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Lula: Brasil tem autoridade política para discutir fim da guerra na Ucrânia

Presidente afirmou que o país não fornecerá munição à Alemanha, para ser entregue ao governo ucraniano

Lula: Brasil tem autoridade política para discutir fim da guerra na Ucrânia
Luiz Inácio Lula da Silva
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o Brasil não irá fornecer munição à Alemanha, para ser entregue à Ucrânia, conforme teria sido sugerido pelo chanceler alemão Olaf Scholz, em visita ao país. A declaração foi dada em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, da RedeTV, exibida na noite desta 5ª feira (02.fev).

"O Brasil não pode fornecer, não deve fornecer, e é a melhor posição", defendeu.

Lula argumentou que o uso do armamento no conflito faria com que o país se tornasse parte dele, e que atual interesse do governo brasileiro é na construção da paz.

"Se o Brasil ceder ou vender a sua munição para a Alemanha, e a Alemanha entregar para a Ucrânia, e a Ucrânia atirar e morrer um soldado russo com uma munição fabricada no Brasil, o Brasil entrou na guerra. E nós não queremos que o Brasil entre na guerra".

O petista afirmou que, durante o encontro com presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, no próximo dia 10, irá propor a criação de um grupo de países, que ainda não tenham se envolvido na guerra - com dinheiro ou armamentos -, para tentar encontrar uma solução diplomática para o conflito. Dentre as nações que sentariam à mesa de discussões, Lula citou Índia, Indonésia, México, Argentina e China.

"Ou seja, um grupo de países que pode ter facilidade em conversar tanto com o presidente da Ucrânia quanto com o presidente da Rússia. O que eu acho é que a coisa está muito delicada porque a União Europeia, mesmo sem querer, está dentro da guerra. Então, não tem mais interlocução. Você não vê, no jornal, alguém falando em paz. Quem deveria falar eram os Estados Unidos... ele quer que o Putin saia derrotado. Eu acho que não é necessário que ninguém saia derrotado. O que é necessário é que a humanidade ganhe, e a humanidade vai ganhar quando tiver paz", ponderou.

"O Brasil tem autoridade política de discutir esse assunto, tanto com o Biden, quanto com a Alemanha, a França e, sobretudo, com a China, que eu acho que é uma peça fundamental para a gente encontrar uma solução para essa guerra". 

Além da guerra entre Rússia e Ucrânia, a questão climática e as relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos também estarão na pauta da reunião entre Lula e Biden.


Crise nas Americanas

Questionado pelo jornalista a respeito das reações negativas do mercado às suas falas sobre equilíbrio entre responsabilidade fiscal e social, em contraste com a resposta mais branda do setor em relação à crise nas Americanas, Lula lembrou de declarações anticorrupção do empresário Paulo Lemann, um dos sócios majoritários da companhia, e disparou: "nada como um dia atrás do outro".

"Vai acontecer o que aconteceu com o Eike Batista. Ou seja, as pessoas vendem uma ideia que eles não são, na verdade". 

"Esse [Paulo] Lemann era vendido como o suprassumo do empresário bem-sucedido no planeta terra. Ele era o cara que financiava jovens para estudar em Harvard, para formar um novo governo. Ele era o cara que falava contra a corrupção todos os dias. E depois, ele comete uma fraude que pode chegar a R$ 40 bilhões de reais. E agora, parece que está chegando na Ambev também".

O presidente também criticou o "mau-humor" do mercado em relação às propostas do governo na área social. "O que eu fico chateado, Kennedy, é que qualquer palavra que você fale na área social, qualquer palavra que você fale 'vou aumentar o salário mínimo em R$ 0,10, vamos corrigir o imposto de renda, nós precisamos melhorar os pobres', o mercado fica nervoso, o mercado fica muito irritado. E agora, um deles joga fora R$ 40 bilhões de uma empresa que parecia ser a empresa mais saudável do planeta, e esse mercado não fala nada, ele fica em silêncio". 

"Por que tanto amor pelos grandes e tanto desinteresse pelos menores?"


Alta da Selic e autonomia do Banco Central

A decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central pela manutenção da taxa de juros, a Selic, em 13,75%, na 4ª feira (01.fev), também foi alvo de críticas do presidente.

Lula questionou algumas justificativas apresentadas pelo BC para índice, como a persistência da pressão inflacionária e as incertezas sobre o futuro do arcabouço fiscal do país, e disse que o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, deve explicações.

