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Há 40 anos, Praça da Sé recebia o primeiro dos grandes comícios pelas Diretas Já

Movimento teve grande participação popular e abriu caminho para a redemocratização do Brasil

Há 40 anos, Praça da Sé recebia o primeiro dos grandes comícios pelas Diretas Já
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Marco zero da cidade de São Paulo, a Praça da Sé recebia há 40 anos, no dia 25 de janeiro de 1984, o primeiro grande comício pelas Diretas Já. A data virou um marco para a campanha iniciada no ano anterior e é lembrada como o início do maior movimento popular pela redemocratização do nosso país.

Nem mesmo a chuva que caía naquela tarde, aniversário de 430 anos da capital paulista, espantou os quase 300 mil apoiadores da emenda apresentada pelo deputado Dante de Oliveira, do PMDB de Mato Grosso, que previa o reestabelecimento de eleições diretas para a presidência já em 1985.

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A proposta contrariava o plano de abertura política sugerido pelos militares, no poder desde o golpe de 1964, e catalisava a insatisfação geral que tomava conta do país, farto de 20 anos de censura e violenta repressão, e da crise econômica, marcada por hiperinflação e desemprego.

Em 1982, o regime militar já havia sofrido uma importante derrota: aceitou promover eleições diretas para governador, e deu à oposição a liderança dos dez estados mais populosos da federação. Entre eles, Franco Montoro (PMDB), em São Paulo; Leonel Brizola (PDT), no Rio de Janeiro; Tancredo Neves (PMDB), em Minas Gerais; José Richa (PMDB), no Paraná.

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O estado de Richa foi o primeiro a receber um comício oficial das Diretas Já, em 12 de janeiro de 1984. Cerca de 50 mil pessoas encheram a Boca Maldita, no centro de Curitiba, e ecoaram o chamado do narrador esportivo Osmar Santos, que gritava ‘Diretas’ e recebia como resposta “Já”. No palanque, figuravam as principais lideranças do PMDB, incluindo o presidente do partido, Ulysses Guimarães, que ficou conhecido como o senhor Diretas.

Nos dias seguintes foi a vez de Porto Alegre (RS), Salvador (BA), Vitória (ES), e, duas semanas mais tarde, São Paulo.

Com a presença de oito governadores do PMDB; de Leonel Brizola, do PDT; de Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do PT; além de líderes sindicais e representantes da União Nacional dos Estudantes (UNE), entre outras entidades civis, consolidou-se ali, na simbólica praça da Catedral da Sé, a frente ampla pela volta de eleições livres e diretas para presidente. É o que explica o historiador José Barbosa.

“Pela primeira vez, todas as principais lideranças políticas do país esqueceram as suas diferenças, esqueceram as suas visões diferentes de Brasil e de como a democracia deveria ser reconquistada, se uniram e foram para o mesmo palanque, para fazer praticamente o mesmo discurso”, afirma o professor aposentado de História Contemporânea da Universidade de Brasília (UnB).

“Este é o diferencial do dia 25 de janeiro: a grande frente ampla que se formou em torno desse objetivo, que era exatamente fazer com que o país retornasse às eleições presidenciais diretas”

O que se seguiu foram quatro meses de intensa mobilização e dezenas de comícios. Os dois últimos antes da votação da emenda no Congresso, em 25 de abril, reuniram 1 milhão de pessoas na Candelária, no Rio, em 10 de abril, e 1,5 milhão no vale do Anhangabaú, em São Paulo, no dia 16.

Eram necessários 320 votos (dois terços dos deputados) para que a emenda Dante Oliveira fosse aprovada. Foram 298 votos a favor, 25 contra e 112 ausências. Por 22 votos, o Congresso Nacional virou as costas para a vontade popular.

Mas a maior mobilização popular do Brasil no século XX não foi em vão. Em 1985, por meio de eleições indiretas, Tancredo Neves, candidato da Aliança Democrática, vence Paulo Maluf, ex-prefeito de São Paulo e candidato do antigo regime, o PDS, por 480 votos contra 180, e é eleito o primeiro presidente civil após o golpe de 1964.

"Esse movimento de certa maneira fez desabrochar na sociedade brasileira a vontade de se manifestar. Ao dizer 'eu quero votar para presidente', ela está querendo afirmar 'eu quero participar da cidadania política do Brasil'. E isso continua na ordem do dia", explica Barbosa.

"Em 8 de janeiro de 2023, houve uma terrível tentativa de golpear a democracia. Algo como as Diretas Já tem que estar na agenda para ser lembrada sempre, e assim consolidar a nossa democracia", conclui.

O Brasil volta, enfim, a escolher seu presidente por voto popular direto somente em 1989. O processo, mesmo questionado, não foi mais interrompido.

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