Policial da PRF ensina a asfixiar detento com gás de pimenta: "Tortura!"
Vídeo de aula em cursinho preparatório foi resgatado por internautas após a morte de Genivaldo de Jesus
Após a morte por asfixia de Genivaldo de Jesus Santos em uma viatura da Polícia Rodoviária Federal (PRF), além da operação com participação da PRF que terminou na morte de 23 pessoas na Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro, internautas resgataram um vídeo em que um policial rodoviário que dá aulas em um curso preparatório para ingresso na corporação ensina a trancar pessoas no porta-malas de viaturas e asfixiá-las com spray de pimenta.
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Na gravação, o policial Ronaldo Bandeira insinua que a prática foi adotada para conter uma pessoa que batia na parte interna da viatura. Ele brinca com a situação e é acompanhado por risos da plateia. "F***-se, é bom pra ca*****. A pessoa fica mansinha", diz. Ele ainda afirma que a suposta pessoa detida grita que vai morrer, e ironiza: "Tortura!".
Professor e PRF - Ronaldo Bandeira... Tortura é diversão? pic.twitter.com/gCOEupErY2
? Polícia Do Povo? (@PoliciadoPovo) May 27, 2022
Em entrevista à BBC Brasil, Bandeira, que é policial rodoviário há 11 anos e atua em Santa Catarina, diz que o vídeo é de 2016 e que foi "descontextualizado, recortado". Ele também nega algum dia ter cometido ou presenciado tortura na PRF.
"Era somente um exemplo fictício. Quero deixar isso bem claro. Em nenhum momento eu fiz isso na prática ou corroborei com isso na prática ou me omiti em relação a isso", afirmou. O policial também diz que estava dando um exemplo "do que o aluno não deve fazer para talvez ficar mais elucidativo" em uma aula sobre a lei 9455, que define os crimes de tortura. "Até porque no final do vídeo eu deixo claro: 'Gente, é uma brincadeira'. Eu nunca fiz isso e não corroboro com isso."
Em relação às risadas e à forma irônica com a qual narra a situação no vídeo, o policial alega que era "uma aula descontraída". Sobre o caso de Genivaldo de Jesus, ele diz não poder comentar, mas vê "uma infeliz coincidência" com sua aula. "Não me lembro por que o motivo da risada, o motivo da ironia, o motivo do sarcasmo, mas não é algo que eu corroboro", acrescentou Bandeira que, após a repercussão das imagens, excluiu sua conta no Instagram.
À época do vídeo difundido nas redes sociais, Bandeira dava aulas no AlfaCon Concursos Públicos. Em nota, a instituição diz que "repudia qualquer tipo de violência, seja física ou psicológica, contra civis" e que "não compactua com as informações, que não condizem com as políticas e os valores da companhia". Ressalta ainda que o policial não faz parte de seu quadro de professores desde 2018.
Hoje, Bandeira tem a própria empresa de cursos, a RB Carreiras Policiais. No site da instituição, há um aviso -- sem data especificada -- de que "a plataforma de hospedagem de vídeos está passando por uma atualização, algumas aulas podem estar fora do ar". A reportagem não conseguiu contato telefônico com a empresa e aguarda reposta de um contato por e-mail.