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Duda Salabert: Não queremos censurar, mas Nikolas atacou nossa dignidade

"Vivemos a maior crise social, e me deparo com o deputado que usa peruca pra caricaturar, ridicularizar"

Duda Salabert: Não queremos censurar, mas Nikolas atacou nossa dignidade
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A deputada federal Duda Salabert (PDT-MG) defendeu nesta 5ª feira (9.mar) a cassação do também deputado federal, Nikolas Ferreira (PL-MG), que foi à tribuna no Dia Internacional da Mulher (8.mar) fazer ofensas contra mulheres trans. "Foi um ataque contra a nossa dignidade, contra a nossa condição", disse em entrevista ao SBT News. Ela acionou o Supremo Tribunal Federal (STF), ao lado de outras parlamentares, com uma notícia-crime contra o deputado por transfobia. "Você usar perucas, para ridicularizar, debochar e, pior, promover a violência contra um grupo é um crime de transfobia", disse.

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"Não queremos censurar ninguém. Todo mundo pode falar o que bem entender, só que você tem que se responsabilizar depois pelo que falou", disse a deputada.  

Em 2019, o STF reconheceu a omissão do Congresso Nacional e equiparou homofobia e transfobia como crimes de racismo, com pena de um a três anos de prisão. Duda Salabert foi a primeira mulher trans a ser eleita deputada federal no Brasil, ao lado de Erika Hilton (PSOL-SP).

A parlamentar afirmou que após o episódio no plenário da Câmara, recebeu apoio de deputados "de todos os partidos, de centro, direita e esquerda" que repudiaram a fala de Nikolas. Pelas redes sociais, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) também fez o que chamou de "reprimenda pública" contra o parlamentar do PL. Duda adiantou que a casa legislativa já indica votação favorável à cassação do mandato. "O que se fala na Câmara é que 1/3 dos parlamentares já defendem a cassação do deputado Nikolas Ferreira por quebra de decoro", disse.
 
Salabert contou que num dia de luta e reflexão em torno dos direitos das mulheres, se surpreendeu com a postura do colega na tribuna da Câmara.

"Primeiro, eu fiquei revoltada porque vivemos hoje a maior crise econômica, climática e social no Brasil. E eu me candidatei e fui eleita para superação da crise, e para que o Brasil volte a crescer. E eu me deparo com um parlamentar que sobe na tribuna para fazer um discurso de ódio, usando uma peruca para caricaturar e ridicularizar uma população que foi historicamente alijada e excluída", afirmou.

Duda defende a ampliação do debate e a punição rigorosa no caso como forma de tentar "superar a chaga de um Brasil que há mais de 14 anos lidera o ranking de país que mais mata pessoas transexuais do planeta". Ainda informou que 90% das travestis brasileiras estão na prostituição forçada, graças a um "mercado de trabalho contaminado pelo preconceito histórico que não acolhe essas pessoas", disse ao Poder Expresso.

Educação e visibilidade

A deputada pedetista cobrou apoio do Governo Federal no combate ao discurso de ódio e a polarização no Brasil. Defendeu que não existe democracia onde há ódio e violência, preconceito e lgbtfobia. 

Nesta 5ª feira (9.mar) Salabert teve audiência com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha; nesta 6ª feira (10.mar) será a vez do ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida. "A fim de dar mais robusteza a essa tema que não podemos banalizar e tratar como normal, usar o parlamento para ridicularizar e atacar grupos marginalizados".

Professora há mais de 20 anos, a parlamentar defendeu que "educar é muito mais importante do que punir", no entanto, reconheceu que algumas punições assumem o contorno pedagógico. E sugeriu a educação nas escolas como fomento de combate ao racismo, machismo, lgbtfobia. "É papel da escolas combater qualquer tipo de preconceito. Preconceitos religiosos, preconceitos morais, preconceitos raciais. É dever da escola", disse.

"Não adianta criar uma lei se ela não vier acompanhada de consciência. E o que muda o mundo de fato não são novas leis, são novas consciências, as quais se constrói na sala de aula", conclui. 

Duda acredita que o fato ocorrido na Câmara pode ajudar a colocar o tema em pauta, e priorizar ações e políticas públicas voltadas à população trans.

"Estima-se que mais de 40% da população de pessoas transexuais estão com HIV. Há um número alarmante em Belo Horizonte, que a UFMG mostrou, que 91% das travestis de Belo Horizonte não concluíram o ensino médio porque sofreram inúmeras violências nas escolas e abandonaram as escolas por causa do preconceito num espaço onde inclusive não poderia ter que é um espaço escola". 

Assista à íntegra da entrevista:

+ Poder Expresso: caso Nikolas Ferreira vai ao STF; Duda Salabert defende prisão

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