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Metade das mães da favela tem dificuldade para brincar com os filhos

Na pandemia, com a restrição de funcionamento das escolas, mais crianças passaram a brincar em casa

Metade das mães da favela tem dificuldade para brincar com os filhos
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Mães que moram em favelas de todo o Brasil relatam que o tempo se tornou ainda mais escasso durante a pandemia e que isso influencia na disponibilidade para brincar com os filhos. Além disso, para 68% das mães, existe uma grande dificuldade em cuidar da casa e das crianças ao mesmo tempo. Os dados são do estudo O brincar nas favelas brasileiras, divulgado nesta 6ª feira (28.mai) e realizado pelo Data Favela e pelo Instituto Locomotiva, em parceria com o Movimento Unidos Pelo Brincar. Foram ouvidas 816 mães de crianças de 0 a seis anos, moradoras de favelas de todo o país. Quase 8 em cada dez dessas mães declararam-se chefes de família.

A maioria das mães concorda que as brincadeiras no geral trazem aprendizados para as crianças, no entanto, há a percepção de que brincar na escola ensina mais do que o 'livre brincar'. A questão é que, com as escolas funcionando com restrições, esse espaço para brincadeiras foi substituído - com o isolamento social, elas passaram a acontecer do portão de casa para dentro. O estudo mostra que, antes da pandemia, os principais locais de brincadeira eram a casa (63%) e a escola (50%). Agora, 85% das crianças brincam em casa e apenas 9% na escola.

O levantamento ainda aponta que, tanto para as mães que já ficavam em casa como para aquelas que passaram a ficar, o maior tempo de convivência com os filhos não as levou, necessariamente, a participar de forma mais ativa nos momentos de brincadeira. Isso porque a lista de afazeres domésticos é extensa.

Thais Santos da Costa, 26 anos, mora na favela de Heliópolis, em São Paulo, e corre contra o tempo para chegar no fim do dia com os tarefas concluídas. Desempregada e mãe de duas meninas - de 5 anos e de 1 ano -, ela diz que tem buscado explicar a situação atual para as crianças para evitar que se revoltem por não poder brincar como antes. "A mais velha sempre me pergunta por que não podemos mais andar de bicicleta na rua ou ir ao parque. Eu falo que, quando o coronavírus for embora, a nossa vida vai voltar ao normal. Enquanto isso, ela precisa ter paciência", relata.

Tempo cronometrado

Desdobrar-se para encontrar um jeito de conciliar trabalho, cuidados com os filhos e com a casa virou rotina de muitas mães - não só as que vivem em favelas. "A maioria (das mães da favela) trabalha no mercado informal, e conciliar todas as tarefas tem sido um desafio nesse período. É uma jornada dupla em último nível. E apesar das mães terem muita consciência sobre a importância do brincar, muitas acabam não conseguindo realizar essas atividades e delegam para os filhos mais velhos essa função, que acabam cumprindo um papel próximo ao de um cuidador, o que prejudica a infância", observa Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva e fundador do Data Favela.

Com o tempo apertado e com outras prioridades em mente, as mães acabam deixando de lado o cuidado consigo mesmas (86% dizem ter dificuldade em arrumar tempo para si). Foi o que aconteceu com a Thaís: "Sinto falta de separar um tempinho só para mim, para cuidar dos meus cabelos ou mesmo para ficar sem fazer nada", brinca. Antes da pandemia, Thaís era balconista e hoje assumiu todas as atividades domésticas, ainda mais porque a mãe, que mora com ela, perdeu a visão recentemente e não consegue auxiliá-la como antes.

Mergulhadas nos afazeres, 88% das mães recorrem às telas como apoio para entreter os filhos (seja televisão ou celular).

O medo que impede o brincar

Os desafios vividos nas favelas vão além da questão da falta de estrutura (para 29% das mães, as favelas carecem de espaços de lazer para as crianças). Quando existem quadras e praças com brinquedos, 72% das famílias temem que os filhos usem por conta da presença de usuários de drogas e 64% relatam receio da violência na comunidade. "Essas mães ficam entre escolher manter os filhos brincando em 20 m², dentro de casa, ou correr o risco de deixar brincar na rua", analisa Renato Meirelles.  

Uma outra opção seria acessar parques e zoológicos de outros bairros, o que é inviável financeiramente por conta dos gastos com transporte e, algumas vezes, ingressos.

Diante de tantas mudanças e medos, Thaís não perde a esperança: "Meu sonho é que, em breve, eu possa levar minhas filhas para museus e parques e mostrar que valeu a pena passar esse tempo dentro de casa, mesmo com toda essa confusão".

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