MPF investiga participação do Banco do Brasil no comércio de escravos no século 19
Inquérito foi aberto a partir de um estudo feito por um grupo de pesquisadores de universidades
O Ministério Público Federal (MPF) vai investigar a participação do Banco do Brasil no tráfico de pessoas negras escravizadas no século 19. Um inquérito foi aberto a partir de um estudo feito por um grupo de pesquisadores de universidades brasileiras e estrangeiras.
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No Cais do Valongo, zona portuária do Rio de Janeiro. Por lá, desembarcaram mais de 1 milhão de negros que seriam escravizados. Em 1831, o Brasil proibiu o comércio internacional de escravos, e esse cais foi fechado.
Mesmo assim, o tráfico de africanos continuou, gerando lucro inclusive para empresas nacionais. Algumas delas ainda existem, entre elas está o Banco do Brasil, segundo o MPF, que apura as responsabilidades da instituição financeira durante à escravidão.
O documento cita José Bernardino de Sá, um barão e visconde que, entre 1821 e 1851, foi responsável por 50 viagens negreiras para o Brasil. O maior traficante do país era também o principal acionista do banco à época.
"A singularidade desse caso está em olhar pra esse passado pra gente não normalizar a gravidade de que foi as instituições do estado brasileiro terem sido construídas à base da exploração do tráfico dos escravizados e da escravidão", afirma o procurador José Júlio, do MPRJ.
O inquérito é baseado em um estudo assinado por 15 pesquisadores de universidades brasileiras e estrangeiras. "O dinheiro que entrava no banco era um dinheiro vindo da escravidão", afirma Thiago Campos, historiador da Universidade Federal Fluminense (UFF).
O Banco do Brasil tem 20 dias para se manifestar sobre o inquérito. Em nota, a instituição afirmou que a história do país e suas relações com a escravidão das comunidades negras precisam ser um processo de reflexão permanente e entende que essa é uma responsabilidade de toda sociedade.
"É uma instituição que tem capacidade e responsabilidade corporativa e capacidade de dar uma resposta a sociedade brasileira", afirma Hebe Mattos, historiadora da UFF.