não é igual à da gripe e os lockdowns durante a pandemia não foram prejudiciais, diferentemente do que afirma post que usa reportagem sobre documentos do Robert Koch Institut (RKI), órgão do governo alemão que monitora doenças infecciosas. Os arquivos mencionados são verdadeiros, mas não emitem o posicionamento oficial do instituto, apenas opiniões individuais de integrantes do comitê de crise emitidas em diferentes momentos, quando o conhecimento sobre a covid ainda era incipiente. Contatado pelo Comprova, o RKI afirmou, sobre a mortalidade, que 65 mil pessoas morreram de covid-19 na Alemanha no inverno de 2020/2021, número muito superior ao da pior gripe das últimas décadas, ocorrida no inverno de 2017/2018, quando cerca de 25 mil pessoas faleceram.


Conteúdo investigado: Post com foto de jornal alemão com o título “Protocolos secretos da Covid revelados” e a legenda: “Descobriram documentos oficiais do RKI (Robert Koch Institut), a ‘Anvisa alemã’, que confirmaram todas as teorias dos ‘negacionistas’. Segundo os próprios conselheiros do governo para a questão da pandemia, o ‘lockdown traria mais consequências maléficas do que o vírus. O uso de máscara era questionável e que a mortalidade da COVID era parecida com a da gripe’. Ou seja, tudo aquilo que quem falou, quando da pandemia, era perseguido e até processado criminalmente”.

Onde foi publicado: X.

Saiba mais:
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Conclusão do Comprova: Post engana ao afirmar que documentos do Robert Koch Institut (RKI), órgão do governo alemão que monitora doenças infecciosas, confirmaram que o lockdown seria mais prejudicial do que o novo coronavírus, que o uso de máscara era questionável e que a mortalidade da covid-19 era semelhante à da gripe.

De fato, houve documentos do órgão publicados com essas afirmações, mas as opiniões não representam o posicionamento oficial do instituto. Contatado pelo Comprova, o RKI afirmou que os documentos são resumos de discussões da equipe de crise de covid-19 que refletem o nível de conhecimento em diferentes datas e que nessas conversas são abordadas diferentes perspectivas. “As declarações individuais feitas no contexto de tais discussões não refletem necessariamente a posição acordada do RKI”, informou o instituto.

Diferentemente do que sugere o post enganoso, tanto os lockdowns quanto o uso de máscaras continuaram sendo defendidos pelo RKI ao longo da pandemia.

Segundo o post enganoso, o RKI afirmou que o lockdown era mais prejudicial do que o vírus, mas não foi isso que o documento mostrava. Ele trazia um alerta de que os lockdowns mostraram um aumento esperado da mortalidade infantil na África. Além de falar sobre a questão do confinamento no continente africano, onde a realidade é diferente, a citação sobre a mortalidade infantil era um dado e não refletia o posicionamento do RKI, que defendia os lockdowns na Alemanha, que teve bloqueios parciais e totais de circulação de pessoas.

Sobre o uso de máscaras, o RKI afirma ter recomendado a proteção assim que percebeu que elas poderiam conter a transmissão do vírus, antes mesmo de outros países europeus. No fim de janeiro de 2020, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) não tinha decretado a pandemia (isso só ocorreria em março), o RKI sugeriu que pessoas com algum sintoma de infecção respiratória aguda usassem a proteção facial em espaços públicos. E, no início de abril daquele ano, passou a recomendar o uso geral de máscaras pela população.

A OMS só começou a recomendar o uso do item de proteção em junho de 2020 e, em fevereiro de 2023, afirmou que o uso de máscara continuava sendo uma das estratégias para reduzir a transmissão do vírus. Em página sobre a covid atualizada em outubro do ano passado, quando já havia sido decretado o fim da pandemia, o órgão afirma que “o uso de máscara reduz a propagação de doenças respiratórias na comunidade, reduzindo o número de partículas infecciosas que podem ser inaladas ou exaladas”.

Outra teoria negacionista citada no post enganoso e que aparece no documento do RKI, de que a mortalidade da covid era parecida com a da gripe, também não faz sentido. De 2020 a 2022, morreram de covid na Alemanha, segundo o Robert Koch Institut, 161,5 mil pessoas – destas, 65 mil ocorreram no inverno de 2020/2021. Para efeito de comparação, o órgão cita em seu site que, “na pior onda de gripe das últimas décadas, no inverno de 2017/2018, ocorreram cerca de 25 mil mortes”.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 1 de abril, a publicação havia sido visualizada 70,4 mil vezes no X.

Como verificamos: Buscamos no Google o título da reportagem em alemão mostrado no post e descobrimos que a matéria foi publicada pelo jornal Bild, cuja sede é em Berlim. Confirmamos a publicação na versão impressa por meio do site Front Pages, que mostra capas de jornais do mundo todo. No Google Tradutor, traduzimos o conteúdo da reportagem. E, em outra busca realizada no Google sobre essa discussão na Alemanha, foi possível encontrar uma reportagem publicada pelo The Telegraph.

Entramos em contato com o RKI por e-mail, que negou o conteúdo alarmante do post e enviou uma verificação feita pelo veículo alemão Tagesschau com o título “Os arquivos RKI e o escândalo que não é escândalo”. Na avaliação de especialistas ouvidos pela reportagem do site, o “conteúdo é muito menos explosivo do que se afirma” e as atas foram escandalizadas, com declarações tiradas de contexto.

O que diz o responsável pela publicação: A reportagem tentou contato com o autor do post, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

O que podemos aprender com esta verificação: Dados reais podem ser tirados de contexto com o objetivo de desinformar. O post se refere a documentos do RKI, mas que retratavam opiniões emitidas em momentos da pandemia nos quais os integrantes do comitê de crise alemão ainda não tinham conhecimento completo sobre as dinâmicas da doença e que não consistiam no posicionamento oficial do órgão. Para não cair na desinformação, quando vir posts com conteúdos muito bombásticos, o primeiro passo é refletir se aquilo faz sentido. Como os órgãos de saúde informaram desde o início da pandemia, os cientistas estavam estudando como o vírus agia e as medidas de proteção foram divulgadas em etapas diferentes em cada país de acordo com o número de mortes. Foi provado, para ficar apenas em um exemplo do conteúdo do post, que o uso de máscaras foi eficaz. Também vale sempre buscar a informação em outros sites. Neste caso, uma busca na plataforma do RKI mostraria o que o órgão acredita até hoje.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Como citado anteriormente, o veículo alemão Tagesschau também verificou posts semelhantes ao verificado aqui. E, sobre pandemia, o Comprova já concluiu, por exemplo, ser enganoso que pesquisadores descobriram relação entre vacina e covid longa e falso que haja evidências de que suramina elimine vacina do organismo de imunizados contra a covid.

Investigação e verificação

Folha e A Gazeta participaram desta investigação e a sua verificação, pelo processo de crosscheck, foi realizada pelos veículos UOL, Estadão, O Dia, Imirante.com, piauí, SBT e SBT News.

Projeto Comprova

Esta reportagem foi elaborada por jornalistas do Projeto Comprova, grupo formado por 41 veículos de imprensa brasileiros, para combater a desinformação. Iniciado em 2018, o Comprova monitorou e desmentiu boatos e rumores relacionados à eleição presidencial. Na quinta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre políticas públicas do governo federal e eleições, além de continuar investigando boatos sobre a pandemia de covid-19. O SBT SBT News fazem parte dessa aliança.

Desconfiou da informação recebida? Envie sua denúncia, dúvida ou boato pelo WhatsApp 11 97045 4984.

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