"O Brasil precisa voltar a crescer. Então, eu acho que a sociedade brasileira, eu vou fazer uma reunião com alguns empresários, pretendo fazer alguma reunião com os bancos, junto com os empresários, para a gente discutir com muita seriedade a taxa de juros neste Brasil. Não existe nenhuma razão para a taxa de juros estar 13,75%".

"Nós somos um país capitalistas em que não tem capital circulando. É preciso colocar o dinheiro para circular. E com juros a 13,5% não é possível"

O chefe do Executivo também minimizou os efeitos positivos da autonomia do Banco Central sobre a economia brasileira, e sinalizou uma possível mudança no regime após o fim da gestão de Campos Neto.

"Isso, para mim, é uma bobagem! Eu fui presidente, 8 anos, da República, e o Meirelles teve toda a autonomia para fazer a política monetária que ele quis fazer. O que acontece é que a gente conversava. E o Brasil deu certo. E esse país, está dando certo? Esse país está crescendo? O povo está melhorando de vida? Não. Então, eu quero saber do que serviu a independência. Eu vou esperar esse cidadão - terminar o mandato dele, para fazer uma avaliação: o que significou o Banco Central independente?", argumentou Lula, acrescentando que, no momento, a elaboração de uma eventual proposta de mudanças "não está na pauta".

"Vamos perguntar para o presidente da Câmara, para o presidente do Senado, se eles estão felizes com a atuação do presidente do Banco Central. Porque eu acho que eles imaginavam que, fazendo o Banco Central autônomo, a economia iria voltar a crescer, os juros iriam baixar, e seria maravilhoso. Não foi", concluiu.

Regulamentação das Redes Sociais

O jornalista questionou Lula a respeito do crescimento da extrema-direita no Brasil e no mundo e, com ele, a disseminação de discursos de ódio e notícias falsas nas redes sociais.

O petista foi enfático em suas críticas a esse fenômeno, fomentado pelas eleições de Donald Trump, nos Estados Unidos, e de Jair Bolsonaro, no Brasil, e disse que as Democracias devem combater narrativas extremistas.

"Falei com o chanceler Olaf , falei com o Macron, e vou falar com todos os líderes. Os setores progressistas e democráticos da sociedade precisam se preparar para construir uma narrativa para desmontar esse discurso atrasado, xenófobo; um discurso que não leva a nada. Nós vamos tentar estabelecer uma discussão na sociedade brasileira, porque nós temos que responsabilizar um pouco as empresas que fomentam", declarou Lula, alegando que as próprias plataformas têm falhado em função de conter a disseminação de conteúdos falsos ou ofensivos.

Lula defendeu uma discussão ampla do tema, com a participação da sociedade e de especialistas no assunto, e de uma regulamentação das plataformas a nível global.

"Acho que a única forma de ter uma regulação é mundial. Não dá para fazer uma regulação apenas em um país".

"É preciso que seja um assunto a ser discutido no G20. O Biden derrotou o Trump, mas não derrotou a extrema direita, ela está viva. Aqui no Brasil, a gente derrotou o Bolsonaro, mas ainda é preciso derrotar o bolsonarismo. Que é aquele fanático, aquele que acredita em tudo, aquele que ofende as pessoas".

Crise Yanomami

A respeito da responsabilização de Jair Bolsonaro na crise sanitária e humanitária no território Yanomami, em Roraima, Lula foi enfático ao defender uma acusação por genocídio, e lembrou da postura do ex-chefe do ex-presidente durante a pandemia da covid-19.

"Ele [Bolsonaro] deve ser julgado por genocídio não apenas no caso Yanomami, no caso do covid-19"

"Ele foi um presidente que se colocou contra tudo que é cientista neste país. Ele se colocou contra praticamente todo mundo que clamava para que a gente comprasse a vacina rápido e clamava para que o governo fizesse publicidade da necessidade de tomar vacina. Ele não, ele fez o contrário. Ele preferiu comprar cloroquina. Ele preferiu falar que as pessoas viravam jacaré. Ele disse as maiores barbaridades. Por isso, eu tenho chamado ele de genocida", argumentou Lula, citando ainda ataques do ex-presidente contra o Supremo Tribunal Federal, e até contra líderes de outras países, como o presidente da França, Emmanuel Macron, e a primeira-dama francesa.

