Ícone da TV brasileira, Glória Maria é inspiração para jornalistas negras
Joyce Ribeiro, da TV Cultura, e Cynthia Martins, da TV Bandeirantes, enaltecem o legado da apresentadora
Glória Maria é um ícone não só para a televisão brasileira. Especialmente para as jornalistas negras, a repórter foi uma inspiração. O SBT News conversou com duas profissionais que seguiram os passos de Glória, para entender a importância da repórter que abriu caminho para a visibilidade das jornalistas negras.
+ Leia as últimas notícias no portal SBT News
Cynthia Martins, jornalista da TV Bandeirantes, começou lembrando que cresceu no mesmo bairro que Glória Maria, no subúrbio do Rio de Janeiro. "Ela foi criada entre Oswaldo Cruz e Madureira, bairro no qual eu morei a minha vida inteira. Eu cheguei a Oswaldo Cruz com 5 anos de idade e ouvia histórias de moradores mais velhos [sobre ela]".
"Eu tenho a sorte de ter a cor da pele de Glória Maria, de ter a profissão de Glória Maria e de ter crescido no mesmo bairro que Glória Maria", afirmou Cynthia.
"Essa é a Glória Maria de Oswaldo Cruz". A jornalista contou que quando escolheu seguir na carreira, ouvia de parentes e amigos comparações com a repórter.
"Quando eu estava na faculdade, meus parentes falavam isso, meus pais falavam isso, ou seja, ela é sinônimo de jornalismo, ela é sinônimo de pessoas pretas na TV", disse ela.
Cynthia também falou sobre o grupo 'Herdeiras da Glória Maria', criado por jornalistas negras, em um aplicativo de mensagens, para troca de afeto e de experiências entre elas. "Não tinha outro nome, né? Foi essa mulher que abriu os caminhos para que a gente estivesse aqui", pontuou.
"Ela foi a primeira, a pioneira, a mulher que fez a gente sonhar". Foi assim que Cynthia definiu o pioneirismo de Glória Maria. E não é para menos. A jornalista foi a primeira pessoa negra a conquistar espaço, diante das câmeras, no telejornalismo.
"A gente pode dizer que sem ela o nosso caminho teria sido completamente diferente. A minha geração é, sem dúvida, fruto dessa abertura de caminho, dessa ousadia, dessa mulher que só precisou de uma oportunidade. Ela só precisou de uma oportunidade e mostrou que ela é e sempre vai ser uma das maiores da história desse país", completou.
Sobre o futuro do jornalismo, Cynthia sonha com o DNA de Glória Maria cada vez mais presente. "Talvez nem ela soubesse o tamanho que tem, mas eu espero que a gente consiga inspirar uma outra menina negra, em algum lugar, e entender que no DNA dessa menina vai ter o DNA de Glória Maria".
Inspiração
A jornalista e escritora Joyce Ribeiro, lembra a emoção que sentiu ao ser premiada "no mesmo dia e no mesmo evento que Glória Maria". O trabalho de ambas foi celebrado no Prêmio Raça Negra, em 2009, momento que ficou registrado em foto e na memória, como conta Joyce.
"Sendo muito fã, estar no palco com ela, recebendo um prêmio que valorizava aquilo que a gente produzia como jornalistas, foi mais do que importante para mim. Um momento, uma imagem, que eu vou guardar também para sempre, porque a caminhada da Glória Maria, além da profissional incrível que ela sempre foi, trazia pra gente também um olhar de inovação, de ineditismo, de novidades, dentro de toda a produção possível no jornalismo.", disse
A admiração já era de longa data. Apresentadora da TV Cultura, Joyce salienta como o pioneirismo de Glória Maria lhe trouxe a oportunidade de acreditar que escolher esse caminho do jornalismo era possível.
"A Glória Maria foi fundamental na minha escolha. Eu digo que ela foi mais do que uma referência e mais do que uma inspiração, claro que foi tudo isso, mas Glória Maria trouxe para realidade aquilo que eu tinha só como uma possibilidade de sonho, de algo que estava muito distante de mim.", afirma. "Vê-la, assistir à Glória Maria, ser muito fã das reportagens que ela sempre fez, fez com que a possibilidade de me tornar jornalista fosse real na minha vida."
Mais do que inspiração por sua representatividade e pioneirismo, a facilidade na qual Glória Maria foi mudando, se adaptando e se aprimorando ao longo das décadas, segundo Joyce, só reforça o porquê da jornalista ter se tornado um ícone da televisão brasileira. É um legado que ficará para as gerações futuras, avalia.
"Fica essa imagem, dessa mulher realizadora, dessa mulher desbravadora, corajosa, que abriu portas para muitas outras mulheres, muitas outras profissionais, sobre tudo profissionais negras, que um dia pensaram em trilhar o jornalismo e as áreas de comunicação, por conta da Glória Maria, por ter assistido Glória Maria, por ter mergulhado nas histórias que ela contava."
"É essa imagem que vai ficar: de uma super profissional, de uma realizadora, e de uma pessoa que trouxe muitas outras para esse segmento, por conta da coragem que ela teve de desbravar inicialmente.", completa.
