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Palmares quer colocar obras em "Museu da Vergonha"; historiador critica

Presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo, disse que desistiu de doar parte do acervo

Palmares quer colocar obras em "Museu da Vergonha"; historiador critica
Presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo segura relatório sobre livros a serem excluídas de acervo (Reprodução/Twitter)
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O presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo, anunciou na 3ª feira (3.ago) que utilizará parte do acervo do órgão para montar um chamado "Museu da Vergonha". As obras a serem destinadas ao local são as mesmas que Camargo pretendia excluir desde junho deste ano.

"Liminar da esquerda, deferida pela Justiça Federal do Rio, impede a Palmares de doar livros marxistas e bandidólatras. Foi uma benção. Os livros vão integrar o futuro Museu da Vergonha ou Museu do Aparelhamento. Obrigado, [deputado federal] Marcelo Freixo, pela iniciativa de pedir a liminar", escreveu há um dia no Twitter. A decisão judicial a que ele se refere foi promulgada ainda em junho pelo juiz Erik Wolkart, da 2ª Vara Federal de São Gonçalo (RJ). Na ocasião, o magistrado pontuou: "a despeito da autonomia da Fundação, bem como da separação dos Poderes, entendo que a desmobilização de parcela relevante do acervo da mencionada entidade deva passar por uma discussão mais ampla e plural".

Também à época, o presidente da Palmares disse que um recurso seria procolocado. Agora, porém, afirma não querer "mais que livros marxistas e bandidólatras sejam doados, embora nada tenham a ver com nossa missão (cultura)". Ainda na rede social, na 3ª feira, Camargo classificou as obras como "o legado do passado sombrio da Palmares". Já nesta 4ª feira (4.ago), escreveu: "O Museu da Vergonha, na nova sede da Palmares, exibirá para a sociedade o nefasto legado dos 30 anos de gestões de esquerda na instituição (comunismo, bandidolatria, perversões e bizarrias)".

Por outro lado, o historiador, professor da Universidade Estadual de Maringá e integrante da diretoria da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN), Delton Aparecido Felipe, critica a ação. Segundo ele, "esse Museu da Vergonha é nada mais, nada menos, do que uma estratégia do atual presidente da Fundação para mais uma vez desmoralizar aquilo que vai contra ou aquilo que ele entende que não apoia os ideários dele". O historiador pontua que, apesar de Camargo classificar as obras como sendo relacionadas à esquerda, a definição para o termo que defende "foge de qualquer estudioso". "Para ele, qualquer pessoa que discorde deles, que discorde do posicionamento deles, é visto como esquerda", completa.

As obras, em suas palavras, "são consagradas na historiografia, são consagradas no pensamento social brasileiro". "As pessoas podem até discordar delas, mas entendem que elas devem ser lidas para compreender o mundo e o Brasil", completa. Dessa forma, Delton acredita que, assim como ocorreu após o anúncio de que o material seria excluído do acervo da Palmares, agora com a decisão de criar o museu, a ABPN e outros coletivos negros acionarão o Judiciário para tentar impedi-la de ser levada adiante "e o Museu da Vergonha não sobreviverá por muito tempo, afinal de contas um gestor público não pode fazer isso, não é assim que se gere o bem público".

"Nós sabemos, ele pode até discordar, mas ele não pode literalmente depreciar um bem público porque não concorda com ele", acrescenta. O historiador diz ainda que, em seu entendimento, ao falar sobre a criação de um Museu da Vergonha, Camargo conversa apenas com um público que já "é negacionista, inclusive negando o racismo no Brasil". No dia 30 de junho, a Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados realizou uma diligência nas instalações da Fundação Cultural Palmares para conferir a conservação do acervo do órgão e afirmou ter encontrado negligência na situação das obras. Além disso, documentos da história brasileira, como relatos do Quilombo dos Palmares, não foram achados.

Para esta 4ª, segundo Sérgio Camargo, estava prevista uma nova diligência, mas que acabou sendo adiada para 5ª feira (5.ago). A Comissão deverá visitar a Fundação na 6ª feira (6.ago) também. Em outra publicação no Twitter, o presidente do órgão disse que as obras a serem colocadas no Museu da Vergonha vêm "recebendo tratamento VIP" e incluiu fotos que mostram a sala onde elas estariam atualmente; na entrada do local, há a identificação "Acervo da Vergonha", acompanhada de símbolos do comunismo.

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