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Setembro amarelo: "Mais importante do que falar de suicídio, é saber como falar", defende psicóloga

No Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, psicólogas defendem cautela quanto ao assunto e valorização de profissionais

Setembro amarelo: "Mais importante do que falar de suicídio, é saber como falar", defende psicóloga
cartaz do setembro amarelo
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Neste domingo (10.set), comemora-se o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Por conta dessa data, setembro, além de ser marcado pela cor amarela, é também um mês de debate sobre questões acerca da saúde mental.

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De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), o suicídio é a principal causa de morte do mundo todo. O índice supera o número de pessoas que morreram por conta de HIV, malária ou câncer de mama, por exemplo.

Só entre jovens de 15 a 29 anos, o suicídio foi a quarta causa de morte, ficando atrás somente de acidentes de trânsito, doenças respiratórias e violência interpessoal.

Tabu

Os dados escancaram a gravidade da situação, apesar de o assunto ainda ser tratado como tabu por parte da sociedade. A psicóloga e neuropsicóloga Andressa Nicoli explica que o suicídio ainda é visto assim porque, entre outras coisas, não se dá a devida importância à questão de saúde mental. "As pessoas só buscam ajuda [psicológica] quando já estão no ápice", declara a profissional.

Ela ainda comenta que há o estigma do "louco" em torno da saúde mental. "A gente procura um médico quando quer fazer um check-up, quando está com dor de dente, a gente procura o dentista, mas quando a gente fala de sofrimento psíquico, aí a gente é louco", explica.

Thais Rades, doutora em psicologia da educação pela PUC-SP, acrescenta que "depois da pandemia da Covid-19, esse tabu está diminuindo, porque os sintomas das doenças ligadas à saúde mental começaram ficar mais evidentes". Com isso, a sociedade está aceitando melhor esse debate e entendendo ser uma questão que "engloba aspectos físicos, mentais e de condições sociais", explica Rades.

Falta de informação

Ambas as especialistas concordam que, para quebrar esse tabu, é necessário o acesso à informação de qualidade para se debater sobre o tema da melhor maneira possível. Para Andressa Nicoli, "a falta de informação é o grande X da questão do tabu", até porque falta compreender o que, de fato, é a saúde mental e as questões que ela envolve.

A psicóloga Thais Rades vai além e acrescenta que esse cenário pode ser revertido através da educação. "A educação é a chave para qualquer mudança social. Começando por boas práticas pedagógicas que levem esse tema na educação básica", finaliza.

Cautela

É justamente por essa falta de informação que falar de suicídio e saúde mental pode prejudicar o bem-estar de pessoas que sofrem com distúrbios psicológicos ou, até mesmo, aqueles que perderam familiares ou amigos por conta de transtornos psíquicos. A neuropsicóloga defende que, mais importante do que falar de suicídio, é saber como falar.

"A gente precisa sim falar sobre suicídio, sobre prevenção. Mas tem que ser passado de uma forma adequada, de uma forma coerente por profissionais qualificados e capacitados para isso", explica.

A profissional defende que é preciso ter cautela e que isso não pode ser motivo para a sociedade e o poder público deixarem de debater sobre a prevenção ao suicídio.

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Setembro amarelo

O Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio e a campanha do Setembro Amarelo têm uma relevância ímpar, já que auxiliam na quebra do tabu, além de "lembrarem" sobre o assunto. A doutora Rades comenta que "muitas vezes somos engolidos pelas atividades do dia a dia e nos esquecemos de olhar para nossa saúde. Especificamente a campanha de prevenção ao suicídio nos faz lembrar sobre a saúde mental".

Andressa Nicoli, no entanto, faz um alerta: o mês de setembro pode ser dolorido às pessoas que sofrem com algum transtorno psicológico, isso porque elas podem se sentir "lembradas" somente durante um mês e no restante do ano, não. Sendo assim, é importante que a sociedade esteja conscientizada sobre a importância da saúde nos 12 meses do ano.

O CVV

A campanha do Setembro Amarelo foi implementada no Brasil em 2015. Entretanto, a preocupação dos brasileiros com a saúde mental vem de anos antes e está crescendo cada vez mais.

O CVV, Centro de Valorização da Vida, por exemplo, existe há mais de 60 anos e há oito anos mantém com o Ministério da Saúde um "termo de cooperação para a implantação de uma linha gratuita nacional de prevenção do suicídio", conforme a própria instituição informa.

O CVV é uma associação filantrópica que presta serviço voluntário de apoio emocional através de ligações, por chat, e-mail e até pessoalmente. Nesse segundo trimestre de 2023, os voluntários do CVV atenderam cerca de 650 mil ligações. Elas têm uma média de tempo de cerca de 8 minutos. Entretanto, algumas passam de uma hora, dependente da necessidade de quem liga e da disponibilidade de voluntários.

Isso é o que mostra o Relatório de Atividades Nacionais do CVV do 2º trimestre de 2023. O documento também aponta que os estados que mais utilizaram o 188 nesse período, por número de habitantes, foram Paraíba, Rio Grande do Norte e Distrito Federal. Enquanto as UFs com menor índice de ligações foram Rondônia, Tocantins, Acre, Roraima e Amapá.

Saúde mental no Brasil

A doutora Thaís Rades explica que existem "muitos projetos públicos, privados e do terceiro setor que atuam na saúde mental, porém ainda não são suficientes para dar conta da demanda". Mesmo assim, ela destaca que existem, sim, políticas públicas de qualidade no Brasil, principalmente no SUS.

"Implementar com qualidade esse projeto necessita investimento de dinheiro público e é nesse ponto que acredito ainda termos muito a melhorar. Políticas públicas demandam recursos financeiros bem aplicados e geridos, por exemplo, aumentando o contingente de contratação profissional coerente com o tamanho da população", argumenta Rades.

Para a psicóloga Andressa Nicoli, que já atuou tanto no setor público quanto no privado, o sistema de saúde de hoje pode não ser perfeito, "mas é essencial". "Existem profissionais empenhados, profissionais qualificados, profissionais éticos, competentes em sua na sua atuação", completa. O que o falta, no caso, é a valorização desses profissionais. 

*Estagiária sob supervisão de Felipe Moraes

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