"Eu acho que, em algum momento, o Bolsonaro vai ter que ser julgado. Não sei se a pena dele vai ser ficar inelegível ou não, mas ele cometeu crime. Na minha opinião, ele tem que ser julgado por genocídio contra a população vítima do covid e pelo o que aconteceu com os Yanomamis".

O chefe do Executivo afirmou ainda estar convicto de Bolsonaro está envolvido nas invasões aos prédios dos Três Poderes, em Brasília, no dia 08 de janeiro.

"Esse cidadão preparou o golpe. Eles queriam fazer aquela bagunça no dia 1º de janeiro - dia da posse. Mas, eles perceberam que não dava porque tinha polícia e muita gente na rua", observou. "Eu tenho certeza que o Bolsonaro participou ativamente disso, e ainda está tentando participar".

Bolsonarismo nas Forças Armadas

Ainda a respeito dos ataques em Brasília, o presidente comentou sobre o suposto apoio de integrantes das Forças Armadas a iniciativas golpistas, e ponderou que, apesar da grande influência do bolsonarismo dentre os militares, não é possível determinar com certeza se houve conivência.

"Eu não posso afirmar que as Forças Armadas estavam favoráveis a isso. Eu posso garantir que tem gente que não estava. Mas, eu posso garantir que tem muita gente que estava, porque não é possível, houve tempo que  gente não podia pisar na grama, na frente de um quartel, que estava escrito lá: proibido, área militar. E, de repente, ficar deixando as pessoas gritando golpe, durante meses, na frente de um quartel?"

Lula ainda declarou estar satisfeito com a postura do novo comandante do Exército, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, que assumiu o posto em substituição ao Júlio César de Arruda, após as invasões na capital federal.

"Essa é uma coisa que eu estou muito satisfeito com o general Tomás. Ele tem um discurso correto, que é um discurso legalista. Está definido, na Constituição, o papel das Forças Armadas. Ela pode prestar um serviço extraordinário a esse país, que está definido na constituição. E o que ele me disse, textualmente, foi: 'Presidente, nós vamos recuperar as Forças Armadas no cumprimento daquilo que é afirmado pela nossa Constituição", concluiu.

"Eu prefiro que nosso Exército volte a ser o Exército de Caxias, do que esse Exército de Bolsonaro". 

Candidatura à reeleição

Questionado pelo jornalista a respeito de uma possível candidatura à reeleição, em 2026, o presidente avaliou que sua entrada na corrida eleitoral de 2022 só ocorreu devido à necessidade de fazer oposição a Jair Bolsonaro, mas que é preciso uma renovação no quadro político do país.

"Eu tenho consciência que somente a minha candidatura poderia derrotar o Bolsonaro. Não é nenhuma vaidade não, é consciência de que, pelo legado que eu tinha, eu poderia ganhar essas eleições. Agora, o que eu acho é que a gente precisa construir novos candidatos, em 2026. Nós temos gente extraordinária no governo".

Se eu puder afirmar para você agora, eu falo: eu não serei candidato em 2026. Eu vou estar com 81 anos de idade. Eu preciso aproveitar um pouco a minha vida, porque eu tenho 50 anos de vida política. Isso é o que eu posso te dizer agora. 

No entanto, Lula não descartou concorrer a um quarto mandato, caso o cenário político brasileiro, em 2026, se assemelhe ao da gestão anterior. O único empecilho, nesse caso, seriam suas condições de saúde.

"Se chegar em um momento em que tiver uma situação delicada, e eu estiver com saúde, porque eu também só posso ser candidato se eu estiver com saúde perfeita; com 81 anos de idade, energia de 40 e tesão de 30, aí eu posso. Se não, nós temos gente extraordinária, nós temos vários governadores fantásticos que estão participando do governo. Nós temos o Rui Costa, nós temos Wellington [Dias], nós temos o Camilo [Santana], nós temos o Flávio Dino, nós temos o Renanzinho [Renan Filho], nós temos gente da maior qualidade".

"Todo mundo quer que o país volte a crescer. E todo mundo quer se projetar nacionalmente. E eu vou contribuir para isso. Eu vou contribuir para que surjam muitas e novas lideranças, para que o Brasil nunca mais vote em um psicopata para ser presidente do Brasil", concluiu Lula. 

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